Na última quarta-feira, dia 1º de maio, o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT), deixou seu cargo no governo Lula. As motivações para o seu desligamento teriam sido os desgastes internos dentro do partido e divergências com setores do próprio governo, de acordo com os noticiários da imprensa burguesa.

Na realidade, o motivo principal que levou a sua saída foi o escândalo envolvendo o INSS. No dia 23 de abril, a operação da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União foi amplamente divulgada como um esquema bilionário de fraudes, mas se trata, na realidade, de uma manobra política contra setores estratégicos da base do governo Lula. As investigações miram entidades de classe com histórico de luta, como a CONTAG e o Sindnapi, este último ligado à Força Sindical e ao irmão do presidente Lula, Frei Chico. O objetivo evidente é desmoralizar o núcleo sindical que sustenta politicamente o governo, em mais uma ação golpista disfarçada de “combate à corrupção”. Tal ofensiva seletiva poupa, como sempre, os verdadeiros parasitas do orçamento público — os banqueiros e grandes capitalistas — enquanto reforça o cerco político contra o governo petista.

A saída de Lupi se dá, na realidade, porque ele era contrário à destruição das aposentadorias. O escândalo do INSS é uma questão política, como a maioria das coisas que acontecem no Brasil. A operação da PF foi orquestrada pelos supostos aliados do governo de Lula, o setor da direita que está diretamente envolvido e que atua para destruir o governo por dentro.

O escândalo é uma ferramenta para ir desgastando cada vez mais o governo, para que chegue ao fim do mandato totalmente demolido. A operação favorece também o enorme lobby político que existe para tentar destruir a previdência, através da Reforma. Não se trata de uma reforma, é uma demolição gradual, que faz com que as pessoas se acostumem aos poucos com o fato de ninguém mais ter direito a aposentadoria.

A previdência é um dos principais negócios dos capitalistas. Se o Estado destrói a aposentadoria, a solução para os trabalhadores é recorrer aos bancos. E para quem é mais pobre, as opções de previdência privada são piores e o valor recebido é muito mais baixo. É um grande negócio para arrancar o coro daqueles que trabalharam por décadas.

Como Lupi era contrário a essa destruição, foi montada a operação para derrubá-lo e enfraquecer ainda mais o governo Lula. Apesar de ser um dirigente importante do PDT e mesmo tendo condutas muito direitistas, foi política não estava alinhada com o interesse da ala mais à direita do governo.

E esse é o principal esforço da burguesia no momento para ir sabotando o governo aos poucos. Há vários outros exemplos da derrocada do governo. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou um pacote de restrições em vários benefícios como o Bolsa Família e Benefício de Prestação Continuada (BPC). Posteriormente, o governo Lula foi alvo de muita indignação e confiança quando anunciaram medidas sobre o pix, o que indicava um caminho para que as transações pudessem ser taxadas em algum momento. Esses episódios tiveram uma repercussão enorme e extremamente negativa perante a população, obrigando o governo a se retratar em mais de uma oportunidade.

Outro episódio que marcou os anos do governo foi a acusação de assédio contra o ministro Silvio Almeida, dos Direitos Humanos, que acabou sendo afastado. A denúncia veio de outra ministra, Anielle Franco, da Igualdade Racial. Almeida, que também possui várias posições nas quais discordamos, também foi alvo de uma campanha de destruição vindo de dentro da ala mais direitista do governo. Provavelmente alguma posição sua incomodou algum setor e por isso criou-se uma denúncia muito questionável. O caso evidencia que há uma briga entre os membros do governo e que a direita atua para cercar aqueles que não atendem ao seu interesse diretamente.

São várias etapas da manobra que a burguesia vem fazendo ao longo dos anos para tomar conta do regime político. O objetivo é tentar implementar as medidas neoliberais aos poucos e, se possível, de dentro do próprio governo Lula. Com o governo se enfraquecendo até as eleições de 2026, a burguesia montará outra manobra para tentar ganhar a eleição de vez ou de dominar completamente um novo candidato, caso não consiga vencer a disputa. Com um Lula enfraquecido, as chances de sua vitória diminuem.

E fazem isso enquanto uma parte muito desinformada da esquerda propaga o “pleno emprego”, que a economia vai bem, etc. Mas estatística não enche a barriga de ninguém e todo mundo sabe a miséria que o povo está passando, com os preços absurdos nos mercados, com a falta de emprego, com um monte de gente dormindo na rua. Enquando não houver uma mudança nessa política, se não houver um enfrentamento da direita dentro do próprio governo e sem um chamado à luta, a tendência é cair até não poder mais.

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Last Update: 04/05/2025