O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mudou consideravelmente a sua política comercial entre seus dois mandatos: enquanto a primeira gestão usava a tarifação como mecanismo de negociação, agora ela é uma ferramenta para controlar o mercado global e proteger a economia doméstica.
Apenas neste mês de março, o norte-americano impôs uma sobretaxa de 25% sobre as importações do Canadá e do México, além de dobrar as tarifas sobre produtos chineses.
Isso não apenas gerou turbulências nos mercados, como levou canadenses e mexicanos a adotarem estratégias retaliatórias. E tarifas sobre aço, alumínio e automóveis devem ser anunciadas nos próximos meses, o que vai afetar inclusive o Brasil.
“O “muro tarifário” que ele (Trump) quer construir em torno dos Estados Unidos não é apenas uma versão mais agressiva de suas políticas transacionais anteriores. Em vez disso, representa um esforço para remodelar a ordem econômica global e redefinir o papel dos EUA dentro dela”, diz o cientista político Ian Bremmer, presidente do Eurasia Group.
Em artigo publicado no site Project Syndicate, Bremmer destaca que o foco de Trump ao adotar medidas unilaterais é atingir a China, já que as medidas “pressionam tanto Pequim quanto aliados americanos a reduzirem a dependência da China em setores estratégicos, como semicondutores e minerais críticos”.
Segundo o articulista, a diferença sobre o uso das tarifas por Trump em seus dois mandatos não é apenas a intensidade. “A Agenda de Política Comercial de 2025 de seu governo se apresenta como ferramentas essenciais para repatriar cadeias produtivas, revitalizar a indústria manufatureira dos EUA e substituir receitas tributárias”.
Em linhas gerais, a estratégia trumpista busca proteger “a alma” norte-americana e impor um custo que seja suficientemente elevado para acessar o mercado do país – para Trump, a ordem econômica liberal do pós-guerra não foi a base da prosperidade americana, mas sim sua ruína.
“O mundo está entrando em um período de incerteza econômica não apenas porque as tarifas causarão alguma inflação e disrupções na cadeia de suprimentos, mas porque os EUA estão ativamente desmantelando a ordem econômica que criaram”, destaca o articulista, ressaltando que a política comercial do atual governo dos EUA “representa o maior desafio ao sistema de comércio global desde sua fundação”.
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