O cardeal norte-americano Robert Prevost foi eleito novo líder da Igreja Católica nesta quinta-feira (8), adotando o nome de Leão 14.
A nomeação do primeiro papa nascido nos Estados Unidos provocou reações políticas imediatas, impulsionadas por postagens anteriores feitas em redes sociais com críticas diretas ao ex-presidente Donald Trump e ao atual vice-presidente JD Vance.
Antes de ser escolhido para suceder o falecido papa Francisco, Prevost utilizava a conta @drprevost na plataforma X (antigo Twitter) para expressar posições públicas sobre temas políticos e sociais.
A autenticidade da conta está sob verificação. Tentativas de confirmação foram encaminhadas à Santa Sé, à Diocese Católica Romana de Chiclayo, no Peru – onde Prevost atuou por anos – e à Embaixada do Peru junto ao Vaticano.
As publicações incluem republicações e comentários sobre temas como imigração, racismo, justiça social e mudanças climáticas. Em fevereiro deste ano, ele compartilhou um artigo com críticas à visão religiosa de JD Vance, intitulado “JD Vance está errado: Jesus não nos pede para classificar nosso amor pelos outros”.
Em abril, ao reagir ao encontro entre Trump e o presidente salvadorenho Nayib Bukele – que discutiram o uso de um presídio acusado de violações de direitos humanos para deter deportados dos EUA –, Prevost republicou a mensagem: “Você não está vendo o sofrimento? Sua consciência não está perturbada?”
A repercussão entre aliados conservadores de Trump foi imediata. A ativista Laura Loomer criticou publicamente a escolha do novo papa.
“Ele é anti-Trump, anti-MAGA, pró-fronteiras abertas e totalmente marxista, como o papa Francisco”, escreveu. O ativista Charlie Kirk também reagiu: “Papa Leão 14: republicano de Chicago e guerreiro pró-vida OU globalista de fronteiras abertas instalado para combater Trump?”
Apesar das críticas, Trump emitiu uma declaração favorável após a escolha de Leão 14: “Ter um papa dos Estados Unidos da América é uma grande honra”.
Questionado na Casa Branca sobre a possibilidade de um encontro com o novo pontífice, respondeu: “Eles já ligaram”. A administração presidencial evitou comentar as mensagens divulgadas pela antiga conta de Prevost, mas celebrou a eleição do papa norte-americano.
JD Vance, que tem histórico de divergências com a liderança anterior do Vaticano, demonstrou apoio. “Que Deus o abençoe!”, publicou no X.
Em 2024, ele havia se reunido com o então papa Francisco, na véspera de sua morte, em um encontro descrito como conciliador após anos de atritos sobre temas migratórios. Francisco chegou a classificar as políticas de imigração da gestão Trump como “uma desgraça”.
Leão 14, embora tenha feito críticas públicas anteriores a figuras do Partido Republicano, também compartilha pautas com segmentos conservadores. Ele mantém posição contrária ao aborto, ponto em comum com Trump e Vance.
Contudo, se diferencia na abordagem ambiental, tendo assinado e incentivado fiéis a apoiarem petições voltadas ao combate às mudanças climáticas. Em sentido oposto, Trump retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris sobre o clima durante seu mandato.
Em relação à justiça racial, Prevost expressou apoio aos protestos de 2020 que se seguiram à morte de George Floyd. Em maio daquele ano, publicou: “Precisamos ouvir mais líderes da Igreja se posicionando contra o racismo e em busca de justiça”, junto a uma série de mensagens pedindo o fim do preconceito racial.
Com histórico pastoral no Peru e nos Estados Unidos, o novo papa herda uma Igreja marcada por desafios internos e externos, incluindo tensões doutrinárias, disputas ideológicas e a crescente polarização política entre fiéis.
Internamente, a expectativa é que Leão 14 mantenha a orientação social e pastoral de Francisco, especialmente no apoio a migrantes e populações vulneráveis.
Na arena internacional, a liderança de um papa norte-americano se dá em um contexto de acirramento político nos Estados Unidos e de críticas recorrentes à presença da religião em pautas institucionais. A nomeação de Leão 14 reacende esse debate e deve influenciar a relação entre o Vaticano e autoridades norte-americanas nos próximos anos.
Ainda não há confirmação de uma visita oficial do novo papa aos Estados Unidos, mas interlocutores do Vaticano indicam que reuniões com líderes políticos americanos estão em planejamento. Até o momento, Leão 14 não se pronunciou oficialmente sobre as mensagens antigas publicadas na plataforma X.
O Vaticano também não comentou a autenticidade da conta atribuída ao pontífice nem emitiu nota sobre as reações políticas à sua eleição. A transição de liderança segue em curso com a formação da nova equipe de assessores papais, que deverá incluir representantes de diversas regiões do mundo.
A escolha de Leão 14 ocorre em um momento de redefinição da influência geopolítica da Igreja e da sua presença em debates sociais. Com a ascensão de um papa norte-americano, a relação entre o catolicismo e a política dos EUA entra em uma nova etapa, marcada por expectativas de continuidade doutrinária e disputas em torno de seu legado digital prévio.