José Kobori era professor, assessor de investimentos, empresário e consultor bem sucedido e respeitado pelo mercado, até ser tocado pelo espírito lavajatista que contaminou as instituições brasileiras nos meados da década passada, e perder tudo – ou quase tudo – por ação do Ministério Público do Mato Grosso.
Hoje com um canal no Youtube com quase meio milhão de inscritos, Kobori se refaz após ser arrastado para o olho do furacão: um processo que, segundo ele, mirava acabar com a carreira política do ex-governador Pedro Taques, e que conseguiu mandar Kobori para a cadeia por 80 dias. De lá, só sairia se fizesse uma delação premiada, como mandava o modus operandi da Lava Jato.
Kobori não delatou e não confessou crime algum. Saiu da cadeia com ajuda do ex-ministro Gilson Dipp, o inventor das varas especializadas em lavagem de dinheiro – e, por ironia do destino, considerado por muitos o “pai” da Lava Jato.
Em entrevista exclusiva ao jornalista Luis Nassif [assista abaixo], Kobori contou em detalhes o que viveu na pele nos 80 dias em que ficou preso sob pressão para delatar. Segundo ele, o processo forjado pelo MP-MT era “esdrúxulo” e o instrumento da delação premiada por deturpado para beneficiar alguns.
A narrativa era de que Kobori, presidente de uma empresa que detinha contratos com o Detran de vários estados, teria usado parte de seu salário para pagar propina ao ex-governador Pedro Taques.
Preso injustamente, Kobori diz que sua vida virou do avesso, ele perdeu seus negócios, deixou de receber verbas que nada tinham a ver com a investigação, e seu status passou a ser de “leproso”. “Aí você descobre realmente que você tem um cifrão na testa, você tem um valor. A partir do momento que você não pode mais dar retorno, você vira um leproso. E a família é tudo. Alguns amigos sobram, e a família.”
A prisão de Kobori foi viabilizada pela delação do dono da empresa que ele presidia até meados de 2014. “O absurdo que é que o delator, o dono da empresa, ele assume o crime, assume que está envolvido no desvio de 34 milhões de reais, e a Justiça aceita uma delação com um acordo para ele devolver cinco milhões e a perder de vista. É completamente esdrúxula a situação desse processo. A lei de delação foi completamente deturpada durante esse processo.”
Na condição de presidente contratado, Kobori fez exatamente o contrário do que acusava o MP: auditou a companhia por ele considerada “politicamente exposta”, por viver de contratos com os Detran, e encerrou vários termos suspeitos, inclusive chegando a devolver recursos no caso de Mato Grosso.
Para Kobori, a acusação é falsa e ele foi vítima de uma perseguição política, já que o governador do Mato Grosso, Pedro Taques, era um desafeto do Ministério Público. Na entrevista ao GGN, ele também criticou a mídia por ter comprado a versão do Ministério Público sem questionar a verdade dos fatos.
O caso ainda teve desdobramentos em outras esferas da Justiça e não está encerrado, mas Kobori tem confiança de que sairá por cima e pretende buscar reparação pelas perdas sofridas. “Terminando o processo, vou responsabilizar o Estado por tudo que eu passei, por tudo que eu deixei de viver. E, obviamente, todas os entes privados envolvidos nisso também serão processados.”
Segundo ele, em relação ao governador Pedro Taques, o processo mingou tão logo o político foi varrido para fora da vida pública. Taques foi eleito senador em 2010, depois de pedir exoneração do Ministério Público. Em 2014, foi eleito governador do Mato Grosso. Foi derrotado na tentativa de reeleição em 2018, perdendo para Mauro Mendes.
Hoje, depois de tudo que passou, Kobori afirma que vê a vida de forma diferente. Ex-professor do Ibmec, vê seu canal crescer no Youtube e usa seu espaço para fazer, sobretudo, explanações e análises econômicas, agora com uma visão mais críticas às teorias de mercado.
“Como eu sou um cara do mercado falando mal do mercado, eu tenho recebido bastante apoio e procurado fazer esse papel de ser escutado. As pessoas têm um certo preconceito de escutar ideias diferentes.”
Assista a entrevista completa abaixo:
