
O conclave elegeu nesta quinta-feira (8) o novo papa da Igreja Católica. O cardeal norte-americano Robert Francis Prevost, de 69 anos, foi o escolhido e adotou o nome Leão XIV. Nascido em Chicago, Prevost é visto como próximo de Francisco, de quem herdou não apenas o estilo pastoral, mas também parte da linha de pensamento. Ele se torna o primeiro papa dos Estados Unidos na história da Igreja.
Ex-prefeito do influente Dicastério para os Bispos, Prevost era considerado um nome de consenso entre os cardeais caso os favoritos enfrentassem impasse. Sua atuação em missões no Peru durante décadas, somada à fluência nos assuntos da Cúria Romana, ampliou sua aceitação entre diferentes blocos do colégio cardinalício.
Prevost ingressou na Ordem de Santo Agostinho em 1977 e fez seus votos solenes em 1981. Formado em Matemática pela Universidade de Villanova, possui mestrado em Teologia pelo Catholic Theological Union, em Chicago, e licenciatura e doutorado em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Santo Tomás de Aquino, em Roma. Sua tese de doutorado tratou do papel do prior local na ordem agostiniana.
Missionário no Peru a partir de 1985, exerceu funções como chanceler, professor, diretor de seminário, pároco, vigário judicial e responsável por formação. Voltou aos EUA em 1999 e foi eleito provincial. Dois anos depois, se tornou prior-geral da ordem agostiniana e permaneceu no cargo por dois mandatos, até 2013.
Em 2014, foi nomeado administrador apostólico da Diocese de Chiclayo pelo papa Francisco e, no ano seguinte, assumiu como bispo titular. Ali ganhou protagonismo político, sendo um dos líderes do episcopado peruano durante as sucessivas crises institucionais no país. Também atuou como administrador apostólico de Callao entre 2020 e 2021.
Prevost foi escolhido por Francisco em 2023 para ser prefeito do Dicastério para os Bispos, órgão central na escolha de bispos no mundo inteiro. Ainda naquele ano, em 30 de setembro, foi elevado ao cardinalato. Discreto na mídia, era elogiado internamente por sua capacidade de escuta e pela objetividade com que tratava os temas mais sensíveis da Igreja.

O novo papa compartilha das prioridades do antecessor, como a preocupação com o meio ambiente, a atenção aos pobres e migrantes e uma postura menos rígida no trato pastoral. Apoia a comunhão para divorciados recasados e, embora mais reservado que Francisco nas questões LGBTQIA+, demonstrou apoio moderado ao documento Fiducia Supplicans, que trata das bênçãos a casais em situação irregular.
Apesar do prestígio, Leão XIV chega ao trono de Pedro envolto em controvérsias. Ainda como provincial em Chicago (1999-2001), foi citado num caso em que um padre acusado de abuso sexual continuou vivendo em um priorado próximo a uma escola. Seus apoiadores afirmam que Prevost não era responsável pela presença do padre no local, que sequer era da sua ordem, e que os fatos ocorreram antes da Carta de Dallas, marco legal de 2002 que endureceu as regras para lidar com abusos.
Mais recentemente, em 2022, enquanto bispo de Chiclayo, enfrentou críticas por supostamente ter conduzido mal denúncias contra dois padres acusados de abusar de três meninas. Embora o bispo tenha acolhido pessoalmente os relatos, iniciado investigação canônica e orientado as famílias a procurarem as autoridades civis, o caso segue sem desfecho. Em julho daquele ano, Prevost encaminhou o caso ao Dicastério para a Doutrina da Fé.
As acusações ganharam novo fôlego em maio de 2025, com a revelação de que a diocese teria pago US$ 150 mil às vítimas, alimentando suspeitas de tentativa de silenciamento. A informação foi publicada pelo site InfoVaticana e repercutiu em redes sociais e na imprensa peruana, que descreveu o caso como a “pedra no sapato do cardeal Prevost”.
Mesmo com esse histórico, sua imagem internacional permaneceu forte, especialmente por ter atuado fora dos Estados Unidos por grande parte da vida e por sua ligação com Francisco. Atualmente, Leão XIV integra sete dicastérios vaticanos e faz parte da Comissão de Governança do Estado da Cidade do Vaticano, o que evidenciava sua centralidade no atual sistema de poder da Igreja.