Por João Pedro Silva – Repórter da Agência Brasil – Brasília

O apagão cibernético global que afetou sistemas operacionais de empresas e serviços de vários países, incluindo companhias aéreas, bancos, hospitais e canais de mídia, revela os riscos do acesso a dados armazenados em nuvem. A opinião é do professor e pesquisador Sérgio Amadeu, da Universidade Federal do ABC Paulista (UFABC), sociólogo e doutor em ciência política, e especialista em redes digitais.

Uma falha na atualização de conteúdo relacionada ao sensor de segurança CrowdStrike Falcon, que serve para detectar possíveis invasões de hackers, e é utilizado por empresas como a Microsoft, proprietária do Windows – usado largamente em computadores – foi a causa da pane, que gerou caos em aeroportos da América do Norte e Europa.

O Brasil também foi atingido, com falhas em aplicativos bancários e sistemas de hospital, mas em muito menos escala do que em outros continentes.

“Os sistemas tecnológicos [em geral] têm falhas, isso é inegável. Mas o que esse caso chama mais atenção é que a falha ocorreu no serviço de nuvem da Microsoft, principalmente quem usa soluções e sistemas que estão hospedados num datacenter e que você acessa seus dados e sistema remotamente. Os sistemas de nuvem são bastante ágeis, muitas vezes mais baratos, mas ele trazem esse problema e isso nos alerta que pode haver problemas muitos mais graves no futuro”, avaliou Amadeu, em entrevista ao telejornal Repórter Brasil, da TV Brasil, nesta sexta-feira.

O armazenamento em nuvem permite o acesso a dados e arquivos pela internet a partir de um provedor que armazena, gerencia e mantém servidores em datacenters que guardam essas informações. Segundo Sérgio Amadeu, atualmente, esses serviços estão concentrados nas mãos de poucas grandes empresas e isso chama atenção para a necessidade de proteger sistemas sensíveis do país.

“Uma falha em algumas máquinas que estão dentro do provedor de nuvem, dos datacenters da Microsoft, nos Estados Unidos, concentra tantos dados, tantos sistemas de várias empresas no mundo, que gerou um problema econômico global, tanto é que estamos chamando de apagão. A concentração de dados, de poder econômico que esses oligopólios digitais adquiriram, é muito grande. Então, o Brasil precisa pensar isso com muito cuidado. Se, por exemplo, sistemas sensíveis importantes, seja para governos, para sistema financeiro, para instituições educacionais, é vantajoso ter esses dados e sistemas hospedados remotamente”, observou.

Para o pesquisador, esse problema poderia acontecer com servidores que hospedam dados dentro da sua própria empresa ou no próprio país, mas o apagão cibernético desta sexta mostra os graves riscos do acesso remoto de sistemas e dados e a necessidade de se discutir soberania digital.

“Imagine um hospital que tem toda sua base de dados hospedada num provedor de nuvem, que muitas vezes esses dados não estão nem no Brasil. Isso traz um problema da soberania digital para nós”, ressaltou.

Pacheco defende regulamentação da Inteligência Artificial

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), comentou nesta sexta-feira (19) o apagão cibernético global que impactou sistemas operacionais de empresas e serviços de diversos países, incluindo companhias aéreas, bancos, hospitais e canais de mídia. Uma falha na atualização de conteúdo relacionada ao sensor de segurança CrowdStrike Falcon, que serve para detectar possíveis invasões de hackers, e é utilizado por empresas como a Microsoft, proprietária do Windows – usado largamente em computadores – foi a causa da pane, que gerou caos em aeroportos da América do Norte e Europa.

O Brasil também foi atingido, com falhas em aplicativos bancários e sistemas de hospital, mas em muito menos escala do que em outros continentes.

“Causa-nos apreensão os efeitos do apagão cibernético que atingiu operações de transporte, saúde e bancárias em regiões do planeta e no Brasil. Que os responsáveis atuem de maneira célere e transparente para o restabelecimento dos serviços e, principalmente, da segurança adequada aos usuários. A conectividade contribui para a amplitude de serviços essenciais do cotidiano. Mas quando há uma falha, a reação em cadeia é prejudicial a milhares de pessoas”, afirmou Pacheco, em declaração oficial.

Autor do projeto que regulamenta a inteligência artificial no Brasil (PL 2.338/2023), Pacheco pediu que o país aprove uma legislação para o setor. A própria empresa CrowdStrike, empresa responsável pela falha nos sistemas Windows, utiliza inteligência artificial no aperfeiçoamento dos seus serviços de segurança cibernética.

“Esse ambiente nos alerta para os riscos da segurança cibernética, e nos lembra ser essencial a regulamentação da inteligência artificial, projeto de minha autoria, para que tenhamos um cenário mais claro, seguro e adequado em relação ao uso de ferramentas virtuais e seus efeitos práticos sobre a sociedade”, acrescentou.

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Última Atualização: 20/07/2024