Um dos pontos centrais do Projeto Brasil – a ser lançado pelo Jornal GGN – será a discussão de transição energética.

O país tem dois diferenciais relevantes.

O primeiro, é seu saldo ambiental, especialmente junto ao mercado de crédito de carbono. O segundo é o potencial de energia verde, que tem feito muitas indústrias da China e da Europa estudarem a transferência de produção para cá.

Com o auxílio da Inteligência Artificial, vamos levantar os principais pontos de uma política de transição energética.

Ela visa substituir gradualmente fontes de energia intensivas em carbono (como petróleo, gás natural e carvão) por fontes renováveis e sustentáveis (como solar, eólica, biomassa e hidrogênio verde), de forma a garantir segurança energética, desenvolvimento econômico e proteção ambiental. A seguir, detalho os principais objetivos e os pontos críticos dessa política:

Objetivos da política de transição energética

  1. Descarbonização da matriz energética
    • Reduzir emissões de gases de efeito estufa (GEE), alinhando o Brasil ao Acordo de Paris.
    • Promover uma economia de baixo carbono até 2050.
  2. Aproveitamento do potencial renovável
    • Expandir a geração solar e eólica, onde o Brasil tem vantagens naturais.
    • Valorizar o papel da bioenergia e do etanol, setores nos quais o país é líder global.
  3. Segurança e soberania energética
    • Diminuir a dependência de combustíveis fósseis importados.
    • Tornar o país menos vulnerável a crises externas de energia.
  4. Inclusão social e geração de empregos verdes
    • Criar empregos na indústria de energias renováveis.
    • Estimular o desenvolvimento regional em áreas com potencial solar e eólico.
  5. Inovação tecnológica e industrialização
    • Estimular a cadeia produtiva nacional de equipamentos e sistemas energéticos.
    • Atrair investimentos em tecnologias como hidrogênio verde e baterias.
  6. Justiça climática e transição justa
    • Garantir que trabalhadores e comunidades impactadas pela transição (ex.: regiões carboníferas) tenham alternativas sustentáveis e suporte governamental.

⚠️ Pontos críticos e desafios

  1. Inércia política e falta de planejamento de longo prazo
    • Ausência de um marco regulatório integrado e consistente.
    • Falta de coordenação entre os entes federativos e os setores público/privado.
  2. Interesses de setores fósseis
    • Forte lobby das indústrias de petróleo, gás e carvão.
    • Subsídios ainda existentes para combustíveis fósseis.
  3. Desigualdades regionais e sociais
    • Risco de aprofundamento de desigualdades se a transição não for planejada com equidade.
    • Falta de acesso à energia limpa em comunidades remotas ou pobres.
  4. Infraestrutura limitada
    • Linhas de transmissão insuficientes para integrar novas fontes (especialmente eólicas no Nordeste e solares no Centro-Oeste/Norte).
    • Dificuldade de armazenamento de energia e gerenciamento da intermitência.
  5. Financiamento e investimentos
    • Falta de mecanismos estáveis de financiamento verde.
    • Risco regulatório pode afastar investidores internacionais.
  6. Dependência do agronegócio e bioenergia
    • Concorrência por terra entre produção de alimentos, bioenergia e conservação ambiental.
    • Desmatamento pode comprometer a imagem e sustentabilidade da bioenergia.
  7. Tecnologia e capacitação
    • Baixo investimento público em pesquisa e desenvolvimento.
    • Falta de formação técnica para empregos na nova economia verde.

🌍 Modelos internacionais

🇩🇪 Alemanha (Energiewende)

  • Política de Estado iniciada nos anos 2000.
  • Grandes investimentos em solar e eólica, com metas ambiciosas de neutralidade de carbono até 2045.
  • Participação cidadã em cooperativas de energia renovável.
  • Exemplo positivo, embora enfrente desafios com segurança energética.

🇺🇾 Uruguai

  • Conseguiu transformar sua matriz elétrica em mais de 95% renovável em menos de 15 anos.
  • Investimentos públicos e parcerias privadas em eólica, solar e biomassa.
  • Modelo de coordenação estatal eficaz.

🇨🇱 Chile

  • Política agressiva de expansão da energia solar no deserto do Atacama.
  • Leilões públicos bem estruturados, atraindo investimentos internacionais.
  • Plano nacional de hidrogênio verde como prioridade estratégica.

🇨🇳 China

  • Maior investidor global em energia renovável.
  • Liderança industrial em painéis solares e baterias.
  • Estratégia coordenada de longo prazo, com forte presença do Estado.

🇮🇳 Índia

  • Programa ambicioso de energia solar para zonas rurais.
  • Parcerias internacionais para capacitação e transferência de tecnologia.

🧾 1. Quadro comparativo: Brasil x outros países na transição energética

Critério 🇧🇷 Brasil 🇩🇪 Alemanha 🇺🇾 Uruguai 🇨🇱 Chile 🇨🇳 China
% de eletricidade renovável ~85% (muito hidrelétrica) ~50% (principalmente solar/eólica) ~95% ~50% ~35%
Fonte renovável dominante Hidrelétrica, seguida por biomassa e solar Solar e eólica Eólica e biomassa Solar (deserto do Atacama) Solar, eólica, hidro
Plano estratégico Incompleto e fragmentado Energiewende (ambicioso) Políticas públicas eficazes Estratégia nacional clara Planos quinquenais com metas
Participação cidadã Baixa Alta (cooperativas) Média Média Baixa
Investimento público Limitado Alto Moderado Moderado Muito alto
Indústria verde nacional Em desenvolvimento Forte Limitada Crescendo Potência global
Transporte sustentável Foco em biocombustíveis Veículos elétricos Pouco desenvolvido Começando a eletrificação Trens e veículos elétricos
Descarbonização da indústria Lenta Em andamento N/A Começando Em rápida evolução

Propostas concretas para o Brasil

1. Plano Nacional de Transição Energética Justa

  • Criar um plano integrado (interministerial e federativo), com metas claras até 2050.
  • Garantir mecanismos de consulta e participação social, especialmente de comunidades impactadas (trabalhadores do setor fóssil, povos indígenas, quilombolas etc.).

2. Reforma dos subsídios energéticos

  • Reduzir gradualmente os subsídios aos combustíveis fósseis.
  • Redirecionar esses recursos para energias renováveis, eficiência energética e formação profissional.

3. Fomento à energia solar distribuída

  • Ampliar o acesso de residências, comércios e cooperativas à geração solar, com financiamento popular (inclusive via Caixa ou BNDES).
  • Criar programas específicos para instalar painéis solares em escolas, hospitais e prédios públicos.

4. Expansão e modernização da infraestrutura elétrica

  • Investir em linhas de transmissão para integrar regiões com alto potencial renovável (Nordeste, Norte).
  • Estimular o uso de baterias e sistemas de armazenamento.

5. Incentivo à industrialização verde

  • Criar zonas econômicas especiais para a cadeia produtiva do hidrogênio verde, eólica offshore, veículos elétricos etc.
  • Garantir conteúdo local na fabricação de turbinas, painéis, eletrolisadores etc.

6. Transporte sustentável

  • Ampliar a eletrificação do transporte público (ônibus elétricos) e do transporte de carga ferroviário.
  • Estimular o uso de biocombustíveis avançados (como etanol de segunda geração e biodiesel de resíduos).

7. Capacitação e inclusão no mercado de trabalho verde

  • Criar programas nacionais de requalificação para trabalhadores do setor fóssil.
  • Integrar a pauta energética à educação técnica e profissionalizante (SENAI, universidades federais, IFs).

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Last Update: 09/06/2025