Nesse domingo (4), Márcia Tiburi publicou uma coluna no portal Brasil 247 intitulada Lady Gaga – entre o amor dos fãs e o ódio dos terroristas. A colunista ficou impressionada com o suposto plano de explodir uma bomba no show da cantora pop norte-americana e escreveu sua interpretação sobre o caso.
Antes de explicar essa interpretação, é importante uma palavra sobre o suposto plano terrorista. Pouco se explicou sobre ele, o máximo que se chegou a dizer foi que alguns malucos estariam planejando isso em grupos nas redes sociais. Bom, se for só isso, permitam-nos dizer que falar bobagens nas redes sociais não é terrorismo.
Independentemente das reais intenções dos malucos de Internet, que na falta do que fazer estão “planejando um ataque à bomba num show com 2,1 milhões de pessoas”, ficar dando ênfase ao “terrorismo” como faz Tiburi e outros apenas reforça o principal objetivo da polícia nesse caso: reforçar a repressão. Não tem terrorismo nenhum, mesmo se as intenções dos malucos de Internet fossem reais, no máximo seu crime seria o de “tentar planejar”, se é que exista algum crime desse tipo.
Quando a imprensa capitalista bate na tecla do “terrorismo” podemos ter certeza que estamos diante de um golpe, de sensacionalismo para dar pretexto para o aumento da repressão. Incrível como alguém que se diz de esquerda, como Márcia Tiburi, reforce essa ideia.
Mas, enfim, vamos aos argumentos da colunista.
Resumidamente, a culpa de tudo isso é do “patriarcado”:
“O ódio é patriarcal, capitalista e racista, capacitista e politicamente delirante. Ele afeta as massas, mas sempre há aproveitadores por trás das ações de massas encantadas e iludidas.”
Esse trechinho do texto de Tiburi é muito interessante pela contradição gritante, ela simplesmente esquece que o show de Lady Gaga, que movimentou 92 milhões de reais, não é só qualquer empreendimento, mas um enorme empreendimento capitalista, financiado por empresas multinacionais, prefeitura e governo do Rio, ambos governados pela direita. Portanto, seria o show de Lady Gaga “patriarcal, racista e capacitista”? Se acreditássemos que o problemas são apenas esses “ismos”, a resposta seria sim. As grandes empresas capitalistas que patrocinam o show são tudo isso e mais um pouco.
Dito tudo isso, poderíamos afirmar que os malucos de Internet que falaram que colocariam uma bomba no show estão enfrentando o capitalismo? Podemos afirmar qualquer coisa, assim como Márcia Tiburi afirma qualquer coisa.
É interessante que pessoas que se apregoam críticas não percebam que o evento que ocorreu na praia de Copacabana não é nada demais além de capitalismo. Uma cantora pop norte-americana muito bem paga para trazer seu produto enlatado para o público brasileiro.
Márcia Tiburi se aventura a analisar psicologicamente as causa da suposta “tentativa de planejar um atentado”.
“De um lado, a festa. De outro, os planos terroristas para acabar com ela. Por que essa divisão? Que polarização social é essa? A mesma de sempre: de um lado, Eros (a impulsão para a vida), o amor, a alegria; de outro, Tânatos (a impulsão da morte), o ódio e os afetos invejosos.”
Essa interpretação pseudo-psicanalítica da política leva a conclusões totalmente estapafúrdias. Explicar a polarização social por meio da teoria do impulso é quase um exoterismo. É muito simples entender por quê. Levando em consideração o que ela diz sobre impulsão para a vida e impulsão da morte, basta nos perguntarmos: um burguês tem impulsão para a morte ou para a vida? E um operário? E um garoto de classe média que foi no show de Lady Gaga? Essa ideia não explica absolutamente nada.
Tiburi nos dá a impressão que não existem classes sociais e que no Brasil, desde antes de 2016, a burguesia não vem atacando o povo brasileiro duramente. Parece que a história recente do país foi apagada. Alguém precisa lembrá-la que o País está dividido há muito tempo e essa divisão é produto da política da burguesia imperialista – a mesma aliás que promoveu a vinda de Lady Gaga.
Mas essa divisão acabou gerando efeitos colaterais para a própria burguesia. Ela criou um setor da população que está totalmente revoltado com tudo isso, ainda que não entenda bem o que é “tudo isso”. Não dá para levar a sério o suposto quase atentado à bomba, mas se ele fosse sério, ele seria produto dessa revolta cada vez mais aflorada em setores da população.