O jornal Opinião Socialista, do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), publicou recentemente uma matéria com o título Governos são responsáveis por roubo bilionário de aposentados e pensionistas, na qual procura se aproveitar do escândalo fabricado pela imprensa golpista para responsabilizar o governo Lula por crimes que supostamente teriam sido cometidos por pessoas ligadas ao Ministério da Previdência Social.

Na matéria, o PSTU afirma que “a revelação do escândalo desencadeou, por sua vez, uma guerra de narrativas entre o governo Lula e bolsonaristas. O esquema teria começado no governo Bolsonaro […] e ganhou ainda mais impulso no governo Lula”, indicando que ambos os governos teriam responsabilidade sobre o caso. O artigo também destaca que “a explosão da arrecadação tenha ocorrido, principalmente, entre 2023 e 2024”, afirmando que o maior montante do suposto roubo teria ocorrido durante o governo do PT.

Após tanto alarde sobre o tal grande escândalo de corrupção, O PSTU afirma ainda que “há fortes evidências de, no mínimo, omissão do próprio ministro da Previdência, Carlos Lupi (PDT). Ele teria sido alertado das denúncias de fraude ainda em junho de 2023 e nada fez”.

Não se sabe, no entanto, quais seriam essas “fortes evidências”. O que se tem é a palavra de algumas testemunhas nada confiáveis – e apenas isso. É impossível provar que Lupi tinha o conhecimento que o PSTU, em coro com a imprensa burguesa, o acusa de ter.

O articulista continua dizendo que “o Congresso Nacional derrubou uma Medida Provisória, ainda de 2019, que regulamentaria uma revisão periódica dos descontos, mostrando que, ao menos, setores do parlamento não só sabiam como se beneficiavam do esquema”. É bem possível que o Parlamento pudesse colaborar em um esquema de corrupção como esse, mas isso também é demonstrativo de que a alta cúpula do governo Lula não necessariamente estaria envolvido nele.

É curioso que esta caso de corrupção tenha se tornado uma grande questão para o PSTU. Há duas razões prováveis para esse interesse tão elevado em algo que deve ser a regra em todo tipo de instituição pública do país: a primeira é que a grande imprensa está divulgando isso diuturnamente e procurando amplificar as dimensões do escândalo; a segunda é que é uma chance de ouro para fazer uma campanha pela desmoralização do governo do PT. E, como a imprensa burguesa também transforma o fato em escândalo pela segunda razão, acaba que a única razão verdadeira para o PSTU se interessar por isso é a chance de “jogar tinta” no governo Lula.

Chega a ser engraçado ler colocações como esta: “um desvio bilionário seria impossível de ocorrer, por tanto tempo, sem o envolvimento de peixes grandes no esquema, inclusive políticos”. Ora, por acaso o PSTU nasceu ontem? Um país que já foi vítima de governos como o de Fernando Henrique Cardoso – que entregou uma empresa do porte da Vale do Rio Doce, juntamente com todas as reservas minerais a serem exploradas por ela, a preço de banana para o imperialismo – agora ficaria escandalizado com um caso de corrupção tão secundário como este do INSS?

Ademais, não se deve reproduzir de forma inconsequente as acusações e apurações feitas pela imprensa burguesa. Nenhuma informação por ela passada é confiável, e escândalos que “explodem às vésperas do 1º de Maio”, como ressalta o próprio PSTU, são muito suspeitos e são, evidentemente, ataques políticos contra determinados elementos.

Transformar um amontoado de informações desencontradas da imprensa burguesa em um grande escândalo de corrupção só não é mais criminoso do que utilizar tal fato para atacar o governo do PT. A imprensa burguesa, embora ainda esteja colocando essa questão de forma um tanto quanto discreta, está evidentemente interessada em instrumentalizar esse caso do desvio no INSS para atacar o governo Lula.

Por fim, o PSTU utiliza sua própria entidade de apoio a aposentados, a Amap – filiada à Conlutas – para acusar o governo de corrupção. Segundo o articulista, o presidente da Amap afirma: “já havíamos alertado o governo sobre essas ocorrências. É preciso que as investigações possam ir a fundo e que as pessoas prejudicadas tenham seus recursos devolvidos o quanto antes” – em mais uma insinuação de que o governo já estava a par da situação e estaria, portanto, agindo como cúmplice.

Uma organização de esquerda séria jamais poderia se amparar em escândalos fabricados pela imprensa burguesa para atacar seus inimigos políticos. Não é de se surpreender que o PSTU, partido que apoiou o “Fora Dilma” no período anterior ao golpe de 2016 – e que até hoje não aceita que o impeachment da ex-presidente foi, efetivamente, um golpe de Estado – se aproveite para entrar numa posição golpista de esquerda contra o governo atual.

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Last Update: 09/05/2025