Algumas horas após o fascista Javier Milei, presidente da Argentina, e o delinquente político Antony Blinken, secretário de Estado norte-americano, acusarem o governo de Nicolás Maduro de fraudar as eleições na Venezuela, o portal Opinião Socialista, do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), reproduziu um artigo de seu “partido-irmão” no país caribenho, o Unidad Socialista de los Trabajadores (UST), em que repete as calúnias contra o regime chavista.

“Nesta segunda-feira, 29 de julho, a juventude e a população dos bairros populares venezuelanos tomaram as ruas de Caracas e de várias cidades do país para mostrar sua indignação frente à fraude nas eleições presidenciais que mantém no governo o ditador Nicolás Maduro. A resposta da ditadura foi uma repressão brutal contra os jovens desarmados. Até agora, contabilizam-se 7 mortos, dezenas de feridos, vários desaparecidos e uma centena de presos [grifos nossos]”

Qual a prova que o PSTU, que sequer consegue acompanhar os acontecimentos no Brasil, tem para acusar o governo venezuelano de fraude? Absolutamente nenhuma. Qual a prova da UST, cuja indigência política sequer lhe permitiu até hoje criar uma página na Internet, tem de que houve fraude? Também nenhuma. Os “partidos-irmãos” acusam o governo de manipular as eleições, portanto, não porque testemunharam alguma irregularidade, mas sim porque assim disseram os seus ventríloquos:

O problema, no entanto, vai muito além de utilizar as acusações feitas pelos maiores inimigos da classe operária mundial para provocar um governo de esquerda sul-americano. O PSTU, ao dizer que a tal “fraude eleitoral” despertou uma reação de uma “juventude desarmada” e da “população dos bairros populares”, está jogando areia nos olhos de todos aqueles que acompanham a situação venezuelana, na tentativa de esconder o que de fato acontece naquele país.

Os protestos não são de uma “juventude”. São de um grupo social já conhecido há duas décadas na Venezuela: os chamados “guarimberos”. E o que são eles? Milícias fascistas armadas, notoriamente financiadas pelo imperialismo, que procuram, por meio do terror, intimidar os apoiadores do chavismo. Estivessem o PSTU e a UST na Alemanha após a Primeira Guerra Mundial, chamariam os camisas pardas de Adolf Hitler de “jovens desarmados”!

A contabilidade dos mortos é, também, outro sinal de mau-caratismo político. De onde os autores tiraram esse número? Pix de R$100 para quem acertar! Acertou? Sim, isso mesmo, da grande imprensa. Novamente sem apresentar provas, a imprensa hoje faz um estardalhaço em torno das supostas mortes, sem nem sequer explica em que circunstâncias elas teriam supostamente ocorrido. Tais acusações têm tanta validade quanto a acusação de que os combatentes do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) teriam decapitado 40 bebês…

O mais aberrante, no entanto, não é que o PSTU adote a versão da imprensa imperialista acerca das “sete mortes”. Mas sim que ignore por completo as cenas de violência contra o povo venezuelano. Que ignore, por exemplo, que a “juventude desarmada” espancou pessoas nas ruas, conforme está devidamente comprovado.

Também é curioso que os “partidos-irmãos” ignorem que a “juventude desarmada” tenha queimado um hospital.

A acusação de “repressão brutal” é também uma patifaria. Se um governo nacionalista, apoiado pelas massas do país que detém as maiores reservas de petróleo do planeta, estivesse sendo ameaçado de ser derrubado por uma grande conspiração armadas por petroleiras como a ExxonMobil, ele não deveria tomar providências para desbaratar a operação golpista? E se essa operação golpista envolvesse bandos fascistas armados, não deveria ser respondida com violência?

Se fosse fato que morreram sete pessoas, ainda seria um número muito pequeno em comparação à repressão absolutamente necessária que o governo chavista deveria emplacar contra os mercenários financiados por Washington. Em 2017, por exemplo, esses mesmos grupos causaram a morte de mais de 100 venezuelanos, chegando a queimar pessoas vivas.

Ao contrário de uma “repressão brutal”, o que o governo venezuelano anunciou foi um conjunto de prisões em flagrante, cuja maioria das pessoas já possuía antecedentes criminais. Medidas que, repetimos, parecem brandas diante da brutalidade dos guarimberos.

