
A extrema-direita brasileira, que até pouco tempo enaltecia Volodymyr Zelensky como um exemplo de resistência contra o “comunismo” e usava o presidente ucraniano como ferramenta para atacar o governo Lula, agora adota um novo tom.
Após o bate-boca entre Donald Trump e Zelensky na Casa Branca, figuras como Eduardo Bolsonaro, Carla Zambelli e Paulo Bilynskyj rapidamente se alinharam à postura do chefe americano – que despreza o líder ucraniano e está negociando diretamente com o amigo Putin para dar fim à guerra para explorar minérios na Ucrânia.
Leandro Ruschel, uma espécie de Olavo de Carvalho de saias, colunista do jornal paranaense neonazista Gazeta do Povo, foi de adorador do ex-comediante ucraniano a inimigo. “O discurso de Zelensky após ele deliberadamente ter implodido as conversas na Casa Branca é mais um claro ataque a Trump, disfarçado de um pedido de ajuda. Fica claro que ele está sendo usado pelos globalistas para minar a liderança de Trump, que está tomando medidas drásticas para retomar a soberania americana, seriamente comprometida pela infiltração globalista, pelas mãos dos democratas”, escreveu no X.
Durante o primeiro ano da guerra, Zelensky era visto por bolsonaristas como um símbolo de luta contra um adversário comum: a Rússia de Putin, descrita por eles como um regime herdeiro do comunismo soviético ou algo que o valha. Em 2022, Eduardo Bolsonaro lamentou o fato de a Ucrânia não ter armas nucleares. Declarou a um jornalista americano que a situação que ocorre no leste da Europa manda “um recado” para o resto do mundo sobre a necessidade de investir nas Forças Armadas.
Bilynskyj (PL-SP) viajou à Ucrânia em 2024 com outros parlamentares brasileiros para participar de uma palhaçada. Tratava-se de uma conferência denominada “Ucrânia e os Países da América Latina e do Caribe: cooperação para o futuro”.
O deputado, cujo avô serviu no exército nazista ucraniano, definiu como “pesadas” e “chocantes” as reuniões que tiveram no país. Tietou Zelensky, fez selfies e criticou a “posição diplomática vergonhosa do [presidente] Lula”.
No dia 28, mudou a conversa. “Zelensky errou, muito. Graças ao auxílio dos EUA e países europeus a Ucrânia sobreviveu à invasão Russa. A agressão de Putin é criminosa e injustificada, mas a falta de capacidade política de Zelensky colocou todo o esforço de guerra ucraniano em risco”, apontou no X.
Zelensky errou, muito. Graças ao auxílio dos EUA e países europeus a Ucrânia sobreviveu à invasão Russa. A agressão de Putin é criminosa e injustificada, mas a falta de capacidade política de Zelensky colocou todo o esforço de guerra ucraniano em risco.
— Delegado Paulo Bilynskyj (@paulobilynskyj1) March 1, 2025
No encontro em que humilhou o pateta da Ucrânia na Casa Branca, Trump montou uma emboscada. O cenário estava montado para ele sair como vencedor, mas Zelensky estragou a festa ao desafiá-lo em público. O embate selou a antipatia definitiva do republicano pelo ucraniano e marca o divórcio na OTAN. Os bolsonaristas tentam se adaptar ao novo script.
O apoio incondicional a Trump e a necessidade de manter alinhamento ideológico com sua gangue são mais fortes do que qualquer coisa próxima de coerência ou consciência. Se ontem Zelensky era útil para atacar Lula, hoje ele se torna um problema ao entrar em choque com Trump.
No Brasil, onde Bolsonaro se espelhou amplamente em Trump durante sua presidência, a fidelidade canina dos “patriotas” ao fascista americano continua inabalável.
Mais uma vez, lula coloca o Brasil internacionalmente no eixo das ditaduras, dos líderes que aviltam os direitos humanos.
Zelensky diz que Brasil e China só serão ouvidos quando “adotarem princípios das nações civilizadas”.
lula insiste que a base de um acordo de paz para a… pic.twitter.com/smUs4In0jf
— Carla Zambelli (@Zambelli2210) June 16, 2024