Desde o início da ofensiva do enclave imperialista contra a Faixa de Gaza, em 7 de outubro de 2023, quase 110 mil palestinos podem ter sido assassinados. A estimativa consta em artigo intitulado Traumatic injury mortality in the Gaza Strip from Oct 7, 2023, to June 30, 2024: a capture–recapture analysis, assinado pelos pesquisadores Zeina Jamaluddine, Hanan Abukmail, Sarah Aly, Oona M R Campbell, Francesco Checchi e publicado na revista científica britânica The Lancet. Os autores basearam suas projeções em uma combinação de três bancos de dados distintos: registros hospitalares, formulários online preenchidos por civis e listas independentes compiladas a partir de redes sociais e obituários.

Ao analisar o grau de sobreposição entre esses registros, os pesquisadores identificaram uma subnotificação significativa, apontando para um número real de vítimas entre 46% e 107% superior ao divulgado oficialmente pelo Ministério da Saúde de Gaza. Até 5 de maio de 2025, o Ministério da Saúde de Gaza havia registrado oficialmente 52.615 assassinatos causados por bombardeios aéreos, ataques de artilharia e pelo colapso da infraestrutura sanitária. Os pesquisadores que analisaram esses dados, no entanto, estimam que o número real de mortos possa ter chegado a 109 mil — o equivalente a até 5% da população de Gaza antes da guerra.

Para chegar a essa cifra, o estudo utilizou um método estatístico chamado “captura-recaptura”, que compara diferentes listas de vítimas — registros hospitalares, formulários online preenchidos por civis e obituários publicados em redes sociais — para estimar a quantidade de mortes que escapam das contagens oficiais. Segundo os autores, “a baixa sobreposição entre as listas sugere subnotificação substancial”, indicando que muitas mortes aparecem em apenas uma das fontes e que nem mesmo a junção dos três bancos de dados é capaz de refletir com precisão o total de vítimas. A explicação para essa defasagem está na destruição da capacidade de registro do próprio Ministério.

O estudo publicado no Lancet informa que “o agravamento das operações militares israelenses em terra e os ataques às unidades de saúde prejudicaram gravemente a capacidade destas de registrar mortes de forma eletrônica”. Como resultado, o governo palestino passou a depender de meios improvisados de coleta de dados, como uma pesquisa online mantida por voluntários, muitas vezes em áreas sob cerco ou sem acesso à internet.

Outra limitação para apurar o número real de vítimas da barbárie sionista, segundo os autores, decorre da incapacidade de registrar assassinatos indiretos. Vítimas que morreram por doenças não tratadas, ferimentos não atendidos ou pela fome — consequência direta do cerco imposto ao território — não estão incluídas nas estatísticas disponíveis. Isso significa que a cifra total de assassinatos pode ser ainda mais alta do que os 109 mil projetados. “Uma contagem definitiva de quantos morreram nesta guerra será difícil, mesmo depois que ela terminar”, afirmam os pesquisadores. “E isso ainda pode demorar muito.”

Além disso, um estudo anterior, publicado também no The Lancet por uma equipe diferente, havia estimado que até 186 mil palestinos poderiam morrer como resultado direto e indireto da guerra. Essa estimativa se baseava em dados históricos de mortalidade em conflitos semelhantes, como os do Afeganistão e do Iraque, e calculava não apenas os mortos em bombardeios, mas também os efeitos prolongados da destruição de toda a infraestrutura existente.

O massacre promovido pelo país artificial tem como alvos principais mulheres, crianças e idosos. Segundo os dados oficiais palestinos, mais de 70% das vítimas registradas são civis, e aproximadamente metade delas são crianças e adolescentes. Mesmo essas estatísticas parciais já revelam que os alvos da operação genocida do regime de Benjamin Netaniahu não são combatentes da Resistência Palestina, mas a eliminação em escala industrial da população civil, em flagrante violação da Convenção de Genebra e do direito internacional.

A natureza sistemática e indiscriminada dos ataques também ficou evidente no estudo técnico publicado no início deste ano na mesma revista médica. Os autores, em sua maioria médicos e especialistas em saúde pública, compilaram dados da fase inicial da guerra, entre outubro e dezembro de 2023, e verificaram que 37% dos feridos com traumas múltiplos eram mulheres e 30% eram menores de 18 anos. Mais da metade dos ferimentos envolviam queimaduras extensas, lesões causadas por explosões e esmagamentos — típicos de bombardeios aéreos sobre áreas densamente povoadas.

Entre os que chegaram aos hospitais com vida, 5,6% morreram antes de receber qualquer atendimento, e cerca de 20% foram considerados casos de emergência imediata. A ausência de equipamentos, medicamentos, médicos e ambulâncias fez com que milhares morressem nas ruas, nos escombros ou dentro de abrigos improvisados. Muitos sequer puderam ser identificados ou enterrados. Como aponta o estudo, “o colapso dos serviços médicos torna impossível mensurar o impacto total da violência”.

O padrão de ataques e a localização das bombas — lançadas contra escolas, hospitais, campos de refugiados e até filas de distribuição de alimentos — comprovam a realização de um plano deliberado de genocídio. Um dos estudos lembra que “mortes indiretas frequentemente superam as diretas em situações de guerra prolongada”, uma vez que a destruição de serviços essenciais continua matando mesmo após o fim dos bombardeios.

A dimensão da chacina deixa dúvidas quanto ao fato de que encoberto pela justificativa de autodefesa, “Israel” está empreendendo uma campanha de extermínio promovida com o aval e o financiamento das principais potências imperialistas, com destaque para os Estados Unidos, que seguem fornecendo armas, munições e cobertura política ao enclave sionista. Enquanto isso, a maioria dos governos do mundo limitam-se a discursos genéricos de condenação ou ao envio simbólico de ajuda humanitária, mantendo relações diplomáticas, comerciais e militares com o regime assassino, como o Brasil.

Diante desse cenário, não basta apenas denunciar o genocídio. É preciso agir. A esquerda brasileira tem o dever de exigir do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva o rompimento imediato de todas as relações com a ditadura sionista.

Os acordos militares firmados durante os governos anteriores, inclusive aqueles que envolvem a compra de armas de empresas israelenses, devem ser suspensos. O mesmo vale para parcerias tecnológicas, culturais e de segurança, como o uso de softwares de espionagem desenvolvidos por empresas israelenses em polícias estaduais e órgãos federais.

Manter relações com “Israel” hoje equivale a manter relações com a Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial, mesmo após a revelação dos campos de concentração, onde eslavos, judeus e outros povos eram tratados com uma desumanidade chocante. Cada ato de normalidade diplomática com o enclave sionista legitima os assassinatos em massa e enfraquece a luta do povo palestino. O presidente Lula deve assumir uma posição firme em defesa dos povos oprimidos e também da soberania nacional, enfrentando o imperialismo e rompendo como a ditadura criminosa e genocida de Netaniahu.

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Last Update: 12/05/2025