Quebra de silêncios da memória das mulheres nos espaços públicos e políticos
por Valéria Teixeira de Meiroz Grilo
A que se presta o resgate histórico das mulheres em espaços de poder? Por que dar espaço à narrativa desta trajetória, hoje, aparentemente, tão bem consolidada? Essas foram algumas das questões que me pus ao longo do processo de coordenação editorial da Breve História das Mulheres do Ministério Público do Paraná. Permaneço, ainda, num processo de investigação: não porque não tenha encontrado suficientes respostas, mas porque elas parecem multiplicar-se à medida que as investigo, e conforme entro em contato com outras experiências de resgate histórico.
A história das mulheres. Independentemente do recorte que se faça, ao fim e ao cabo, escrever a história sob uma perspectiva feminina é mais do que um meio de robustecer os registros históricos. Significa, por vezes, contraditá-los, confrontar a narrativa estabelecida e combater os simplismos. E, pensando a história como também meio de luta, sob uma perspectiva contemporânea, dar protagonismo às vozes que, por séculos, foram relegadas ao lugar de “vocal de apoio”. Assim, tomar nas mãos esta tarefa se presta a múltiplos fins: entre eles, fortalecer o papel da história – que passa a ser enriquecida com a coleta de dados antes esquecidos –, mas também, fortalecer as mulheres – de sorte que o conhecimento e a ciência de sua luta por direitos (em permanente ameaça) continuem a impulsioná-las a novas conquistas.
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Ao falar sobre a invisibilidade das mulheres, Michelle Perrot esclarece que a história, muitas vezes, optou por apagá-las porque se dirigia a narrar fatos da vida pública – ao passo que as mulheres pertenciam à vida privada. Esclarece que “em muitas sociedades, a invisibilidade e o silêncio das mulheres fazem parte da ordem das coisas. É a garantia de uma cidade tranquila. Sua aparição em grupo causa medo. Entre os gregos, é stasis, a desordem” (PERROT, 2007). A ideia de pertencimento das mulheres à vida pública, assim, era vista com temor, com ressaibo. Embora a ideia de falta de participação das mulheres na sociedade possa parecer distante, inúmeros são os obstáculos enfrentados no processo de acesso a este ambiente público, no acesso ao poder, ainda nos dias de hoje.
Conquanto se trate de um ideal sempre ameaçado – em vista dos recentes acontecimentos políticos no Brasil e no mundo – permaneço uma entusiasta do Estado Democrático de Direito. Penso que a participação das mulheres, a partir da ocupação dos espaços de poder de maneira legítima, é um dos meios mais eficazes para a transformação social. Nesse contexto, é preciso ter em vista que a invisibilização das mulheres é reflexo de estruturas sociais e históricas que excluíram mulheres dos espaços de decisão. Assim, proceder a um resgate histórico – dentro de qualquer instituição – é mais que um meio de reconhecimento de contribuição das mulheres para a construção de tais instituições. É, também, uma forma de, a partir da memória, permanecer abrindo caminhos para a equidade plena que desejamos.
Este artigo não representa, necessariamente, a opinião do Coletivo Transforma MP.
Valéria Teixeira de Meiroz Grilo- Procuradora de Justiça aposentada do MPPR. Membra do MP Transforma. Membra do Movimento Nacional de Mulheres do Ministério Público.
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