Antes que 2025, ano de seu centenário, chegasse, Dalton Trevisan partiu. O escritor, que tinha 99 anos e vivia em Curitiba, cidade à qual sempre esteve colado o imaginário em torno dele, morreu na segunda-feira 9.
As informações sobre a morte foram tão escassas quanto aquelas sobre sua vida. A existência sempre recolhida, que lhe rendeu o apelido de “Vampiro de Curitiba” – nome de um de seus livros mais conhecidos, lançado em 1965 –, tornou-o, contraditoriamente, famoso.
Não foram poucas as vezes que jornalistas rodearam sua casa, na esquina das ruas Ubaldino do Amaral e Amintas de Barros, no bairro Alto da Glória, para tentar a entrevista que se sabia irrealizável.
No obituário publicado pelo jornal Folha de S.Paulo, a poeta paranaense Etel Frota descreve assim a lendária residência cujo aspecto foi, ao longo dos anos, se deteriorando:
“O portão da frente era baixo e vazado, a poucos passos da porta de entrada. Qualquer passante teria podido espiar o interior da casa sem recuo, através das janelas abertas diretamente para a calçada, não fossem as cortinas invariavelmente cerradas”.
Foi nessa casa que Trevisan, contista por alguns apontado como o maior do gênero no Brasil, produziu seus textos afiados, enxutos e, dentre os mais conservadores, entendidos como provocadores.
Trevisan, nascido em 14 de junho de 1925, filho do proprietário de uma fábrica de louças – onde chegou a trabalhar –, publicou o primeiro livro, a novela Sonata ao Luar, em 1945.
No ano seguinte, ele fundaria a revista literária Joaquim, que existiu até 1948, mas fez fama na curta vida.
O livro que projetou seu nome nacionalmente foi Novelas Nada Exemplares, lançado em 1959. Dentre suas obras estão: Ah, É?, A Guerra Conjugal, A Polaquinha, Pico na Veia e O Anão e a Ninfeta.
A Guerra Conjugal foi transformada em filme pelo cineasta Joaquim Pedro de Andrade e vários de seus textos foram levados aos palcos teatrais.
Trevisan ganhou quatro vezes o Prêmio Jabuti; duas vezes o Prêmio Portugal Telecom; e foi reconhecido também pelos prêmios APCA, Machado de Assis e Camões, este último conquistado em 2012 pelo conjunto da obra.
Ele nunca compareceu a nenhuma das cerimônias de premiação, assim como, certamente, não compareceria às comemorações em torno de seu centenário – que inclui a reedição de sua obra, hoje publicada pela Record, pela editora Todavia.
Publicado na edição n° 1341 de CartaCapital, em 18 de dezembro de 2024.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Recluso, conciso e muito premiado’