A comunidade acadêmica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) se mobiliza contra uma nova diretriz incorporada pela instituição: a adoção de uma definição internacional para combater o preconceito contra judeus.
Na terça-feira 25, a Fundação São Paulo (Fundasp), mantenedora da universidade, incluiu em seu regimento interno um anexo que estabelece diretrizes para combater manifestações de preconceito e discurso de ódio contra esse grupo nos ambientes acadêmicos. O documento foi assinado em uma cerimônia com representantes da comunidade acadêmica.
Com isso, a PUC-SP aderiu oficialmente à definição de antissemitismo da Aliança Internacional para Memória do Holocausto (IHRA, na sigla em inglês).
A decisão foi tomada após o Grupo de Estudos sobre Conflitos Internacionais (GECI), coordenado pelos professores Reginaldo Nasser e Bruno Huberman, ter sido acusado de práticas antissemitas por estudantes da universidade, com o apoio da Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp). A Fundasp conduziu uma apuração e inocentou o coletivo das acusações.
Mesmo assim, a universidade decidiu incorporar o protocolo da IHRA. Em conversa com CartaCapital, Nasser questiona a própria definição adotada pela PUC-SP, que considera ambígua. “No começo, a diretriz menciona vagamente questões de racismo, mas depois dá destaque exclusivo ao antissemitismo. A definição cria uma ambiguidade. Diz que ‘não pode haver críticas ao Estado de Israel enquanto coletividade judaica’ e, na sequência, afirma que ‘é possível criticar Israel sem ser antissemita’.”
O grupo diz também que não ter sido consultado na elaboração do protocolo e questionam a influência de organizações israelenses na decisão da PUC-SP. Argumentam que a adoção da definição da IHRA reflete um movimento que tem buscado interferir na formulação curricular nas universidades .
“Não foi a Reitoria que fez isso, foi a Fundação. A PUC passou por cima de todas as instâncias representativas da comunidade acadêmica”, critica Nasser. “Há Conselho de Faculdade, Conselho Universitário. Foi uma decisão discricionária.”
Diante disso, o coletivo pede que a Fundasp revogue o protocolo e inicie um novo processo de formulação de diretrizes institucionais que contemplem o combate a todas as formas de discriminação no ambiente acadêmico.
Para Nasser, essa ampliação se torna ainda mais urgente diante das recorrentes denúncias de racismo dentro da PUC-SP, referindo-se ao caso de racismo contra cotistas da Universidade de São Paulo (USP) envolvendo alunos da instituição. “Apesar da abertura de processos contra os responsáveis, o episódio não recebeu a mesma atenção.”