Os procuradores da antiga Operação Lava Jato montaram uma espécie de perseguição ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que incluiu monitoramento do ministro em falas e palestras e tentativas de afastá-lo do cargo.
É o que revela a revista Consultor Jurídico, em reportagem especial, que teve acesso a diálogos dos procuradores. Nessas conversas, os procuradores mostram o uso de associações e estrutura oficial do Ministério Público Federal para criar um roteiro de imagem negativa contra o ministro.
“A batalha da Lava Jato passa pela batalha contra GM [Gilmar Mendes]”, disse diretamente, em uma das mensagens, uma procuradora identificada como Monique, em maio de 2017.
Dias antes, o procurador identificado como Danilo disse que estava “muito desconfiado” do “silêncio” de Gilmar: “Acho que isso indica uma articulação”. “Com certeza está aprontando na surdina”, respondeu uma outra integrante do MPF. “Não há dúvida que está aprontando. Algo no STF”, continuou uma terceira.
O silêncio “desconfiado” dos procuradores foi referente à prisão dos ex-governadores do Distrito Federal José Roberto Arruda e Agnelo Queiroz naquele mês.
Um ano antes, a procuradora chamada Luciana disse que era preciso usar a ANPR para responder a falas de Gilmar Mendes sobre a Lava Jato:
“Gilmar resolveu ser, escancaradamente, o porta-voz da estratégia que acabou com as mãos limpas, aniquilando a imagem do MP perante a sociedade. Respostas precisam ser dadas. A sociedade entende que quem cala consente”, disse, à época.
E então propôs: “O que vocês sugerem fazer? Nota da ANPR (Associação Nacional de Procuradores da República)? Abaixo assinado de todos?”.
Em 2017, o procurador Deltan Dallagnol também se irritou com uma decisão do ministro da Suprema Corte, que derrubou determinação do juiz Marcelo Bretas, da Vara Federal do Rio de Janeiro, de prisão dos empresários Jacob Barata Filho e Lélis Teixeira.
“Caros, a decisão do Gilmar é absurda. Acho que vale a pena o MUDE repercutir e se posicionar. E mais, a decisão do GM é contra o Bretas, evangélico ponta firme (pelo que se fala)”, disse Dallagnol, em agosto daquele ano.
Um ano depois, o procurador Diogo Castor mostrava que a tática de usar a ANPR se mantinha para defesa da Lava Jato e ataques ao ministro Gilmar Mendes: “Prezados, sobre a fala do Gilmar Mendes em relação a mim, duas opções: 1) emitir nota da ANPR. 2) ignorar. O que acham melhor? Gilmar sempre bate e ninguém faz nada. Por isso ele continua”, dizia, em abril de 2018.
Ainda, em março de 2019, o procurador Roberson Pozzobon voltou a atacar Gilmar, por uma fala do ministro contra a Fundação da Lava Jato, com dinheiro da Petrobras, durante uma sessão no STF:
“Na sessão de ontem o ministro Gilmar Mendes ultrapassou todos os limites nas críticas, ofendeu de maneira contundente e por diversas vezes, ao proferir seu voto, os colegas da Lava Jato, o Ministério Público e as tratativas que resultaram na previsão da criação da fundação”, disse.