Em junho de 2020, o Brasil contabilizava cerca de 50 mil mortes confirmadas por Covid-19 e o governo de Jair Bolsonaro (então sem partido, hoje no PL) era cobrado pela inação e pelo desprezo às vítimas. O ex-capitão decidiu, então, tomar providências. Em uma live nas redes sociais, prestou uma homenagem aos mortos, com a execução da música Ave Maria ao som da sanfona. O sanfoneiro escolhido foi Gilson Machado Neto.
À época, Machado era o presidente da Embratur, a agência nacional de promoção do turismo. Antes, havia ocupado duas secretarias do Ministério do Meio Ambiente: a de Ecoturismo e Cidadania e a de Florestas. Foi um reconhecimento a uma amizade construída antes de Bolsonaro chegar ao Palácio do Planalto.
Pernambucano, Gilson Machado é produtor rural e veterinário de formação (até por isso, foi acionado e prestou os primeiros socorros quando o ex-presidente passou mal no Rio Grande do Norte e, na sequência, foi internado).
O ex-ministro fez parte da banda “Gilson Machado e o Forró da Brucelose”, cujo nome integra duas de suas paixões: a música e a veterinária – brucelose é o nome de uma doença que pode acometer as vacas.
Em 2018, tentou se lançar candidato ao Senado com o nome de “Gilson Sanfoneiro”, mas seu partido à época, o Patriota (que se fundiria ao PTB para fundar o PRD) vetou a candidatura.
Sua primeira aventura como candidato foi em 2022, quando, enfim, concorreu ao Senado (já pelo PL, que se tornou a legenda oficial do bolsonarismo), mas não se elegeu, perdendo a vaga para a petista Teresa Leitão. Já em 2024, concorreu à prefeitura do Recife, mas novamente ficou em segundo lugar, distante de João Campos (PSB), que foi reeleito.
Preso pela PF
Machado foi preso pela Polícia Federal na manhã desta sexta-feira 13. A prisão ocorreu em Recife. A detenção foi confirmada por agentes da PF a diferentes veículos de imprensa. Ele passou a ser investigado nos últimos dias após indícios de que ele teria tentado articular a fuga do tenente-coronel Mauro Cid do Brasil. O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro se tornou delator na trama golpista, caso em que também é réu. A investigação foi aberta a pedido da PF e da Procuradoria-Geral da República.
O ex-ministro do Turismo teria, segundo as primeiras informações, tentado emitir um passaporte português para Cid. A iniciativa serviria para obstruir as investigações do plano golpista, na qual Bolsonaro é um dos réus.
A tentativa de emissão do passaporte teria ocorrido em maio de 2025, no Consulado de Portugal no Recife. Cid já era delator e réu na trama. O ex-ministro não obteve sucesso no plano. A mera tentativa, porém, é vista como uma forma de atrapalhar a condução do processo.
Sabe-se que, no início de 2023, antes de ser preso pela primeira vez, o tenente-coronel procurou um serviço de assessoria para conseguir cidadania portuguesa.
Machado ainda não se pronunciou sobre a prisão, mas, quando as acusações vieram à tona, disse ao jornal O Globo que teria procurado o Consulado para tratar de um passaporte para o seu pai e que jamais se mobilizou para algo “a respeito de Mauro Cid”. Na ocasião, ele se disse surpreso com o pedido de investigação da PF e da PGR.
Ao STF, ao pedir a investigação, a PGR também defendeu uma ordem de busca e apreensão e a quebra dos sigilos telefônico e telemático de Machado.