
O empresário Sergio Habib (66), presidente da montadora Jac Motors Brasil e fundador do Grupo SHC, se tornou réu por discriminação contra pessoas com deficiência (PCDs) após declarações feitas durante uma entrevista. Ele sugeriu “acabar com o deficiente físico”, uma referência aos benefícios fiscais do governo, para diminuir o preço de veículos.
Formado em Engenharia Elétrica pela Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), Habib é conhecido no setor automotivo, com trajetória nas áreas de importação e distribuição de veículos. Nos anos 1990, seu Grupo SHC se tornou representante exclusivo da Citroën no Brasil e passou a importar marcas de luxo como Jaguar, Hummer e Aston Martin.
Habib também foi um dos fundadores da Abeifa (Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores) e, em 2001, assumiu a presidência da Citroën Brasil, após a instalação da fábrica da PSA Peugeot-Citroën no país. Ele deixou o cargo em 2008, após ampliar a participação da marca no mercado nacional para quase 3%.
Desde 2009, o Grupo SHC representa a marca chinesa Jac Motors no Brasil. A empresa se posicionou nos últimos anos como uma das pioneiras no setor de carros elétricos. Segundo o site oficial da montadora, a Jac Motors é a quinta maior fabricante de veículos 100% elétricos do mundo e a primeira a lançar uma linha totalmente elétrica no Brasil.
Apesar da expansão nesse nicho, o grupo enfrenta dificuldades financeiras. Em setembro de 2019, Sergio Habib entrou com pedido de recuperação judicial para o Grupo SHC, então com dívidas superiores a R$ 500 milhões. A recuperação foi homologada pela Justiça, e a empresa segue tentando se reestruturar.
Apesar de não se manifestar sobre política ou declarar seu posicionamento, ele segue o ex-presidente Jair Bolsonaro, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o que indica um possível alinhamento com a extrema-direita.

O Ministério Público (MP) denunciou Habib por ter sugerido, no programa PrimoCast, o fim das isenções fiscais para PCDs como forma de reduzir o preço dos veículos no país. A declaração foi dada em maio de 2023.
“Sabe o que o governo poderia fazer? De novo, de maneira silenciosa. Acaba com deficiente físico e você baixa o preço dos carros em 5%. A gente vende carro para deficiente, gente, as pessoas compram carros ‘pra’ deficiente, é gente como a gente, não tem problema nenhum. Se é surdo de uma orelha, você já é deficiente. É uma vergonha o deficiente físico no Brasil, nenhum outro país no mundo tem isso”, disse.
A denúncia, assinada pela promotora Natália Cardoso, pede uma indenização mínima de 20 salários mínimos para reparação de danos morais coletivos, e a 5ª Vara Criminal do Fórum da Barra Funda (SP) aceitou a acusação no último dia 6.
Ele também foi detonado pelo Fórum Paulista para Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência, que divulgou um manifesto repudiando as falas: “Além de discriminatórios, violam a condição de humanidade das pessoas que têm algum tipo de deficiência física”.