Quem mesmo?… Carlos Gomes?!…
por Izaías Almada
Confesso que não consigo entender o motivo pelo qual a cultura brasileira, passados já quase 130 anos de sua morte, não homenageou ou deu a devida atenção a um de nossos maiores artistas no campo musical: Carlos Gomes.
Será porque compunha óperas e não sambas, baiões ou marchinhas de carnaval? Ou porque era pobre? Porque era mulato? Pela gratidão que tinha à monarquia e à família real brasileira? Contudo, Carlos Gomes ainda é respeitado internacionalmente como sendo grande compositor de óperas…
Tenho guardado comigo um pré-roteiro cinematográfico já procurei por produtores de cinema que, eventualmente, pudessem se interessar em produzir uma longa metragem ou mesmo uma minissérie para os canais streamings. Caminhada que faço há algum tempo…
Leiam o que diz Marcos Góes, o maior biógrafo de Carlos Gomes e seu historiador emérito, em uma de suas obras (Carlos Gomes – A Força Indômita – Edições Secult – Belém do Pará), nos mostrando em um resumo de sua “Advertência” nas páginas. 10 e 11, uma visão diferenciada do grande maestro e compositor. Vejamos:
“Antes de gravar meu depoimento sobre Carlos Gomes, nas festividades das Comemorações dos Cento e Cinquenta Anos de seu Nascimento, quis saber quais aspectos da vida ou da obra de CG eu deveria dizer alguma coisa, em uma entrevista a TVE – do Rio de Janeiro”.
“Unanimemente, foi-me respondido que o programa iria abordar a desgraçada vida de Carlos Gomes, as injustiças com ele cometidas pelas autoridades, sua infeliz morte em Belém do Pará, sem apoio moral ou financeiro, as vicissitudes, mazelas e fracassos de um abandonado da sorte, um vencido da vida”.
“Surpreso ante tanta tristeza ousei perguntar: e sobre as vitórias, os sucessos, a importância como artista, o peso de sua obra, seu talento e sua inspiração, sobre sua condição de maior artista americano no seu gênero, nada se irá dizer?”
“Durante um mês, no Ministério da Cultura do Rio de Janeiro, durante a exposição comemorativa daquele sesquicentenário, estive sempre presente, (Nota: Marcos Góes, foi o organizador da exposição) dando esclarecimentos… E conclui estarrecido que a quase totalidade de patrícios mantinha, em relação a Carlos Gomes, o mesmo piedoso sentimento dos participantes da TVE: coitado, tão injustiçado tão incompreendido, tão abandonado…”.
Na Itália, o autor Marcos Góes diz, no mesmo livro, ter encontrado, também, sempre a mesma reação de piedade: “O pobre Carlos Gomes”… E é assim que falam dele. A premissa de que sentir pena de tão glorioso artista e lamentar-lhe o destino é uma ofensa à sua memória.
Mozart foi enterrado como indigente, em cova rasa, e nunca se viu ninguém lamentar-lhe tão extraordinária vida de gênio absoluto, Beethoven morreu surdo e bêbado, Schumann internado em um hospício, Chopin, asmático e tísico a definhar antes dos quarenta anos e nunca se viu ninguém dando mais atenção a essas desditas que à arte e ao gênio desses criadores e reformadores.
Carlos Gomes, o maior artista americano de sua arte, o único artista de seu gênero nascido no continente americano, reconhecido internacionalmente em sua época, o renovador de uma forma de arte nacional de outro país, o único artista nascido no Brasil a se tornar mundialmente famoso no século passado…
Carlos Gomes foi um vitorioso, um renovador, um compositor copiado, um pioneiro, um inventor de novidades. Através desses anos todos, a musicologia italiana tem, incompreensivelmente, omitido sua importância na história do desenvolvimento do melodrama, deixando de citá-lo. Ele, que na década de 1870 foi o compositor de óperas italianas mais representadas no Scala de Milão, depois de Verdi.
E é este o Carlos Gomes que pretendo retratar e mostrar ao povo brasileiro em um filme. Um autor que procurou demonstrar em sua obra um sentido sincero e orgulhoso de brasilidade.
Quem mesmo? CARLOS GOMES!…

https://youtu.be/nmM_yL6J1VQ?si=pr6CJTbtTnJUY6tj
Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.