O que poderia levar os “partidos-irmãos” a fazerem uma frente única com a extrema direita fascista e assassina venezuelana? A UST tem a resposta — e ela não é menos escatológica que a própria ideia de uma frente única com o fascismo.

PSTU e UST nos explicam que, diante da luta entre o povo venezuelano e o imperialismo, eles são “independentes”. Afinal, o governo Maduro seria o governo da “boliburguesia”, a oposição venezuelana seria a candidatura das “oligarquias” e a UST seria o partido que representa “os interesses da classe trabalhadora”.

Comecamos pelo mais grotesco. O termo “boliburguesia”, segundo diz o artigo, denomina o “setor que emergiu a partir de ações parasitas e corruptas do Estado, sendo intermediário de seus negócios com empresas privadas e multinacionais”. No que os “partidos-irmãos” se baseiam para caracterizar a classe social que domina o Estado venezuelano? Será que foi na obra de Karl Marx? Será que foi na obra de Vladimir Lênin? Pix de R$1.000 para quem acertar!

Isso mesmo, caro leitor. Quem utiliza o termo “boliburguesia” é o portal O Antagonista, um dos mais lavajatistas do País (Os burgueses de Maduro. O Antagonista. 7/2/2020)! Não deve ser coincidência que o seu fundador, Diogo Mainardi, tal qual um guarimbero venezuelano, foi acusado pelo movimento operário de ter se infiltrado em uma greve dos bancários para quebrar vidraças e, assim, provocar uma repressão policial.

O revolucionário Leon Trótski, que era bem menos criativo que o senhor Mainardi, diria simplesmente que o que há em vigor na Venezuela dos dias de hoje é o fenômeno do nacionalismo burguês. Muito mais que uma mera formulação teórica, Trótski apresentou o conceito científico do nacionalismo burguês após acontecimentos que pôde acompanhar de perto. Entre eles, a luta entre o nacionalismo mexicano, liderado por Lázaro Cárdenas, e os monopólios internacionais. Na época em que estava exilado no próprio México, Trótski escreveu:

“Nos países industrialmente atrasados, o capital estrangeiro desempenha um papel decisivo. Daí a fraqueza relativa da burguesia nacional em relação ao proletariado nacional. Isso cria condições especiais de poder estatal. O governo oscila entre o capital estrangeiro e o doméstico, entre a fraca burguesia nacional e o proletariado relativamente poderoso. Isso confere ao governo um caráter bonapartista distintivo. Ele se eleva, por assim dizer, acima das classes. Na realidade, pode governar ou tornando-se instrumento do capitalismo estrangeiro e mantendo o proletariado nas correntes de uma ditadura policial, ou manobrando com o proletariado e até fazendo concessões a ele, ganhando assim a possibilidade de certa liberdade em relação aos capitalistas estrangeiros. A política atual [do governo mexicano] está na segunda fase; suas maiores conquistas são as expropriações das ferrovias e das indústrias petrolíferas.

Essas medidas estão inteiramente dentro do domínio do capitalismo de estado. No entanto, em um país semicolonial, o capitalismo de estado encontra-se sob forte pressão do capital estrangeiro privado e de seus governos, e não pode se manter sem o apoio ativo dos trabalhadores. Por isso, tenta, sem deixar o verdadeiro poder escapar de suas mãos, coloca sobre as organizações dos trabalhadores uma parte considerável da responsabilidade pela marcha da produção nas indústrias nacionalizadas”

É essa, pois, a caracterização marxista do governo de Nicolás Maduro. Um governo que oscila entre o capital nacional e o capital estrangeiro e que, como tal, está muito mais vulnerável às pressões da classe operária. Um governo que, por suas próprias características, está em constante contradição com o imperialismo.

Sem perder de vista o problema da independência de classe, Trótski nunca elaborou como política aliar-se ao imperialismo para derrubar um governo do nacionalismo burguês. Muito pelo contrário: na medida em que estabeleceu as relações entre o nacionalismo burguês e as massas operárias, o revolucionário propõe

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Última Atualização: 31/07/2024