Ir ao supermercado vem se tornando um fardo cada vez maior para as famílias trabalhadoras. O café se tornou o símbolo dessa escalada de preços. Seu preço nas gôndolas do supermercado aumentou 39,6% no ano passado. Viralizaram os “cafés fakes”, galhos e folhas de restos da produção de café, embalados e postos à venda como “bebida à base de café”. Já a carne acumula uma alta de mais de 20%. Nem o ovo escapa, aumentando 40% só na segunda quinzena de janeiro.

O governo e seus apoiadores querem fazer crer que está tudo bem, e que o problema é de “comunicação”. O que acontece, na realidade, é que a inflação oficial aparece menor, pois os preços dos alimentos, que atingem sobretudo as famílias mais pobres, se diluem por toda a economia e faixas salariais. Mas comer em casa, por exemplo, ficou 8% mais caro em 2024, o dobro da inflação oficial. Não há marqueteiro que esconda essa realidade.

Mas o Brasil não é o maior produtor, tanto de café quanto de carne bovina, do mundo? Por que os preços estão aumentando tanto? Quem ganha com isso?

No capitalismo, a banca sempre vence

A crise climática afetou algumas culturas, como a de tomate. Mas no caso da carne e do café, o que fez os preços explodirem não foi um problema de produção. Muito pelo contrário, em 2024 o país bateu recordes. A questão é que a maior parte do que é produzido aqui está nas mãos de algumas poucas empresas transnacionais, verdadeiras gigantes que controlam a produção de commodities (produtos agrícolas e minerais considerados primários e de baixo valor agregado negociados como mercadoria), cujos preços são definidos em dólar, pelo mercado internacional, principalmente na Bolsa de Valores de Chicago.

Isso significa que um conjunto de bilionários domina a produção agropecuária brasileira, atendendo a demanda do mercado internacional e os preços definidos em Chicago. Preços esses determinados por banqueiros e investidores que também lucram especulando com as commodities. Ou seja, não produzem para atender as necessidades da população, mas para atender o mercado e os capitalistas. A cotação em dólar do café e da carne subiram na bolsa? Bom para eles que lucrarão mais, ruim para você que vai pagar mais no mercado.

Isso se agrava ainda mais com a alta do dólar. No ano passado, em meio à expectativa do pacote de cortes do governo Lula, houve uma “fuga” massiva de dólares que especulam aqui, dando lastro à chantagem do mercado (banqueiros e capitalistas em geral) para que se cortasse ainda mais. O pacote fiscal apresentado por Haddad, e aprovado no Congresso Nacional, atende aos interesses dos bilionários ao rebaixar o reajuste do salário mínimo, atacar o BPC (Benefício de Prestação Continuada), e o abono salarial, mas parte desse mercado exige ainda mais sangue, uma espécie de Plano Milei de terra arrasada.

A resposta do governo foi subir ainda mais os juros, e prometer mais medidas de austeridade, como a desvinculação dos pisos nacionais da Saúde e da Educação, além de se começar a aventar uma nova reforma da Previdência.

Mesmo com a política de arcabouço e ajuste fiscal sobre os mais pobres, o dólar explodiu e continua nas alturas, pressionado também pelas medidas imperialistas do governo Trump. Quem ganha com isso? Os próprios megainvestidores que especulam com a moeda, e, mais uma vez, as mesmas grandes empresas que dominam o agronegócio, que lucram ainda mais com as exportações. Seja exportando, seja vendendo o que resta aqui, eles sempre ganham às custas da inflação nas costas dos mais pobres.

Isso mostra a lógica absurda do capitalismo, onde os capitalistas ganham independente da taxa de inflação, ou a cotação do dólar. Mas os efeitos disso recaem sempre sobre os trabalhadores, em qualquer cenário, agravado pela completa subordinação do país ao mercado internacional, aos monopólios e ao grande agronegócio. Expressão ainda do processo de reprimarização da economia, em que o país é rebaixado à condição de exportador de commodities.

Programa

Não é possível baixar os preços dos alimentos sem enfrentar os monopólios capitalistas do agronegócio

Para resolver a inflação dos alimentos é necessário um conjunto de medidas que reduzam e o controlem os preços, garantindo soberania alimentar e comida à população. Isso passa, inevitavelmente, por enfrentar o atual modelo agroexportador que só beneficia um punhado de bilionários que lucra com a dolarização dos preços, o mercado financeiro que lucra com o câmbio, e a política de ajuste e arcabouço fiscal do governo Lula, que corta e ataca direitos e o salário mínimo para beneficiar os banqueiros. Passa ainda pela reforma agrária e uma política de subsídios e financiamento à pequena agricultura familiar, responsável por abastecer grande parte das mesas dos brasileiros.

