Cardeais devem buscar um sucessor que consiga restaurar a calma após anos de polarização ideológica na Igreja Católica.
ROMA — Da última vez que os cardeais da Igreja Católica escolheram um papa, buscavam um outsider para reformar um Vaticano assolado por escândalos. Com Francisco, acabaram obtendo um disruptor mais radical do que muitos imaginavam.
Após um turbulento pontificado de 12 anos, alguns cardeais agora dizem querer um sucessor que traga estabilidade e reduza as tensões entre progressistas e conservadores em temas como divórcio, relações homoafetivas, celibato sacerdotal e outras questões controversas.
“Muitos cardeais estão cansados da montanha-russa que foi este pontificado. Eles buscarão estabilidade”, disse Massimo Faggioli, historiador da Igreja na Universidade de Villanova.
Francisco nomeou 108 dos 135 cardeais eleitores, o que torna improvável que a maioria rejeite seus esforços para aproximar a Igreja dos fiéis comuns, especialmente os pobres e marginalizados, dando ênfase ao papel pastoral em vez da rigidez doutrinária.

Apenas um pequeno grupo de cardeais tradicionalistas deseja retornar a um papado que imponha ortodoxia universal em questões de moralidade sexual e de gênero, como fazia Bento XVI.
Mas uma minoria maior de conservadores moderados pode barrar candidatos vistos como radicais em temas como ordenação de mulheres, celibato sacerdotal e bênçãos a casais do mesmo sexo.
Um cardeal ideologicamente moderado, com habilidade diplomática para unir a Igreja, mantendo o foco pastoral de Francisco, pode ter boas chances.
Muitos cardeais prefeririam um papa carismático, capaz de continuar o diálogo com outras religiões e manter voz ativa em questões políticas e econômicas, como guerras, migração e mudanças climáticas.
O candidato ideal também precisaria de habilidades tecnocráticas para lidar com o crescente déficit orçamentário do Vaticano, um ponto fraco do pontificado de Francisco.
Além disso, ele provavelmente não deveria ser muito jovem, ou seja, bem menos de 70 anos. Os cardeais evitam eleger papas muito novos, temendo pontificados longos demais.
Os alemães têm um nome para uma combinação rara de habilidades: eierlegende Wollmilchsau, ou “uma porca que bota ovos e produz lã e leite”.
Nenhum dos papáveis preenche todos os requisitos, tornando este conclave um dos mais abertos da história recente.
Aqui estão dez dos principais candidatos, embora especialistas digam que a lista pode ser o dobro, e uma escolha inesperada não está descartada.
Cardeal Pietro Parolin
O italiano de 70 anos é secretário de Estado do Vaticano, equivalente a primeiro-ministro. Com contatos globais e habilidades diplomáticas, é um forte candidato. Representaria continuidade, mas seu relacionamento distante com Francisco pode agradar céticos. Sua falta de carisma e o estado instável das finanças do Vaticano, incluindo perdas em investimentos imobiliários, podem ser obstáculos. Seu acordo com a China, que deu influência a Pequim na nomeação de bispos, é controverso.

Cardeal Mario Grech
O maltês de 68 anos é um dos principais nomes progressistas. Defende a posição de Francisco sobre comunhão para divorciados recasados e apoia bispos alemães que querem mudanças como a ordenação de mulheres diaconisas. Propõe uma Igreja descentralizada para engajar melhor diferentes culturas. Conservadores alertam que isso pode causar cisma.

Cardeal Péter Erdő
O primaz da Hungria, de 72 anos, é um dos favoritos conservadores. Poliglota e intelectual, pede unidade na Igreja. Seus posicionamentos sobre divórcio, imigração, uniões homoafetivas e missa em latim são tradicionais, mas sem radicalismo. Críticos apontam falta de carisma e popularidade.

Cardeal Luis Antonio Tagle
Conhecido como “Francisco asiático”, o filipino de 67 anos compartilha o foco social de Francisco, mas defende os ensinamentos tradicionais sobre aborto e contracepção. Sua influência diminuiu desde que Francisco o retirou do comando da Caritas Internacional em 2022, após problemas de gestão. Pode ser considerado jovem demais para alguns cardeais.

Cardeal Fridolin Ambongo Besungu
Arcebispo de Kinshasa, o congolês de 65 anos representa a expansão da Igreja na África. Defende justiça social, diálogo inter-religioso e denúncia de injustiças globais. Discordou das orientações de Francisco sobre bênçãos a casais homoafetivos, o que pode agradar conservadores. Sua juventude relativa e inexperiência administrativa são pontos fracos.

Cardeal Robert Francis Prevost
Embora improvável a escolha de um papa americano, o cardeal Prevost, nascido em Chicago, pode ser uma exceção. Missionário e bispo no Peru, tornou-se chefe da Congregação para os Bispos. Aos 69 anos, é visto como azarão. Sua nacionalidade, no entanto, é um obstáculo.

Cardeal Gérald Lacroix
Arcebispo de Quebec, o canadense de 67 anos é alinhado ao espírito pastoral de Francisco. Integra o conselho de cardeais criado por Francisco para reformar a administração da Igreja. Foi inocentado de acusações de abuso sexual no ano passado.

Cardeal Charles Maung Bo
Primeiro cardeal de Mianmar, Bo tem 76 anos e é visto como moderado. Próximo a Francisco, também expressou respeito por Bento XVI. Defende uma Igreja que ouve seus fiéis e se preocupa com o meio ambiente. Conservador discreto, não se envolveu nas guerras culturais eclesiais.

Cardeal Matteo Zuppi
Arcebispo de Bolonha, o italiano de 69 anos é uma escolha progressista. Próximo da comunidade de Sant’Egidio, dedicada a causas sociais, foi encarregado por Francisco de intermediar a paz entre Rússia e Ucrânia em 2023, sem sucesso. Seu perfil de esquerda e limitações linguísticas podem pesar contra ele.

Cardeal Jean-Marc Aveline
Arcebispo de Marselha, o francês de 66 anos é considerado um protegido de Francisco. De origens humildes, defende uma Igreja aberta a marginalizados e ao diálogo com o Islã. Evitou polêmicas públicas em temas divisivos.

Marcus Walker
21 de abril de 2025
The Wall Street Journal