O artigo Pesquisa Genial/Quaest confirma o favoritismo dos algoritmos, de Florestan Fernandes Jr., publicado no Brasil 247, nesta quarta-feira (5), mostra que a esquerda não quer encarar o que vem acontecendo com a popularidade do governo Lula.
Desde a derrota de Fernando Haddad para Bolsonaro em 2018, amplos setores da esquerda colocaram na cabeça que tudo se deveu a disparos massivos no Whatsapp, quando, na verdade, o candidato não tinha chance. O Supremo, a grande imprensa, o imperialismo, estavam todos empenhados em derrotar o PT.
A esquerda pequeno-burguesa, em geral eleitoreira, não cogitou em não lançar candidato. O certo seria o PT se retirar das eleições e denunciar a farsa, o golpe que estava sendo dado, e abrir uma crise.
A candidatura de Haddad serviu apenas para dar um ar democrático à fraudulenta eleição de Bolsonaro. Como se não bastasse, o petista ainda desejou sorte ao futuro presidente.
No olho da matéria se lê: “a pergunta que fica é: por que essa melhora no desempenho da economia não se reflete na pesquisa de intenção de voto em Lula?”
A resposta é bastante simples: porque a tal “melhora da economia” não existe. A política de juros altos corrói a renda das pessoas, cada vez mais endividadas, o desemprego real está estratosférico e o poder de compra dos salários cada vez mais pressionado.
Pesquisas suspeitas
Sempre é necessário duvidar de pesquisas. Porém, a queda de popularidade de Lula é visível.
Segundo o articulista, “a pesquisa Genial/Quaest traz um quadro preocupante para a democracia brasileira. A extrema-direita tem pelo menos quatro candidatos em condições de derrotar Lula”.
Para Fernandes Jr., “ao contrário das eleições passadas, desta vez o desempenho na área econômica parece não ser garantia de vitória na reeleição de um presidente”. Na verdade, a política econômica do governo está mais para um garantidor de derrota.
O parágrafo seguinte mostra como é fácil se apoiar em números para se descolar da realidade. Florestan insiste:
“Vamos aos números reais da economia. O Brasil de Lula alcançou, no primeiro trimestre deste ano, um crescimento maior que aquele apresentado pelos EUA, União Europeia e G7. No mesmo período, a taxa de desemprego foi de 7%; a menor desde 2012. Nos três primeiros meses de 2025, o consumo nos lares brasileiros cresceu 2,5% e a inflação tem recuado; em maio, caiu 0,35%.”
Para o brasileiro, não interessa se crescemos mais que EUA e União Europeia. Esse crescimento mal é percebido, praticamente não chega à mesa do trabalhador. Ninguém se alimenta de índices.
Na opinião do autor, a “melhora” na economia não se reflete na popularidade de Lula por “vários fatores, mas o principal deles [lhe] parece ser a manipulação dos algoritmos nas Big Techs estadunidenses que atuam no Brasil e em vários países ocidentais”.
A política econômica vai de mal a pior, a base aliada de Lula joga contra, ministros sabotam o crescimento do País, a grande imprensa critica o governo 24 horas por dia, mas a culpa são das big techs e suas manipulações… não faz sentido.
Segundo Fernandes Jr., “desde que Trump retornou ao poder com apoio explícito dessas plataformas, a extrema-direita e o conservadorismo vêm obtendo sucesso nas eleições de países importantes, nas chamadas democracias capitalistas”.
Onde estava o articulista quando Obama/Biden articularam o golpe contra Dilma Rousseff?
Setores da esquerda torceram pela vitória de Biden desde sua primeira eleição. Queriam os verdaderos golpistas no poder, os autores do golpe militar no Egito, do Euromaidan; os destruidores da Síria, os cúmplices do genocídio em Gaza.
Tentar atrelar o crescimento da extrema direita a algoritmos é distorcer os fatos. Quem pariu o extremismo de direita foi o neoliberalismo, a desagregação social.
Não adianta reclamar que “no dia 7 de maio passado, o vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) responsabilizando o governo Lula pelo esquema de fraude bilionária no INSS atingiu 100 milhões de visualizações em 24 horas”. Qual foi a resposta do governo?
Se foi “uma narrativa mentirosa, conforme comprovado nas investigações da Polícia Federal”. A grande imprensa também de a entender que a coisa era responsabilidade de Lula. Manipularam os fatos, torceram as palavras para que o presidente e seu irmão tinham culpa no cartório. Isso foi feito sem auxílio de algoritmos.
Continuando em sua reclamação, Florestan Fernandes Jr., escreve que a mesma estratégia de criar ‘narrativas’ falsas ocorreu no início de 2025, quando Nikolas Ferreira gravou um vídeo mentiroso afirmando que o governo Lula faria monitoramento do Pix para quebrar o sigilo dos usuários e com isso taxar as operações. A publicação do vídeo nas redes sociais alcançou 200 milhões de visualizações.
Seja como for, o governo recuou na questão do Pix, quase uma admissão de culpa. E uma prova de que a política econômica do governo deu uma tremenda bola fora.
Desculpa para censura
Toda essa choradeira sobre big techs e algoritmos tem uma única função: exigir censura.
Por que a esquerda não trata de utilizar bem as plataformas digitais? Se a “extrema direita tem feito ‘impulsionamento’ dos tais algoritmos”. E “é dessa maneira que a extrema-direita fascista vem surfando nas eleições mundo afora”, é preciso que a esquerda dê o troco, aprenda a utilizar as plataformas da melhor maneira possível. A atitude da esquerda tem sido a de exigir que o governo censure as redes. Isso, no entanto, só vai favorecer a direita
Fernandes segue seu texto falando que as big techs têm “dado uma mão e tanto para os bolsonaristas”. No entanto, quem deu uma mão mesmo foi o STF, que tirou o petista da jogada e escancarou o gol para Bolsonaro.
O relógio não para
O tempo está correndo, falta pouco para o fim do mandato, para as novas eleições, e nada tem sido feito a popularidade do governo.
É fundamental que a esquerda tome consciência do que vem fazendo. Ficar botando a culpa em espantalhos, como as redes sociais, não vai deter o avanço de nada.
Finalmente, é preciso utilizar todos os meios para reconquistar a classe trabalhadora, não ficar implorando a intervenção do STF para tirar da frente os adversários políticos.