1 – Redução imediata dos preços e aumento dos salários

É necessário impor a redução imediata dos preços dos alimentos de produção intensiva, como carne e café. Além de garantir um aumento salarial automático às famílias trabalhadoras a cada eventual aumento nos preços. Se os alimentos subirem 8%, aumentam-se os salários, aposentadorias e benefícios em 8%, para além da inflação oficial e o reajuste do salário mínimo.

2 – Nacionalização do sistema financeiro sob controle dos trabalhadores

Não é possível que o país fique refém de megafundos estrangeiros, bilionários e banqueiros que chantageiam e, de forma forçada, jogam o dólar para cima como ameaça a ainda mais ataques aos pobres e direitos sociais. É necessário ter o controle do sistema financeiro e do câmbio que hoje funciona para que o capital estrangeiro imperialista saqueie cada vez mais o país.

2 – Garantir os estoques reguladores

É necessário retomar de fato a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), formando estoques reguladores de emergência. Esses estoques poderiam ser formados a partir da requisição, sem qualquer contrapartida, de partes da produção agropecuária das empresas bilionárias. Trata-se de uma medida fundamental para garantir a segurança alimentar da população, que não pode ficar nas mãos dos grandes grupos estrangeiros.

Cooperativas agrícolas e a agricultura familiar poderiam ser mais integradas a esse sistema, com o governo não só comprando parte de sua produção, como financiando e subsidiando esses setores. Planificar a produção e distribuição de alimentos amenizariam parte dos prejuízos causados pela crise climática, que tem inclusive o grande agronegócio como um dos principais responsáveis.

3 – Expropriar as grandes empresas do agronegócio

A história já mostrou que os capitalistas não abrem mão de seus lucros de forma voluntária. Se os monopólios do agro insistirem em inflar seus preços, produzir para a especulação, ou boicotar a produção para forçar a falta de produtos básicos e subir os preços novamente, não resta outra alternativa que não expropriar o grande agronegócio, e colocá-lo sob o controle dos trabalhadores. Desta forma, a produção não iria para abastecer o mercado externo ou a especulação, mas suprir as necessidades do povo.

4 – Reforma agrária radical sob o controle dos trabalhadores

Quem garante grande parte da alimentação da população nas cidades é a pequena agricultura familiar. Para garantir alimentos baratos é preciso garantir uma ampla e radical reforma agrária, tomando parte das terras que hoje produzem soja ou milho para alimentar gados na China, para, nas mãos das famílias agricultoras, produzirem comida para o mercado interno. Com financiamento e subsídios do governo, que poderiam muito bem vir dos R$ 400 bilhões do Plano Safra que hoje vai para as multinacionais do agro.

5 – Expropriar as maiores redes varejistas

Além de acabar com os grandes monopólios do agronegócio, e garantir a produção de alimentos baratos à população, é preciso não deixar a distribuição nas mãos das grandes redes varejistas. Verdadeiros oligopólios que manobram e cartelizam a comercialização dos produtos. Grupos como o Zaffari que, além de tudo, impõe jornadas desumanas de 10×1 a seus trabalhadores. É preciso expropriar as grandes redes de supermercados, organizando e planificando a distribuição de alimentos e produtos básicos, além de incentivar e subsidiar o pequeno negócio.

Crise

Um governo capitalista subordinado ao agronegócio e ao imperialismo

Lula e Alckmin no lançamento do Plano Safra: R$ 400 bi ao agronegócio Foto Vice-Presidência da República

Numa declaração tão desastrosa quanto cínica, Lula culpou o próprio povo pela inflação. “Uma das coisas mais importantes para que a gente possa controlar o preço é o próprio povo. Se você vai no supermercado e você desconfia que tal produto está caro, você não compra”, afirmou. E não se trata de Fake News ou uma fala fora de contexto, ele disse exatamente essa besteira.

A extrema direita aproveitou para “fazer a festa”. Parlamentares bolsonaristas tiveram a “cara de pau” de estampar bonés com a inscrição “Comida barata novamente, Bolsonaro 2026”. Isso sendo que a alta dos alimentos em 2020, com a economia sob comando de Bolsonaro e Paulo Guedes, foi de 14%. E mesmo em 2022, com o fim da pandemia, registrou 12%.

Ao contrário do que afirma a extrema direita, porém, o governo Lula não é inimigo do agronegócio, pelo contrário, financia o setor com o maior Plano Safra da história para que produzam como nunca, exportem e encham os bolsos. Observe a loucura: estamos pagando para que a carne e o café fiquem mais caros.

A ultradireita defende ainda mais capitalismo

A extrema direita denuncia que a inflação é fruto de uma suposta política de Lula contra o agro e o capitalismo. Omitem que o problema não é falta de capitalismo, mas sim que é justamente o capitalismo monopolista que está impulsionando os preços em nome de seus lucros. Defendem mais benefícios ao agro e uma política ainda mais avassaladora contra os trabalhadores, o meio ambiente e os povos originários. Não foi por menos que um setor do agronegócio financiou e organizou a tentativa golpista de Bolsonaro.

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Last Update: 21/02/2025