Mahmoud Sinuar, é um líder político do Movimento de Resistência Islâmica, o Hamas, que planejou a operação militar Dilúvio de al Aqsa, a ofensiva da resistência armada palestina ocorrida em 7 de outubro do ano passado, que configurou no maior golpe contra o estado artificial de “Israel”.

 Como não poderia deixar de ser, Sinuar causa arrepios nos sionistas, que além de persegui-lo, utilizam todo o aparato de propaganda para veicular falsas acusações contra esse líder do povo palestino, acreditam que devem “entrar em sua mente” para desvendar os caminhos da resistência e assim combatê-la.

 Na própria imprensa capitalista nacional, podemos encontrar diversas matérias acusando o líder palestino de abuso sexual, crueldade de diversos tipos e também análises sobre sua personalidade, tratando-o como um psicopata que termina por oprimir seu próprio povo, que por temer sua reação, não ousa questioná-lo.

Antes de tornar-se líder militar do Hamas, Sinuar esteve preso por 23 anos, por realizar uma operação contra dois soldados da ocupação sionista e quatro palestinos, colaboradores do regime sionista.

Porém em seu tempo recluso, dentre os quais esteve quatro anos em solitária, o atual líder aprendeu hebraico através de jornais e executou planos de longo prazo. Sua soltura veio através de uma hábil negociação por parte da resistência, onde trocaram mais de mil prisioneiros palestinos por um único soldado israelense. Algo considerado um erro por diversos sionistas.

Arquiteto e romancista

Em 2004, Sinuar, ainda prisioneiro, publicou seu romance, que em português pode ser traduzido como “Espinho de Cravos”. Nele o autor relata a luta do povo palestino, desde 1967 até a Intifada do ano 2000. Mesclando personagens reais e fictícios, porém todos inseridos no contexto da realidade do período.

O romance histórico atravessa as épocas e serve como referência para entender as crenças e o pensamento individual e coletivo dos palestinos durante o período retratado.

Sob a perspectiva de Ahmed, o leitor é levado a conhecer a realidade dos campos de refugiados: as condições de vida e a cultura da comunidade que lá vive, as condições climáticas, as transformações políticas em todo o território ocupado e a relação com a violência e perseguição promovida pelos sionistas. 

Ahmed vive em um campo de refugiados em Gaza e testemunha a escalada da ocupação, assim como a da resistência, dessa maneira é possível observar como o contexto molda o caráter das pessoas envolvidas. Assim como o próprio surgimento e o desenvolvimento do Hamas.

 Porém, trata-se do narrador do romance, que possui um certo distanciamento da resistência, ele narra a trajetória de Ibrahim, seu primo, órfão abandonado pela mãe após o martírio de seu pai.

Dessa maneira Ibrahim é um sujeito que se criou sozinho, sem a referência de seus antepassados, precisando lidar com a realidade imposta a ele à sua própria maneira.

 Essa condição fez com que ele se desenvolvesse sozinho, mas junto com seu povo, que termina por se desenvolver junto com ele, unindo sua existência ao compromisso político para com a sua comunidade.

Outra questão colocada é a relação entre crença religiosa e libertação nacional, afinal o romance tem início em 1967, período do fracasso do nacionalismo árabe, com a perda de diversos territórios de países como Egito e Síria para os sionistas.

Dessa maneira, a luta posterior a esses acontecimentos passa a ser carregada por um sentimento religioso, que é algo que permanece em meio as desgraças pelas quais o povo palestino foi submetido no período.

 A partir daí, a religiosidade e a luta seguem juntas, sendo essa a base de criação do Hamas, justificando o martírio e o sacrifício de maneira geral, como algo inerente àqueles que optam pela resistência. Todo o amor e dedicação, deve servir a causa da libertação nacional, não havendo qualquer espaço para outros sentimentos.

Afinal, sentimentos que levam o indivíduo a buscar sua própria estabilidade, sem levar em consideração a libertação de seu povo, podem ser explorados pelo inimigo e levar o sujeito a ser um colaborador da ocupação.

No romance também há o esclarecimento que a construção de um movimento político, no caso a resistência palestina, depende de um grande nível de conhecimento da realidade que o cerca, sendo assim a única maneira de proteger e garantir a continuidade de suas ações. Portanto une além da religião, a educação e a proteção.

 Somente através desses elementos é que a libertação nacional virá e o inimigo sionista será derrotado, através da total disciplina da resistência.

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Última Atualização: 07/07/2024