Após o anúncio do presidente Donald Trump de que os EUA atacaram o Irã na noite deste sábado (21), uma das principais perguntas realizadas é quanto à capacidade de retaliação iraniana. O ataque criminoso foi direcionado contra três instalações nucleares do Irã, embora não tenha a amplitude propagada por Trump, é esperada uma resposta à altura do Irã.

Quem perde mais?

A situação da intervenção imperialista passa por uma crise ímpar, principalmente no Oriente Médio e Oeste da Ásia. O apoio do Irã às resistências islâmicas é inquestionável e providencial. Entretanto, aparece-nos a questão de que vale a pena o governo do Irã enfrentar o imperialismo diretamente.

Esse questionamento é respondido pelo aiatolá Ali Khamenei:

“Os americanos devem saber que qualquer intervenção militar americana será, sem dúvida, acompanhada de danos irreparáveis”, declarou Khamenei em um discurso televisionado. “A entrada dos EUA nesta questão [guerra] é 100% em seu próprio detrimento. O dano que sofrerão será muito maior do que qualquer dano que o Irã possa sofrer”, complementou o líder iraniano.

O discurso de Khamenei leva-nos a crer que o desgaste imperialista na região será superior ao imposto ao regime revolucionário iraniano.

Qual o cenário atual?

Há décadas o Irã sofre sanções do imperialismo, principalmente norte-americano, e a escalada do conflito com “Israel”, desde a agressão do dia 13 tem exaurido parte do estoque balístico do Irã, além da perda de alguma infraestrutura. Todavia, as forças iranianas ainda têm plena funcionalidade para disparar mísseis de longas distâncias, capazes de atingir até 2.500 km. Para entender o que isso significa, a distância em linha reta entre Zabol, no extremo leste do Irã, e Nahariya, no extremo oeste de “Israel”, é de aproximadamente 2.100 quilômetros, o que coloca todo o território da ocupação sionista no alcance das defesas da República Islâmica.

Isso significa que de seu território o Irã poderia atingir pontos estratégicos do imperialismo em quase todo Oriente Médio e da Ásia Ocidental. O Irã pode assim inviabilizar a presença imperialista no Estreito de Hormuz, e com o apoio do Iêmen no Mar Vermelho, talvez todo o Mar Arábico.

Estreito de Hormuz

Esse estreito é o canal de saída de quase toda produção petrolífera no Golfo Pérsico, escoando a produção de países como Arábia Saudita, Emirados Árabes e Qatar. Esse volume representa algo em torno de 20% de comercialização de petróleo no mundo.

Somente esse apontamento dá uma dimensão da possível crise para os monopólios imperialistas. Que pode ser agravado com o bloqueio do acesso ao canal de Suez pelo mar Vermelho.

Bases militares norte-americanas na extensão de fogo iraniano

Podemos elencar oito bases militares norte-americanas significativas na região que estão ao alcance da extensão do fogo balístico iraniano:

  • Base Aérea de Al Udeid (Catar): maior base do Oriente Médio, segundo dados de 2017, já hospedou mais de 11 mil homens das forças da coalizão anti-ISIL liderada pelos EUA e mais de 100 aeronaves operacionais;
  • Base Aérea de Al Dhafra (Emirados Árabes Unidos): a base hospeda a 380ª Ala Expedicionária Aérea, com aproximadamente 1.200 militares da ativa, o esquadrão do Esquadrão de Reparo Operacional Pesado Desdobrável de Engenheiros Rápidos (RED HORSE) com aproximadamente 400 homens, e o 32º Comando de Defesa Aérea e de Mísseis do Exército;
  • Atividade de Apoio Naval Bahrein (Bahrein): abriga o Comando Central das Forças Navais dos EUA e a Quinta Frota dos Estados Unidos;
  • Instalação de Radar de Dimona (Palestina Ocupada): Instalação do Radar de Dimona, radar AN/TPY-2 construída pela Raytheon, localizada perto de Dimona, Israel, operada pelos Estados Unidos;
  • Instalação de Apoio Naval Diego Garcia (Diego Garcia): Em 2012 abrigava os seguintes comandos, Esquadrão de Navios de Pré-Posicionamento Marítimo DOIS, Clínica de Saúde Branch, Estação Naval de Computadores e Telecomunicações, Destacamento Extremo Oriente Diego Garcia, Destacamento do Batalhão Móvel de Construção Naval, Centro de Mídia Naval Destacamento Diego Garcia, Gabinete de Comando de Transporte Marítimo Militar Diego Garcia, Instalação de Apoio à Missão, Centro Logístico de Frotas Diego Garcia, Departamento de Obras Públicas da NAVFAC;
  • Base Aérea de Muwaffaq Salti (Jordânia): Abrigar os esquadrões 1, 2 e 6 (General Dynamics F-16 Fighting Falcon), além de aeronaves e vários drones MQ-9 Reaper sendo parcialmente operada pelo 407º Grupo Expedicionário Aéreo;
  • Campo Arifjan (Kuwait): base logística avançada, Depósito de Classificação e Reparos de Aviação (AVCRAD da Força-Tarefa) para todo o Teatro de Operações do Sudoeste Asiático (por meio do Campo Aéreo do Exército de Patton), base de apoio terrestre para helicópteros e como frota de veículos blindados e não blindados.
  • Base Aérea de Ain al-Assad (Iraque): inicialmente projetada com custo de US$280 milhões, prevendo acomodações para 5.000 pessoas e com infraestrutura necessária.

Há uma imensa quantidade de alvos possíveis de sofrerem as retaliações iranianas, desde obras de infraestrutura à pessoal norte-americano no alcance dos mísseis. Algumas destas já sofreram danos em retaliações passadas. Nos últimos cinco anos, o Irã já demonstrou capacidade de atacar diversas instalações dos EUA no Oriente Médio, incluindo a base aérea de Ain al-Asad no Iraque (atingida com mísseis em 2020 e novamente em 2023 e 2024), bases no leste da Síria (como Deir ez-Zor e Al-Tanf), áreas próximas ao consulado americano em Erbil, no Curdistão iraquiano.

Rússia e China

Ainda temos que considerar a relação entre Irã e Rússia e China, com os quais mantém relações econômicas e políticas. O Irã ainda tem uma fronteira com a Rússia através do Mar Cáspio, sendo separada da China pelo Paquistão e Afeganistão.

Essas relações não somente podem significar uma linha de suprimentos como apoio econômico e militar. Deixando a intervenção imperialista em desvantagem num conflito a longo prazo.

Podemos concluir que uma guerra aberta entre os EUA e o Irã, não será tão tranquilo como tentar transparecer o mandatário norte-americano. Pelo contrário, a escalada do conflito com o país persa pode significar uma derrota significativa para o imperialismo.

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Last Update: 23/06/2025