Antes desprezada, na atualidade a China vive seu melhor momento, obrigando os que antes a desdenhavam a rever seus próprios conceitos. Não é diferente com a mídia brasileira. Se antes o país asiático era tratado, sobretudo, pela chave do regime político supostamente fechado e atrasado, agora é visto como sinônimo de modernidade e tecnologia levados a cabo pelo Partido Comunista da China.

O Fantástico, da TV Globo, é sintomático dessa mudança. O programa tem exibido a série “O Código Chinês” em que trata dos avanços obtidos no país nas últimas décadas. O deste domingo (24), tratou — em pouco mais de 16 minutos, um tempo bastante considerável para os padrões da tevê aberta — da tecnologia aplicada à fabricação de automóveis, o que mudou não apenas a qualidade dos veículos, mas também ampliou seu acesso à população.

O fio condutor da série mostra como o país asiático deixou, há muitos anos, de ser uma nação marcada pela pobreza para ser uma gigante nas mais diversas frentes, inclusive naquela que representa um dos maiores sonhos no sistema capitalista: a aquisição de um carro.

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Nessa seara, os Estados Unidos sempre estiveram na dianteira. Mas, há tempos vem comendo a poeira deixada pelos chineses. Segundo a reportagem, existem mais de 100 marcas de carro no país, contra 13 na terrinha do Tio Sam.

Em Wuhan, já estão em circulação 600 taxis autônomos, cada um ao custo de produção de US$ 27 mil, enquanto os similares americanos custam em torno de US$ 200 mil. Há, ainda, carros voadores sendo testados e, à venda, outros que mudam o ângulo sem sair do lugar, estacionam sozinhos ou pulam quando identificam um buraco na pista. Estes são apenas alguns dos exemplos de inovação mostrados.

“Os carros chineses já foram vistos como cópias baratas, mas hoje eles têm tecnologia de ponta e são muito baratos”, reconhece o repórter Felipe Santana, em Xangai, onde acontece uma feira que parecem vir do futuro.

Um dos pontos de virada para essa transformação está no acordo fechado nos anos 1990 entre os chineses e a General Motors (GM), dos EUA. Com uma diferença fundamental: metade da empresa passou a ser propriedade do governo chinês.

Essa mudança de paradigma, aliás, está no cerne do que se tornou a nação asiática: lá, o governo estabelece as diretrizes e toma medidas que visam não o lucro pelo lucro, como acontece nos países capitalistas, mas atender a nação e sua população, o que faz toda diferença e explica o salto dado pelo país desde o aspecto econômico até o social, passando também pelo ambiental.

Outro salto se deu quando a China decidiu trocar os motores a combustão pelos elétricos, colocando os chineses na vanguarda dos carros com energia limpa. Hoje, diz a reportagem, há mais de três milhões de carregadores elétricos públicos no país — chegando a 11 milhões quando somados aos de propriedade de cada consumidor. Nos EUA, são 196 mil e no Brasil, 12 mil.

“Os carros chineses viraram um problema por serem muito baratos, o que está deixando outros países de cabelo em pé”, ressalta o repórter. Dentre os motivos apontados estão a mão de obra mais barata — o que deve levar em conta algo não abordado, que são os serviços fornecidos pelo Estado, diferentemente dos EUA, por exemplo — e o fato de que muitas dessas indústrias são propriedades do governo.

Por isso, e tendo em vista os interesses nacionais, essas plantas foram planejadas para fabricarem muitos dos componentes necessários à produção de carros, ao contrário de montadoras de outros países que precisam comprar ou mesmo importar boa parte das peças.

Assim, o carro mais barato da China sai por R$ 30 mil — no Brasil, o mais em conta está em torno de R$ 75 mil, e nos EUA, custa R$ 115 mil. Tamanha diferença explica a tarifa de 250% imposta aos automóveis do país por Donald Trump desde o seu primeiro mandato.

Importante ainda lembrar que na batalha das tarifas imposta por Trump mais recentemente, os EUA saíram perdendo. Como resposta ao aumento, a China jogou para barrar as exportações dos imãs — uma das principais riquezas naturais da China, exportadas para os EUA e fundamentais para a fabricação de, entre outros produtos tecnológicos, o motor dos carros elétricos. E, frente ao desespero das montadoras estadunidenses, o aumento das tarifas foi pausado…

Nesse novo xadrez geopolítico, a China vem despontando por colocar em prática uma política de valorização do multilateralismo. E nesse diapasão, o Brasil, sob o comando do governo Lula, vem ganhando espaço nos negócios do país asiático, fechando uma série de parcerias estratégicas e trazendo bilhões em investimentos.

Sem fazer guerras ou intervenções em outros países, a China foi discretamente se desenvolvendo, à base de muito investimento em ciência, tecnologia e inovação e uma boa dose da paciência e da persistência típicas dos povos orientais, dando o tom de que a era do imperialismo estadunidense está com os dias contados.

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Last Update: 25/08/2025