O Líbano enfrenta uma nova reviravolta política após a recente eleição do presidente Joseph Aoun. Em um movimento surpreendente, o parlamento aprovou a nomeação de Nawaf Salam, um juiz associado aos interesses sauditas e norte-americanos, como primeiro-ministro. Essa manobra foi um golpe de Estado contra o acordo previamente estabelecido entre o Hesbolá e a direita libanesa, que previa a manutenção de Najib Mikati no cargo. Sob o pretexto de consenso nacional, a direita rompeu o acordo e impôs seu homem de confiança, recebendo aplausos do imperialismo.

A nomeação de Salam ocorreu após consultas parlamentares obrigatórias, nas quais ele obteve 85 votos de um total de 128. Enquanto isso, Mikati, que era o candidato do Hesbolá no acordo, recebeu apenas uma fração dos votos, o que escancarou a ruptura. Essa decisão foi apoiada pela França e celebrada pelo presidente Emmanuel Macron, que saudou a escolha como um “passo em direção à mudança”. No entanto, para o Hesbolá, essa “mudança” reflete apenas a submissão ao imperialismo.

Acordo quebrado

O líder do bloco parlamentar do Hesbolá, Mohammad Raad, criticou o que descreveu como uma tentativa de minar a inclusão e a unidade nacional. Em uma declaração contundente, Raad afirmou:

“Mais uma vez, há esforços para criar divisão, perturbar a unidade e excluir outros.”

Ele também destacou que eleger Aoun foi uma tentativa positiva de promover cooperação, mas que o povo libanês estava sendo sabotado por aqueles que priorizam interesses estrangeiros sobre os nacionais.

A crítica do Hesbolá reflete a percepção de que a nomeação de Salam foi arquitetada pelos EUA e pela Arábia Saudita, com o objetivo de enfraquecer a Resistência e impor uma política alinhada ao imperialismo. Deputados ligados à oposição ao Hesbolá confirmaram que aguardavam “a palavra final da Arábia Saudita” antes de formalizar o apoio a Salam.

No Líbano, o presidente e o primeiro-ministro são eleitos pelos parlamentares em um sistema sectário que busca equilibrar o poder entre as diversas comunidades religiosas. No entanto, a manobra para instalar Salam expôs novamente as fragilidades desse sistema e a dependência das facções políticas libanesas de potências estrangeiras.

O acordo entre o Hesbolá e a direita, que garantiu a eleição de Aoun, previa a continuidade de Mikati como primeiro-ministro. Esse pacto visava estabilizar o cenário político e enfrentar os desafios econômicos e sociais que assolam o país. A imposição de Salam, porém, ameaça aprofundar as divisões e criar novos impasses entre as forças políticas.

Além disso, a mudança coloca em risco uma série de questões, como a reconstrução do país após a explosão no porto de Beirute e a implementação da Resolução 1701 das Nações Unidas, que visa manter a paz na fronteira com “Israel”. Para o Hesbolá, a prioridade é expulsar os ocupantes sionistas, libertar prisioneiros e reconstruir o país com base na unidade nacional – objetivos que dificilmente serão priorizados sob a liderança de Salam.

Direita ativa

Embora a direita libanesa tenha demonstrado capacidade de manobra política ao romper o acordo e impor Salam, sua força militar permanece severamente enfraquecida. O Estado, no Líbano, é quase uma ficção, sendo público e notório que o Hesbolá detém a maior e mais bem equipada força militar do país. A derrota das forças sionistas nas guerras recentes limitou a capacidade da direita de sustentar avanços significativos contra a Resistência Libanesa no país. Assim, embora possam causar instabilidade política, as vitórias são temporárias e insuficientes para alterar a conjuntura de forma significativa.

A escolha de Salam é um exemplo de como o imperialismo continua tentando influenciar a política libanesa por meio de aliados locais. No entanto, essas estratégias não apagam as derrotas militares sofridas por “Israel” e seus aliados, que permanecem incapazes de confrontar diretamente a Resistência.

Aplausos do imperialismo

A intervenção imperialista na política libanesa fica clara na celebração da França pela nomeação de Salam e na influência direta da Arábia Saudita sobre a oposição. Enquanto o presidente Aoun afirmou que a nova administração refletiria os “princípios do discurso de posse”, fica claro que a nomeação de Salam está longe de representar os interesses do povo libanês. Em vez disso, reflete uma tentativa desesperada do imperialismo de reafirmar sua influência em uma região onde perdeu força.

A fragilidade do sistema político libanês, somada às interferências externas, torna o país um palco de disputas entre forças internas e potências estrangeiras. Apesar disso, a Resistência diz que permanece vigilante e comprometida com a defesa da soberania libanesa, observando os movimentos da direita com paciência e sabedoria, como destacou Mohammad Raad.

O golpe orquestrado pela direita libanesa e apoiado pelo imperialismo é um novo desdobramento na guerra do imperialismo contra os povos árabes. Embora a direita tenha conseguido impor Salam como primeiro-ministro, a realidade política e militar no país indica que essa vitória é limitada e temporária. A Resistência segue como um obstáculo fundamental aos planos imperialistas na região.

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Last Update: 14/01/2025