Fabíola de Andrade, rainha de bateria da Mocidade, desfile com um pingente com a letra R, menção ao marido Rogério de Andrade, bicheiro e patrono da escola. Foto: Tita Barros/Reuters

Embora o Carnaval de 2025 tenha sido marcado por inovações estéticas e criações exuberantes na Marquês de Sapucaí, a influência de figuras investigadas por envolvimento com o jogo do bicho seguiu presente de forma discreta. A recente produção documental “Vale o Escrito”, disponível na Globoplay, já havia lançado luz sobre a trajetória de bicheiros no Rio de Janeiro, mostrando como eles historicamente se relacionam com diversas escolas de samba da cidade.

Entre os nomes mais comentados, está o de Rogério de Andrade, sobrinho de Castor de Andrade, que foi patrono da Mocidade Independente de Padre Miguel até 1997. Mesmo cumprindo pena na penitenciária federal de Campo Grande (MS), Rogério é tido como uma espécie de mecenas da agremiação. Sua mulher, Fabíola de Andrade, rainha de bateria, desfilou usando um pingente com a letra “R” em referência ao marido, evidenciando o vínculo com o financiador e lamentando sua ausência na Avenida.

Outro destaque que chama a atenção é Adilson Oliveira Coutinho Filho, conhecido como Adilsinho. Ele não compareceu ao Sambódromo, mas recebeu menções e homenagens durante a passagem do Salgueiro. O patrono, considerado foragido por um mandado de prisão em aberto relacionado a homicídio, teve seu nome mencionado antes do desfile e foi lembrado em camisas com a inscrição “Amigos do Patrono”. As investigações do Ministério Público apontam Adilsinho como integrante da nova cúpula do jogo do bicho, com ramificações nos bingos clandestinos e no comércio irregular de cigarros.

Enquanto a presença de novos personagens gera burburinho, a antiga cúpula do jogo do bicho também marcou território. Anísio Abrahão David, patrono da Beija-Flor e de 87 anos, compareceu à Avenida, assim como Ailton Guimarães Jorge, de 83, o Capitão Guimarães, nome forte da Vila Isabel. Na letra do samba-enredo, a escola chegou a fazer menção direta ao “capitão”, descrevendo-o como o “maquinista” que conduz a “legião” do Boulevard 28 de Setembro.

Para as autoridades do Ministério Público do Rio de Janeiro, a influência de Rogério de Andrade e Adilsinho reflete uma troca de geração no comando do jogo do bicho, sem, contudo, romper os laços estabelecidos pelas lideranças mais antigas. Essa transição é acompanhada de disputas violentas, como a que resultou na morte de Fernando de Miranda Iggnácio, genro de Castor, em 2020. A polícia atribui o homicídio ao suposto envolvimento de Rogério de Andrade como mandante, num contexto de disputa pelo espólio do lendário bicheiro Castor.

Luiz Guimarães, presidente da Vila Isabel, é abraçado pelo pai, o bicheiro Capitão Guimarães. Foto: Reprodução

As agremiações costumam manter reserva sobre a origem dos recursos que as sustentam, o que dificulta esclarecer completamente a participação financeira de suspeitos de envolvimento com o jogo do bicho. Embora recebam verbas públicas, as escolas de samba não divulgam detalhadamente seus balanços e raramente se pronunciam sobre doações ou patrocínios feitos por figuras controversas.

As informações apresentadas constam em reportagem da Folha de S. Paulo, que tentou contato com as defesas de Rogério de Andrade e Adilsinho, mas não obteve retorno. Em notas anteriores à Justiça, os advogados negaram o envolvimento de seus clientes no jogo do bicho e em atividades ilegais.

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Last Update: 08/03/2025