No rastro do fracasso das políticas neoliberais que tomaram conta do continente latino-americano (Argentina, Brasil, Equador, Venezuela) a Bolívia se colocou como vanguarda como um dos países que impuseram uma derrota à direita neoliberal pró-imperialista do país, elegendo um governo popular de esquerda representado pela liderança indígena, Evo Morales.

Morales adquiriu grande notoriedade tornando-se o político mais importante do país a partir das medidas de caráter popular que adotou durante os anos em que esteve governando a Bolívia, particularmente quando nacionalizou os hidrocarbonetos, cuja exploração se encontrava em propriedade das petrolíferas transnacionais.

A liderança indígena e seu partido (MAS) governaram a Bolívia de 2006 a 2025, não sem ter enfrentado um turbilhão de crises, ameaças e golpes, como o movimento golpista-direitista de 2019, apoiado pelo imperialismo e que teve como desfecho a renúncia de Morales em novembro do mesmo ano. 

É neste contexto de crise e escassez de alimentos, com a inflação de 24,8% em julho (a mais alta desde 2008), no momento do fechamento desta edição, que a Bolívia irá às urnas no próximo dia 17 de agosto, eleições que se realizarão em meio a um quadro de enorme descontentamento social desde que governos de esquerda assumiram o poder no país em 2006, a partir da vitória do partido Movimento ao Socialismo, dirigido pelo líder do movimento dos cocaleros.

As eleições estão marcadas pelo fato de que é a primeira vez em 20 anos que a esquerda não aparece nas pesquisas como uma alternativa. Dois candidatos de direita, o empresário Samuel Doria Medina e o ex-presidente Jorge Quiroga (2001-2002), lideram as preferências eleitorais.

Morales e o MAS governaram o país enfrentando uma intensa pressão da direita boliviana e do imperialismo. Foram as mobilizações populares, indígenas e operárias que garantiram o governo do MAS até as eleições de 2019, quando, mais uma vez candidato, Morales sagrou-se vitorioso. A direita, no entanto, auxiliada pela política golpista da Organização dos Estados Americanos (OEA) denunciaram fraude nas eleições, exigindo a anulação do pleito vencido por Morales. Pressionando e sem convocar as massas populares para resistir ao golpe direitista, Morales apresenta sua renúncia no dia 10 de novembro.

Após um breve período em que a senadora golpista Jeanine Añez ocupou a presidência, novas eleições foram realizadas em 2020, elegendo o candidato indicado por Morales, Luis Arce, um elemento sem qualquer vinculação com o movimento de massas, um tecnocrata da ala moderada-direitista do MAS que, se bem não tenha implementado uma política abertamente pró-imperialista, fez concessões importantes ao empresariado boliviano e à direita, chegando ao ponto de atritar-se com Evo Morales, que lhe dirigia críticas em relação aos descaminhos do seu governo. 

O fato é que a política de capitulação frente às pressões da direita golpista e a renúncia em apoiar-se nas mobilizações populares para enfrentar o imperialismo, conduziram o governo do MAS à bancarrota e à desmoralização ante os olhos da população.

O exemplo boliviano demonstra de forma cabal a necessidade da construção de partidos revolucionários de massas em todo continente latino, que  sejam capaz de superar a política de conciliação dos governos da esquerda pequeno-burguesa e conduzir os trabalhadores em direção à ruptura com a burguesia e o imperialismo e a instalação de governos operários apoiados nas massas populares.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 16/08/2025