A esquerda pequeno burguesa tem estado tão paranoica com o avanço da extrema direita que enxerga o fascismo até mesmo dentro de assuntos futebolísticos. Diante da crise que o Grêmio enfrenta, o colunista Moisés Mendes, em artigo para o Brasil 247, alega que o técnico do clube, Renato Portaluppi, seria um grande expoente da extrema direita por “ameaçar jornalistas”.
Em seu texto “Renato Portaluppi é a face do ativismo de extrema direita infiltrado no futebol”, Mendes defende que as “ameaças” do técnico gaúcho à jornalistas teriam uma “conexão com as mais cruéis práticas de facções criminosas e da extrema direita bolsonarista”. Pode parecer desproporcional a comparação, mas a colocação do articulista leva a pensar que o problema do Grêmio é um suposto fascismo de Portaluppi.
O técnico declarou o seguinte:
“Se continuarem mentindo, eu vou dar os nomes aos bois. Eu vou atacar. Vou chamar de mentiroso. Vou chamar de covardes, que estão se aproveitando da situação do Grêmio. Vocês também têm família, vocês também têm filhos no colégio, vocês também andam por aí. E o torcedor conhece alguns de vocês. Vocês querem que a gente passe por dificuldades, alguns de vocês vão começar a passar também? Eu não tenho medo de ninguém da imprensa”
Em resposta, Moisés Mendes fez a seguinte colocação:
“O trecho é reproduzido na íntegra, para que não falem de frases fora do contexto. Esse é o contexto. Um ativista bolsonarista assumido, irritado com jornalistas que não o bajulam, volta a exibir sua condição de ativista e ameaça os filhos dos repórteres”
Trata-se, é claro, de uma colocação agressiva, típica de treinadores e jogadores pressionados pela imprensa, algo que vemos o tempo inteiro. Que Portaluppi é um bolsonarista, boa parte das pessoas já sabe. Mas isso nada tem a ver com o trabalho dele no Grêmio e nem que existe algo como um bolsonarismo dentro do futebol.
O articulista chega a mencionar que “Portaluppi é o intocável de um clube que assumiu suas feições supremacistas” e também que ele teria dividido a torcida do Grêmio por suas posições. E aproveita para contrapor com o técnico anterior:“Chegou a mandá-lo embora e a contratar Roger Machado, no final de 2022, mas logo se desfez do hoje técnico do Internacional. Declarações antirracistas de Roger causavam desconforto no clube que mostra poucos negros nas arquibancadas da sua arena”.
Mendes tem dificuldade de desassociar o boleiro de suas posições políticas. Da mesma forma que fazem os esquerdistas que atacam o futebol, o colunista coloca suas posições políticas como ponto primário para analisar o desempenho do técnico. E fez o mesmo ao mencionar as “falas antirracistas” de Machado, técnico anterior à Portaluppi.
Futebol e política se misturam o tempo todo, mas não da forma como o texto coloca. Os que procuram associar a política e futebol acabam se atrapalhando com as posições individuais dos boleiros, como fazem para atacar o craque Neymar, um dos maiores jogadores dos últimos tempos. Não entram no mérito de que o imperialismo faz uma intensa campanha para atacar o futebol brasileiro, não discutem os monopólios que dominam o mercado do futebol, das grandes empresas, dos fornecedores. Não se discute a dificuldade imensa que os clubes menores enfrentam cada vez mais, com a tentativa de injetar dinheiro em um ou dois clubes, preterindo todo o restante, a ponto de transformar campeonatos nacionais extremamente competitivos do Brasil nos campeonatos sem graça dos países da Europa, onde só dois clubes disputam de fato. O problema político está muito mais além do fato de um fulano ou ciclano ser bolsonarista ou ser comunista. Mas isso é completamente ignorado pela esquerda pequeno burguesa e por todos aqueles que se propõem a analisar friamente o futebol.
“Portaluppi é a expressão da tentativa de sobrevivência da retórica e das ações identificadas com o extremismo bolsonarista em todas as áreas. Há Portaluppis por toda parte.
Estão vivos e atuantes e ainda desfrutam do sentimento de que a impunidade dos seus líderes irá prevalecer. Mas sabem que não dispõem mais do poder desfrutado quando eram amigos de Bolsonaro e de seus cúmplices agora indiciados como golpistas”, escreve o articulista.
No fundo, o autor quer atacar a posição política de Portaluppi e não seus problemas técnicos para comandar a equipe.
Segue a sua conclusão:
“Os estragos que Portaluppi causou à imagem do Grêmio ultrapassam os limites do clube. São equivalentes, no ambiente do futebol e mesmo fora dele, aos danos causados pelo bolsonarismo ao Brasil”
Para o articulista, o bolsonarismo de Portaluppi está levando à tragédia do Grêmio no futebol. Toda essa ideia segue a tese de que o nosso maior inimigo do momento é a extrema direita e que devemos fazer de tudo para combatê-la. Esses setores da esquerda possuem uma grave dificuldade de identificar os verdadeiros inimigos e acabam atribuindo a um simples técnico de futebol o grande perigo do fascismo.
Não há uma infiltração da extrema direita no futebol, mas sim uma manipulação pesada do imperialismo e dos grandes empresários para sabotar aquilo que não é do seu interesse. O perigo para o futebol não é o fato de ter pessoas direitistas. Se fosse assim, teríamos que acabar com o esporte limitando a sua participação somente àqueles que os esquerdistas acharem dignos, com posições parecidas com as suas.
Sem entrar muito no mérito de Renato Portaluppi e o Grêmio, é importante deixar claro que a fase ruim do clube não se dá por causa da posição política de seu técnico, mas por uma série de fatores do futebol. O clube claramente está em crise, com problemas no elenco e com o próprio técnico, sem dúvidas. Mas não é por conta de ele ser bolsonarista.
E os torcedores devem se posicionar para cobrar o time, o técnico e o que for preciso. Se há problemas na condução de Portaluppi, o que deve ser discutido são esses problemas, não seu comportamento, seu atrito com a imprensa ou suas posições políticas.
Esses setores da esquerda procuram lutar contra a extrema direita com os apelos mais absurdos, como fazem querendo prender os bolsonaristas do 8 de janeiro. Esquecem totalmente dos grandes inimigos do PSDB, das figuras ligadas ao imperialismo. E agora querem demonizar um técnico por suas posições políticas. É uma completa desorientação. Não há combate nenhum à extrema direita acusando um técnico de ser bolsonarista. Enquanto isso, os tubarões do futebol fazem de tudo para sabotar a Seleção Brasileira, sequestram nossos craques para a Europa e trabalham ativamente para impedir o sucesso de times brasileiros em competições internacionais.