Em coletiva de imprensa nessa quinta-feira (13) ao lado de seu homólogo bielorrusso, Alexandre Lukashenko, o presidente russo Vladimir Putin informou que a Rússia concorda com a proposta de um cessar-fogo de 30 dias com a Ucrânia. No entanto, na visão do presidente, a questão-chave é o que fazer com a atual incursão ucraniana na região de Kursk. Ele acredita que um cessar-fogo na região seria benéfico para a Ucrânia, pois, sem ele, os ucranianos correm o risco de serem fisicamente bloqueados e ficarem com apenas duas opções: se render ou morrer.
Kursk é uma das regiões onde tem sido travadas as batalhas mais decisivas da guerra da Ucrânia. O território, pertencente à Rússia, foi invadido pelos ucranianos em agosto de 2024. O presidente destacou que as tropas russas estão avançando ao longo de quase 2.000 quilômetros de frente de batalha, e interromper as operações militares poderia comprometer as ações em andamento.
Comprovando o que disse Putin, o governo ucraniano ordenou, horas depois, a evacuação de oito localidades próximas à região de Kursk.
“Devido à piora da situação operacional na região e aos bombardeios constantes, foi decidido hoje (…) proceder à evacuação obrigatória da população de oito localidades” na região ucraniana de Sumy, anunciou o governo militar local em sua página no Facebook.
Em artigo publicado no dia anterior, a Russia Today (RT) mostrou como o exército russo se aproxima de uma vitória total contra as forças ucranianas. Sobre o importante reduto de Sudzha, localizado na região, a emissora russa havida dito que:
“Em 10 de março, seu colapso [das forças ucranianas] já era evidente. Unidades começaram a recuar de forma caótica, com algumas fugindo em direção à fronteira e abandonando seus equipamentos. Em 12 de março, as forças russas já haviam tomado a zona industrial, os subúrbios e o centro administrativo de Sudzha.”
No mesmo dia em que foi publicado o artigo da RT, o chefe do Estado-Maior russo, general Valery Gerasimov, alegou que as forças russas retomaram o controle de 86% do território ocupado pelos ucranianos desde agosto de 2024.
Durante a coletiva de imprensa, Putin reforçou que as tropas ucranianas que invadiram a região russa de Kursk estão agora isoladas. Ele destacou que não está claro o que será feito com esses soldados em caso de trégua.
“Devemos simplesmente deixá-los sair, depois de terem cometido crimes de guerra em massa contra civis? A liderança ucraniana dirá a eles para deporem as armas e se renderem?”, perguntou. “Esses 30 dias — como serão usados? Para continuar a mobilização forçada na Ucrânia? Para receber mais suprimentos de armas? Para treinar unidades recém-mobilizadas? Ou nada disso acontecerá?”.
Além das preocupações em torno da questão de Kursk, Putin também se mostrou preocupado no que diz respeito às garantias.
“Também queremos garantias de que, durante o cessar-fogo de 30 dias, a Ucrânia não realizará mobilização, não treinará soldados e não receberá armas.”
Putin assinalou que o cessar-fogo na Ucrânia deveria levar a uma paz duradoura e à resolução das causas fundamentais da crise. Ele acrescentou que impor um cessar-fogo em um campo de batalha tão vasto seria difícil, e que violações poderiam ser facilmente contestadas, levando a um jogo de acusações entre as partes. Segundo ele, sistemas de “controle e verificação” para monitorar a trégua não foram estabelecidos, mas deveriam ser acordados por ambas as partes.
Putin sugeriu que as questões que assinalou fossem discutidas com seu homólogo norte-americano, Donald Trump, para que enfim fosse encontrada uma solução viável.
“A ideia de encerrar o conflito por meios pacíficos é algo que apoiamos”, enfatizou.
O anúncio de Putin vem dois dias depois de o presidente sem mandato da Ucrânia, Vladimir Zelensqui, e o governo norte-americano, chefiado pelo republicano Donald Trump, anunciarem uma proposta de cessar-fogo por 30 dias. A proposta foi discutida em uma reunião de cúpula que ocorreu na cidade de Jedá, na Arábia Saudita. A proposta foi recebida com entusiasmo pelos chefes de Estado europeus, que são a favor da manutenção da guerra.
A proposta de Jedá, por sua vez, é uma resposta às tentativas de acordo entre o presidente norte-americano Donald Trump e o presidente russo Vladimir Putin. Em reunião na Casa Branca (sede do governo dos Estados Unidos), Zelensqui se mostrou publicamente contrariado com o acordo que vinha sendo costurado pela Rússia e pelo governo norte-americano. Apoiado pelos líderes europeus, Zelensqui foi para Jedá tentar um acordo que lhe parecesse mais favorável.
Reações às declarações de Putin
No mesmo dia em que Putin anunciou suas condições para aceitar o acordo proposto em Jedá, Donald Trump recebeu o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Mark Rutte. Durante o encontro no Salão Oval da Casa Branca, Trump elogiou a declaração de Vladimir Putin. No entanto, o presidente norte-americano acrescentou que seria “muito decepcionante” se a Rússia rejeitasse esse plano.
“Eu gostaria de encontrá-lo ou falar com ele”, disse Trump sobre o presidente russo, “mas a questão [do cessar-fogo] precisa ser resolvida rapidamente”.
Trump também afirmou que as discussões recentes entre os norte-americanos e os ucranianos trataram de “quais partes do território seriam mantidas e quais seriam perdidas, além de outros elementos de um acordo final” de paz.
“Também há a questão de uma usina elétrica”, disse Trump, mencionando “uma usina muito grande – quem ficará com ela e quem ficará com isto ou aquilo”.
O presidente sem mandato da Ucrânia, por sua vez, criticou as declarações de Putin:
“Todos ouvimos as palavras muito previsíveis e muito manipuladoras de Putin em resposta à ideia de uma trégua. (…) Putin, é claro, tem medo de dizer diretamente ao presidente Trump que quer continuar essa guerra, que quer matar ucranianos. Por isso, em Moscou, eles apresentam a ideia de silêncio com condições prévias, como se nada fosse acontecer ou como se isso devesse durar o máximo possível”.