Quem dita o debate? A disputa pela agenda pública em 2025
por Francisco Fernandes Ladeira
Todo fim de ano paramos para analisar o que aconteceu no período que se finda. Em 2025, ficou claro que a grande batalha política é pela agenda pública: decidir sobre o que o país vai falar e se preocupar.
E nesse jogo, a extrema-direita nada de braçada. Durante o governo Bolsonaro, a tática era clara: sempre que um escândalo ou crise ameaçava, alguém do núcleo ideológico soltava uma pérola estilo Terra Plana e o debate virava uma arena de bobagens. O assunto sério sumia.
O curioso é que, mesmo fora do poder, eles continuam ditando o ritmo. Até a mídia progressista cai na armadilha de não passar um dia sem mencionar Bolsonaro. É uma dança conhecida: parte da grande imprensa joga a bola, e a extrema-direita corre para cortar. O script é sempre o mesmo, com o mesmo vilão: o PT.
Falando em PT, muito se fala que o governo Lula não sabe se comunicar. Mas o problema real é outro: quem comanda a agenda leva a discussão para seu campo. Durante boa parte deste mandato, não fomos nós, da esquerda, quem estava escolhendo o tema.
Mas em 2025, a situação mudou – pelo menos durante um período. Uma sequência de pautas nossas ganhou fôlego: a defesa da soberania nacional (com o tarifaço de Trump), o corte de imposto para quem ganha menos, a briga com o Congresso inimigo do povo e a taxação dos super-ricos. Quando o debate vira para luta de classes e soberania, a esquerda tem vantagem. A direita defende os ricos e o alinhamento automático aos EUA. Até as pesquisas das grandes emissoras tiveram que reconhecer a popularidade de Lula. A sensação era que, finalmente, o debate era nosso.
Só que aí veio a chacina no Rio, ordenada por Claudio Castro. O jogo virou de novo. A agenda nacional virou “segurança pública”. E lá voltamos a ouvir o coro pré-gravado: a mídia dizendo que a esquerda não tem proposta, e a extrema-direita com seu mantra fascista de “bandido bom é bandido morto” (a menos, é claro, que não seja um aliado com tornozeleira).
A pergunta que fica é: o que vai pautar 2026, ano eleitoral? A esquerda tem dois exemplos recentes e opostos. O de 2018, que entrou na guerra cultural e no identitarismo sem eixo material, e se deu mal. E o de 2022, que focou no bolso, no prato de comida e no projeto de país, e venceu. Tudo indica que Lula seguirá o segundo caminho. E é aí que a nossa chance de comandar a agenda – e vencer – está.
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Francisco Fernandes Ladeira é pesquisador de pós-doutorado no IFMG – campus Ouro Preto
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