Lideranças do PSDB avaliam como iminente a filiação de Ciro Gomes ao partido e veem na possível adesão do ex-ministro uma oportunidade de reorganização política diante das derrotas eleitorais recentes.
A informação foi publicada originalmente pela CartaCapital, que teve acesso a detalhes de uma reunião interna realizada na manhã desta segunda-feira, 16, com participação do presidente nacional do partido, Marconi Perillo.
Durante o encontro, Perillo compartilhou com aliados a expectativa de contar com Ciro nas fileiras tucanas em um futuro próximo. Segundo relatos de participantes, ele classificou a chegada do ex-governador como um “ganho” relevante para o PSDB, especialmente no cenário político do Ceará.
A declaração foi feita no contexto de uma avaliação interna sobre os prejuízos causados pela ausência de alianças consistentes nas últimas eleições e após o fracasso na tentativa de fusão com o Podemos.
A proposta de fusão com o Podemos vinha sendo tratada como alternativa para garantir fôlego à legenda, mas as negociações foram encerradas sem consenso.
O principal entrave foi a disputa por controle da nova sigla que surgiria da incorporação. Diante do impasse, a direção nacional do PSDB começou a avaliar outras estratégias de fortalecimento, com destaque para a articulação com Ciro Gomes.
O ex-governador do Ceará está há mais de uma década no PDT, mas tem mantido conversas reservadas com lideranças do PSDB. O principal foco dessas tratativas é a eleição estadual de 2026.
Em reuniões com parlamentares cearenses, Ciro já teria mencionado ter recebido um convite do ex-senador Tasso Jereissati para integrar o partido. Ele também teria defendido o nome de Roberto Cláudio, ex-prefeito de Fortaleza, para a disputa ao governo do estado.
Ainda de acordo com a apuração da CartaCapital, Perillo comentou que a formação de uma federação partidária poderia dificultar a adesão de Ciro, especialmente por conta de disputas locais. Nessa linha, a escolha por um partido com estrutura nacional, mas sem as obrigações formais de uma federação, seria considerada mais viável para o ex-ministro.
Em 2022, Ciro Gomes afirmou publicamente que não voltaria a disputar eleições, após obter 3% dos votos válidos na eleição presidencial, o pior resultado de sua trajetória política. Apesar dessa declaração, ele tem dado sinais de que pretende retomar protagonismo. A aproximação com o PSDB, nesse cenário, é avaliada como uma via possível de retorno ao centro das articulações nacionais.
A discussão interna do PSDB sobre a filiação de Ciro se dá em meio a uma tentativa de reposicionamento político da legenda.
Com espaço reduzido no Congresso e influência regional limitada, a direção do partido tem buscado formas de reconquistar relevância, especialmente em estados do Nordeste. A eventual chegada de Ciro pode contribuir para esse objetivo, especialmente se ele decidir se candidatar a um cargo majoritário em 2026.
A movimentação também é vista por dirigentes como uma tentativa de redefinir alianças no campo da centro-direita. Com o esvaziamento de nomes tradicionais e a fragmentação de siglas médias, o PSDB considera que nomes com trajetória nacional podem ter papel decisivo na consolidação de uma nova frente partidária até o próximo ciclo eleitoral.
No Ceará, a presença de Ciro no PSDB pode reorganizar o cenário político local. O estado tem sido um dos principais redutos eleitorais do ex-ministro, e sua migração para outra legenda teria impacto direto nas estratégias de oposição e governo. Embora ele não tenha confirmado candidatura, a movimentação interna indica articulações em andamento com vistas à construção de um novo palanque.
Não há, até o momento, confirmação oficial por parte de Ciro Gomes ou da direção nacional do PSDB sobre a filiação. No entanto, a sinalização feita durante a reunião desta segunda-feira reforça a expectativa entre lideranças da sigla de que o anúncio pode ocorrer nos próximos meses.
A eventual entrada de Ciro no PSDB também reacende debates sobre a reorganização das forças políticas tradicionais no Brasil. Com a polarização política mantida entre PT e PL, partidos historicamente relevantes como o PSDB buscam alternativas para recuperar espaço. A filiação de uma figura com histórico eleitoral expressivo e inserção no debate nacional é vista como um movimento estratégico para tentar reposicionar a legenda.
Enquanto isso, os desdobramentos da aproximação continuam sendo monitorados tanto por integrantes do partido quanto por adversários regionais e nacionais. A possível redefinição da trajetória política de Ciro Gomes pode alterar não apenas o equilíbrio de forças no Ceará, mas também o desenho da disputa eleitoral em nível federal.
