O encontro de quase três horas entre Donald Trump e Vladimir Putin, na Base de Elmendorf-Richardson, no Alasca, foi mais do que um gesto diplomático: simbolizou o fim de um período de isolamento político para o líder russo desde a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022. Recebido com pompa incomum para um adversário histórico dos EUA — incluindo carona na limusine presidencial “A Besta” —, Putin teve a oportunidade de dialogar diretamente com o presidente americano sem a presença de Volodymyr Zelensky ou líderes europeus.

Apesar de a guerra na Ucrânia ter sido anunciada como pauta central, o resultado ficou aquém das expectativas de um cessar-fogo. Houve apenas referências vagas a “avanços importantes” e um aceno para novos encontros, possivelmente até mesmo em Moscou.

Vitória diplomática para Moscou

Para Putin, a simples realização da reunião já foi um triunfo. Desde o início da guerra, a Rússia vinha sendo excluída de fóruns internacionais e o líder russo estava limitado a visitas a aliados como China, Bielorrússia e Coreia do Norte. Encontrar-se com o chefe da maior potência militar, em território norte-americano, representou a chance de mostrar que ainda é um ator indispensável no xadrez global.

O formato ampliado — com chanceleres e assessores presentes, rompendo com a abordagem “a portas fechadas” de 2018 — não diminuiu a importância do gesto. Pelo contrário, deu a Putin espaço para apresentar novamente as demandas centrais de Moscou: garantia de que a Ucrânia não integrará a Otan e reconhecimento das áreas já ocupadas, cerca de 20% do território ucraniano.

O cálculo político de Trump

Trump, por sua vez, procurou projetar a imagem de negociador pragmático, capaz de “preparar o cenário” para um acordo, sem assumir sozinho o ônus das decisões. Repetiu que caberá a Kiev decidir sobre concessões territoriais, mas não descartou abertamente a possibilidade de “troca de territórios”, algo que atende ao interesse do Kremlin.

Internamente, a postura gera riscos políticos: ao oferecer uma recepção calorosa a Putin e excluir Zelensky da mesa, Trump fragiliza a linha ocidental de “nada sobre a Ucrânia sem a Ucrânia” e se expõe a críticas de que estaria cedendo espaço a Moscou em troca de ganhos estratégicos para os EUA.

Preocupação na Europa e em Kiev

Para Kiev, o encontro representou um revés simbólico. Zelensky afirmou que a guerra continua “porque não há sinais de Moscou” de que pretende encerrá-la, e reforçou que espera dos EUA uma posição firme. A União Europeia, por sua vez, já advertiu contra qualquer solução que implique alteração forçada das fronteiras ucranianas.

A exclusão do presidente ucraniano da cúpula alimenta receios de que um eventual acordo seja costurado bilateralmente, sem levar em conta as prioridades de Kiev.

Nenhuma mudança no campo de batalha

Enquanto Trump e Putin trocavam elogios e sinalizavam futuras reuniões, os combates na Ucrânia prosseguiam. Mísseis e drones russos continuavam a atingir cidades ucranianas, e tropas do Kremlin avançavam lentamente no leste. A única medida prática discutida até agora foi um acordo limitado para troca de prisioneiros e restos mortais de combatentes.

Um jogo de tempo

Putin parece apostar na paciência estratégica: manter o diálogo aberto com Washington, evitar novas sanções duras e consolidar ganhos no terreno antes de qualquer compromisso formal. Trump, por outro lado, busca capitalizar politicamente a imagem de mediador sem se vincular diretamente ao desfecho da guerra.

O resultado, por ora, é um impasse diplomático: reaproximação pessoal entre líderes, mas nenhuma solução concreta para o conflito que já dura mais de três anos e redefiniu as linhas de segurança na Europa.

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Last Update: 15/08/2025