‘Psicologia de Massas e Bolsonarismo’ de Rita Almeida é uma reflexão sobre o período de 2018 a 2023 em que foi um dos maiores exemplos de como líderes extremistas conseguem formar grupos e massas a seu favor.
No Brasil, isso se refere bem mais do que um aspecto político, a ascensão desse tipo de líder no poder, revela camadas profundas de desejo, identificação e inconsciente coletivo, sentimentos que talvez a maioria não entenda o motivo, os aspectos abordados com rigor e profundidade.
No livro, todo o pensamento é norteado pela psicanálise, ela sendo a base teórica e clínica para que a escritora e seus leitores possam compreender esse fator consideravelmente um fenômeno de massas contemporâneo brasileiro, que conseguiu ocupar o posto de presidente em 2018, dominar não só a sociedade como as forças da nossa política
Mas o principal questionamento é: “O que leva as pessoas a aderir líderes e grupos que promovem a opressão e subserviência do outro?”, para responder essa grande dúvida a escritora utilizou a importante visão de Freud.
Para Freud, o laço em meio a uma situação deste tipo surge primeiramente por uma identificação, que pode acontecer de duas formas: com o líder – colocado no lugar de ideal do Eu – e entre os próprios integrantes do montante, que se registram em uma sintonia emocional comum.
Freud descreve esse processo como um conjunto de ‘hipnose e paixão’, onde o líder ocupa a posição de objeto para as massas, é também idealizado, causando uma grande fascinação que paralisa a crítica e a reflexão.
Sabendo dessas informações, conseguimosventender o raciocínio daqueles que levaram o ex-presidente Bolsonaro a ascensão e poder.
O bolsonarismo, expressão essa usada para se referir a uma grande legião de apoiadores, nesse momento passa a ser vista como um sintoma social e é questionado como podem existir pessoas que se identificam com seu discurso ignorante, preconceituoso, misógino, beligerante, inapropriado, com a sua estética tosca e fascista e sua agenda abertamente autoritária e reacionária?
A resposta, por sua vez, é contada e argumentada durante o desenrolar do livro, ela se baseia na exploração da natureza inconsciente dos desejos coletivos, que fazem com que os indivíduos se identifiquem com lideranças tirânicas, assim explicando que os apoiadores e seguidores de Bolsonaro na maior parte das vezes mantém alguns desejos e traumas reprimidos, e dessa forma não moldam não apenas a política, mas toda a sociedade.
O livro ainda conta com a participação de estudos realizados pela socióloga e doutora em ciências sociais Esther Solano, Isabela Kalil (antropóloga), Letícia Cezarino (antropóloga), Camila Rocha (doutora em ciência política), Adriana Reis (antropóloga) e Rosana Pinheiro Machado (antropóloga), cada uma delas abordou o tema de uma vertente e ponto de vista diferente, com objetivos diversos, mas todas com o mesmo foco de entender os adeptos e suas opiniões.
Qual foi o percurso para desenvolver os capítulos?
No capítulo 2, “Doentes de Brasil”, se dedica exclusivamente para esse ponto de ouvir os seguidores do ex-presidente.
No capítulo 3, “A arte como alvo”, ainda seguindo essa linha de pensamento e deixando os adeptos falarem, mas dessa vez com um foco maior aos detalhes dados sobre ataques que foram feitos à arte e suas manifestações.
“O fascismo dos bons homens”, também conhecido como o capítulo 4 é dedicado a revelar o que há de fascismo no bolsonarismo. A fim de manter a coesão de suas massas, a estratégia de propaganda bolsonarista foi fundamental, especialmente com o uso sistemático e eficiente dos meios digitais e das redes sociais.
Os capítulos 5 a 8 tratam dessas diversas estratégias para formar coesão, manipular e dirigir as massas. São eles: capítulo 5, “Uma batalha pela alma do Brasil”; capítulo 6, “A miséria sexual”; capítulo 7, “Entre a negação e o negacionismo”; capítulo 8, “Mercadores da dúvida”.
O capítulo 9, “O Brasil em transe”, vai tratar das formas de alienação, delírio e cinismo presentes nas massas bolsonaristas. No capítulo 10, “Com ódio e ignorância”, vai tratar desse afeto e de seus usos na política, especialmente nocivos quando associados à ignorância.
Já no último passo desta análise, “Tratamentos possíveis”, são oferecidos alguns desfechos e interpretações que vão desde uma manifestação de desejos inconscientes quanto um sintoma das contradições da sociedade brasileira, que devido a isso, podem contribuir com o debate sobre formas de superação desse movimento de massas de extrema direita que se aglutinou em torno de Bolsonaro, e que continuará sendo um desafio para ser compreendido e superado dentro dos próximos tempos, já que ele não desapareceu com a sua última derrota eleitoral.
Com base na psicanálise, a obra oferece interpretações e possibilidades de tratamento dessas características, defendendo que o primeiro passo para superar o bolsonarismo é reconhecê-lo como parte de nós mesmos.
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