O presidente do Líbano, Joseph Aoun, anunciou nesta segunda-feira (26) a formação de comitês conjuntos com representantes da Autoridade Palestina (AP) para tratar do desarmamento de organizações palestinas nos campos de refugiados da capital, Beirute. A medida, apresentada como parte de uma iniciativa de “segurança” e “respeito à soberania nacional”, foi anunciada durante encontro com uma delegação do Congresso dos Estados Unidos, liderada pelo senador Angus King.
Segundo Aoun, o objetivo é “abordar a presença de armas palestinas dentro desses campos”, com foco inicial em três localizações da capital. A medida é parte de um acordo firmado dias antes com o presidente da AP, Mahmoud Abbas, que esteve no país entre os dias 21 e 23 de maio.
O plano estabelece que o Estado libanês deve manter o monopólio das armas e que nenhuma organização poderá conduzir operações armadas a partir do território libanês. A iniciativa é parte da ofensiva coordenada entre a AP, o governo libanês e o imperialismo norte-americano para desarmar a Resistência Palestina e o Hesbolá, principal força armada do país e integrante central do Eixo da Resistência.
Repressão articulada
A visita de Abbas ao Líbano coincidiu com uma intensificação das pressões internacionais para o desarmamento do Hesbolá e das forças armadas palestinas. A medida é uma exigência antiga de Washington e Telavive, agora reforçada por declarações da diplomacia norte-americana. Morgan Ortagus, vice do enviado especial dos EUA para o Oriente Médio, declarou que “o Líbano fez mais nos últimos seis meses do que provavelmente nos últimos quinze anos”, exigindo o “desarmamento total” do Hesbolá em todo o território nacional.
Em artigo recente, o think tank Washington Institute for Near East Policy afirmou abertamente que “desarmar as facções palestinas no Líbano significa desarmar o Hesbolá”, revelando que o verdadeiro alvo da operação são as forças revolucionárias que combatem a ocupação sionista. O texto detalha a presença de cerca de 1.500 combatentes do Hamas nos campos palestinos de Beirute, atuando conjuntamente com a Jiade Islâmica Palestina e outros grupos organizados.
Ainda segundo o Washington Institute, as autoridades libanesas emitiram um “alerta” aos grupos palestinos contra qualquer atividade militar no país e prometeram que os campos “não serão mais refúgios seguros para grupos extremistas”.
Abbas como agente do imperialismo
A ofensiva contra a resistência conta com a ação direta de Mahmoud Abbas, presidente da AP e aliado do regime sionista. Segundo fontes ligadas ao próprio imperialismo, Abbas está tentando comprar a desmobilização dos militantes do Fatá oferecendo “posições alternativas e benefícios generosos” em troca da entrega das armas. Entretanto, mesmo esses setores da burocracia palestina estariam resistindo à proposta, pois muitos de seus líderes já romperam com Abbas e hoje estão alinhados ao Hesbolá e à Força Quds do Irã.
O objetivo da operação, segundo analistas norte-americanos, é transformar o Hamas e outros grupos em entidades “puramente políticas”, eliminando sua capacidade militar e, assim, neutralizando a principal forma de resistência à ocupação de “Israel”.
Resistência não se rende
Em declaração recente à emissora catarense Al Jazeera, o dirigente do Hamas Mahmoud Mardawi, rejeitou categoricamente a proposta de desarmamento: “Rejeitamos o apelo do Presidente Abbas para entregar as armas da resistência enquanto a ocupação permanecer em terras palestinas”, disse.
O Hesbolá também reiterou que não aceitará qualquer tentativa de desmobilização. Em discurso realizado no dia 18 de maio, o vice-secretário-geral do partido, xeique Naim Qassem, afirmou:
“‘Israel’ busca despojar o Líbano de seu poder clamando pelo desarmamento da resistência — você espera que fiquemos impotentes para que ‘Israel’ possa invadir livremente? Isso jamais acontecerá.”
Um plano mais amplo
A iniciativa de desarmar a resistência no Líbano faz parte de um esforço mais amplo do imperialismo para tentar conter o avanço do Eixo da Resistência após os sucessivos fracassos militares de “Israel” contra o Hamas e o Hesbolá. Isolado internacionalmente e com a crise em Gaza ganhando proporções catastróficas, o regime sionista aposta na repressão política às forças que se mantêm em armas.
No Brasil, a ofensiva já se manifesta. Os Estados Unidos ofereceram recentemente US$10 milhões por informações que levem à suposta “identificação” de militantes do Hesbolá na Tríplice Fronteira. A medida é parte da tentativa de criminalizar internacionalmente o partido, associando-o falsamente ao tráfico de drogas e ao terrorismo.
O plano do imperialismo é claro: desarmar a resistência para preservar sua dominação sobre o Oriente Médio. Mas a resposta de seus inimigos também é inequívoca. Hamas, Hesbolá e os demais grupos revolucionários não recuarão enquanto existir ocupação, agressão e dominação estrangeira. A resistência armada segue sendo a única via real de libertação nacional.