A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou nesta quarta-feira (10) que a União Europeia adotará medidas punitivas contra o governo de Israel diante da ofensiva em Gaza.

Em discurso no Parlamento da União Europeia, em Estrasburgo, ela classificou a situação no enclave palestino como “catastrófica” e declarou que “o que está acontecendo em Gaza é inaceitável”.

A proposta inclui sanções contra ministros e colonos extremistas, suspensão de pagamentos bilaterais e até a paralisação parcial do acordo de associação comercial entre Bruxelas e Tel Aviv.

A guinada da Comissão Europeia, após meses de inércia, gerou forte reação no plenário e revelou a divisão política dentro do bloco. Parlamentares de esquerda e centro-esquerda aplaudiram as medidas, alguns vestindo vermelho em solidariedade ao povo palestino.

Já eurodeputados de extrema direita, como integrantes da AfD alemã, reagiram com protestos e vaias.

Fora do Parlamento, a repercussão foi imediata em Tel Aviv. O chanceler israelense, Gideon Sa’ar, usou a velha retórica sionista e acusou von der Leyen de ecoar “a propaganda do Hamas e de seus parceiros” e disse que as declarações eram “lamentáveis” e “contrárias ao espírito de parceria entre Israel e a Europa”.

Von der Leyen afirmou que a Comissão proporá sanções contra figuras como Itamar Ben-Gvir e Bezalel Smotrich, ministros israelenses de extrema direita que incitam violência contra palestinos.

Também prometeu congelar o apoio financeiro da União a Israel, preservando apenas os repasses destinados à sociedade civil e ao museu do Holocausto Yad Vashem. Além disso, anunciou a intenção de suspender as partes comerciais do acordo de associação entre UE e Israel, que garante acesso preferencial aos mercados europeus.

A medida, se concretizada, afetaria diretamente a economia israelense: em 2024, a União respondeu por 32% do comércio externo de Israel, movimentando € 26,7 bilhões em exportações de máquinas, produtos químicos e equipamentos de transporte.

As propostas, no entanto, deve enfrentar resistência dentro do bloco. Países como Espanha e Irlanda têm defendido há meses restrições econômicas e até embargo de armas contra Israel, mas outras capitais, como Alemanha, Hungria, Polônia, Áustria e Tchéquia, seguem alinhadas a Tel Aviv.

Von der Leyen reconheceu que a ausência de consenso “alimenta a raiva pública” e defendeu o fim da unanimidade nas decisões de política externa da União, em uma tentativa de acelerar medidas em situações de crise.

Para parte da esquerda europeia, contudo, as iniciativas são tardias. A socialista Iratxe García Pérez declarou que a proposta é “muito pouco, muito tarde” e criticou duramente o recente acordo comercial da presidente da Comissão com Donald Trump, que chamou de “abuso de poder” e de “tentativa de enterrar a autonomia estratégica europeia sob um campo de golfe”.

Além de Gaza, o discurso também mirou a guerra na Ucrânia. Von der Leyen defendeu novas sanções contra Moscou, classificou como “imprudentes e sem precedentes” as violações de drones russos no espaço aéreo da Polônia e garantiu “plena solidariedade” a Varsóvia.

Anunciou ainda a preparação do 19º pacote de sanções contra a Rússia, incluindo o bloqueio da frota paralela usada para transportar petróleo e medidas contra países que ajudam Moscou a contornar restrições.

A Comissão trabalha em uma proposta para usar os juros de € 300 bilhões em ativos russos congelados no Ocidente como base para um “empréstimo de reparações” à Ucrânia. Também prometeu convocar uma cúpula internacional para coordenar o retorno de crianças ucranianas sequestradas por tropas russas.

No balanço político, a fala foi marcada por uma tentativa de recuperar terreno após meses de desgaste. Von der Leyen recebeu críticas intensas durante o verão europeu, tanto pela passividade frente ao massacre em Gaza quanto pelo acordo com Trump.

Ela buscou acenar à esquerda com compromissos sociais, prometendo uma estratégia de erradicação da pobreza até 2050 e reiterando a meta climática da União. Também mencionou iniciativas para regulamentar o uso de redes sociais por crianças, inspiradas no modelo australiano.

Mesmo assim, enfrentou hostilidade da extrema direita no Parlamento, que a vaiou ao tratar de vacinação e combate à desinformação.

O endurecimento do discurso contra Israel, contudo, foi o ponto central do pronunciamento. Von der Leyen falou em “fome causada pelo homem” e disse que “pela humanidade, isso precisa parar”. O gesto reforça a pressão de movimentos sociais e governos europeus que exigem medidas concretas diante das denúncias de genocídio em Gaza.

Mas, diante do peso econômico de Israel e da falta de consenso interno, permanece a dúvida se as propostas conseguirão se converter em decisões efetivas da União Europeia.

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Last Update: 10/09/2025