
A privatização do saneamento no Rio de Janeiro, concretizada em 2021 com a venda de parte da Cedae à concessionária Águas do Rio, foi apresentada sob a falácia de ser uma solução para melhorar a eficiência e a qualidade dos serviços de água e esgoto na capital fluminense.
Leia também – “Querem fazer Caixa”, afirma vice-presidente sobre privatizações do sanemaneto pelo Brasil
No entanto, a realidade que se desenhou desde então tem sido marcada por uma série de problemas graves, que afetam diretamente a população carioca. O caso recente de interrupção do fornecimento de água em 37 bairros da Zona Norte, em meio a uma onda de calor extremo, é emblemático dos fracassos desse modelo de gestão privatizada.
Direitos violados
O episódio ocorrido em janeiro de 2024, quando a Águas do Rio cortou o abastecimento para realizar reparos na adutora de Benfica, expõe a falta de planejamento e a insensibilidade da empresa em relação às necessidades básicas da população.
Em pleno verão, com temperaturas que podem ultrapassar os 40 °C, milhares de pessoas ficaram sem água por dias, incluindo idosos acamados, segundo denúncia do Sindicato dos Trabalhadores em Saneamento e Meio Ambiente (Sintsama-RJ).
Tarifas abusivas
Além da falta d’água, os moradores enfrentam outro problema crônico: o aumento abusivo das tarifas. Segundo o Procon-RJ, as contas de água tiveram um aumento de mais de 500% desde a privatização, um valor que contrasta drasticamente com a piora na qualidade do serviço.
Reclamações sobre falta de pressão na rede, interrupções frequentes e atendimento precário – por falta de trabalhadores suficientes para atender a população – são comuns, relata a direção do Sintsama-RJ. “A insatisfação popular é tão grande que grupos como “Prejudicados pelo Águas do Rio”, no Facebook, reúnem milhares de pessoas que compartilham histórias de descaso e cobram ações do poder público”, alerta a entidade.
Risco à vida da população
Nesse contexto, o Sintaema tem sido uma voz ativa na luta contra os abusos da privatização. O Sindicato denuncia há anos os riscos da entrega de um serviço essencial à iniciativa privada, alertando para o aumento das tarifas, a precarização do serviço e o desmonte dos direitos da categoria.
Em um momento em que o Rio de Janeiro enfrenta temperaturas recordes e a ameaça de atingir o Nível de Calor 4, a falta d’água em 37 bairros é mais do que um inconveniente: é uma violação de um direito humano fundamental.
A privatização do saneamento, longe de ser a solução prometida, mostrou-se um fracasso que penaliza os mais vulneráveis e expõe as falhas de um modelo que coloca o lucro acima da vida. É urgente que o poder público reveja essa política e tome medidas para garantir que a população tenha acesso a um serviço de qualidade, a preços justos e com a dignidade que merece.
A luta do Sintaema é um chamado para que a sociedade não se cale diante desse desmonte e exija o que é seu por direito: água para todos, sem exceção.