A Espanha pediu à comunidade internacional que suspenda o envio de armas para Israel, enquanto cresce a condenação internacional sobre a conduta israelense em Gaza.

Em uma reunião do Grupo de Madri, organizada pelo governo espanhol, o ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, pediu a suspensão imediata do acordo de cooperação da Europa com Israel e um embargo ao envio de armas.

“Todos nós devemos concordar com um embargo conjunto de armas”, disse Albares antes da conferência. “A última coisa de que o Oriente Médio precisa agora é de armas.”

Entre os participantes da reunião, estavam representantes de Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Egito, Jordânia, Arábia Saudita, Turquia, Marrocos e Brasil, além de várias organizações intergovernamentais. No entanto, apenas uma fração das nações representadas na reunião do Grupo de Madri de fato fornece armamentos a Israel.

Israel também é um dos maiores exportadores de armas do mundo, portanto, também possui um poderoso suprimento interno de armamentos. Em março, o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri) informou que Israel é o 15º maior importador de armas do mundo, apesar de estar ativamente envolvido em conflitos, respondendo por menos de 2% das importações globais. As importações israelenses também caíram cerca de 2,3% nos últimos cinco anos, em comparação com o período anterior.

Crucialmente, três nações são responsáveis por quase todo o suprimento de armas de Israel: Estados Unidos, Alemanha e Itália.

Os EUA são o maior fornecedor de armas de Israel

De longe, os EUA são o maior fornecedor de armas para Israel, tanto desde os ataques de 7 de outubro de 2023 quanto historicamente. Embora seu fornecimento proporcional tenha diminuído na última década, ainda representou cerca de dois terços das importações de Israel de 2020 a 2024, de acordo com o Sipri. Incluindo aeronaves, veículos blindados e bombas guiadas.

Israel também é o principal destinatário da ajuda dos EUA historicamente, de acordo com o think tank Conselho de Relações Exteriores (CFR, na sigla em inglês), sediado nos EUA.

Além de uma contribuição econômica substancial entre 1946 e 2024, Israel recebeu 228 bilhões de dólares (quase 1,3 trilhão de reais) em apoio militar dos EUA.

Atualmente, a maior parte da ajuda externa dos EUA a Israel consiste em gastos militares. Isso inclui um acordo existente para fornecer 3,8 bilhões de dólares em apoio até 2028. A maior parte da ajuda fornecida pelos EUA deve ser gasta na compra de equipamentos e serviços militares americanos, de acordo com o CFR.

É improvável que os EUA mudem seu apoio a Israel. As tentativas lideradas pelo senador Bernie Sanders de reter bilhões em vendas militares a Israel foram rejeitadas pelo Senado dos EUA em abril de 2025 e novembro de 2024.

Alemanha continua fornecimento

A Alemanha é uma apoiadora diplomática e militar de longa data de Israel. De 2020 a 2024, o país foi responsável por cerca de um terço do fornecimento de armas a Israel, principalmente fragatas navais e torpedos.

O pesquisador do Sipri Zain Hussain, disse à DW por e-mail que “Israel tem recebido da Alemanha capacidades navais”, e que Israel tem uma encomenda de submarino do país europeu que está chegando.

O fornecimento de armas da Alemanha para Israel também inclui veículos blindados, caminhões, armas antitanque e munição. E é improvável que isso mude, apesar dos apelos da Espanha por um embargo.

“Como um país que entende a segurança e a existência de Israel como um princípio fundamental, a Alemanha é sempre obrigada a ajudar Israel”, disse na última segunda-feira 26 o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Johann Wadephul.

Esses comentários foram feitos quando o chanceler alemão Friedrich Merz disse à emissora pública WDR que “não entende mais” o objetivo de Israel em Gaza e que as ações do país “não podem mais ser justificadas por uma luta contra o Hamas”.

Apesar do comentário de Merz, qualquer restrição futura ao fornecimento de armas da Alemanha seria um desenvolvimento significativo. A Alemanha forneceu mais de 131 milhões de euros em exportações de armas em 2024, de acordo com estatísticas do governo. O valor em 2023 foi de 326 milhões de euros.

Itália responde por 1% das armas de Israel

A Itália contribui com cerca de 1% das armas de Israel. Mas, pela lei italiana, está proibida de fazer isso devido ao conflito.

O governo italiano tem criticado as ações de Israel, mas reportagens no ano passado revelaram que Roma continuou a fornecer a Israel após o início das hostilidades em outubro de 2023. Isso supostamente incluiu 2,1 milhões de euros no último trimestre de 2023, quando a ofensiva de Israel estava em andamento. Isso ocorreu apesar das garantias do governo italiano de que as remessas haviam cessado.

A análise realizada nas contas do governo pela agência de notícias italiana Altreconomia revelou que a Itália forneceu 5,2 milhões de euros em armas para Israel no ano passado.

Algumas nações da UE reduziram exportações

Israel não tem escassez de armamentos, sejam eles produzidos internamente ou por meio de seus principais apoiadores. Apesar da pressão das nações europeias para adotar um embargo de armas, Hussain disse que o bloqueio mais eficaz exigiria que os principais fornecedores de armamentos de Israel se unissem.

“Os EUA e a Alemanha são os fornecedores mais importantes de armas importantes para Israel. Para que haja pressão máxima sobre as principais capacidades de armamento de Israel, esses países teriam que estar envolvidos em um embargo de armas”, disse Hussain.

Algumas nações europeias interromperam o fornecimento de armamentos ou suspenderam as licenças de exportação. Entre elas estão a França, a Espanha e o Reino Unido, embora suas contribuições sejam inferiores a 0,1% do consumo total de Israel. No entanto, um estudo dos dados comerciais do Reino Unido, citado pelo jornal britânico The Guardian em maio, descobriu que o país enviou a Israel milhares de itens militares, apesar da proibição de exportação.

Seria necessária uma grande mudança na política externa dos EUA para que a Alemanha atendesse ao apelo da Espanha, disse Catherine Gegout, pesquisadora de relações internacionais da Universidade de Nottingham, no Reino Unido.

“Acho que haveria muito mais pressão sobre a Alemanha se os EUA também mudassem”, disse Gegout à DW. “Mas não tenho certeza se o restante dos países da UE [que se opõem às armas] será suficiente para mudar essa relação especial com Israel.”

Apesar do compromisso de longa data da Alemanha com Israel, Gegout disse que o fornecimento contínuo de armas por Berlim está se tornando um problema para a União Europeia.

“Acho que é um problema gigantesco para a UE o fato de a Alemanha estar fornecendo tantas armas”, disse Gegout.

Ela afirmou que a tentativa da Espanha de implementar um embargo de armas serve tanto a um propósito direto quanto simbólico para países que possam se opor às atividades de Israel em Gaza.

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Last Update: 30/05/2025