Este ano, o Prêmio Paulo Gustavo, que homenageia artistas da comédia, gerou um clamor por justiça. Uma das agraciadas, in memoriam, era a artista circense Ana Luiza Silva, brutalmente assassinada em dezembro de 2023, em Presidente Figueiredo (AM), quando tentava voltar para a casa de sua mãe, na Venezuela.
Autora do prêmio e responsável pela indicação de Ana Luiza, a deputada Maria José Fernandes (PCdoB-RJ), destacou a importância desta homenagem. “A entrega desse prêmio também é uma cobrança, um clamor por justiça. Essa investigação está num caminho incorreto. Ana Luiza foi brutalmente assassinada, teve seu corpo ocultado. Ela era a expressão de um espírito livre e por onde passava deixava sua arte como uma expressão de amor. Não podemos deixar de fazer dessa homenagem uma denúncia. Ela merece que a gente continue cobrando justiça e que esse crime seja elucidado”, destacou Maria José.
A palhaça Júlia, como era conhecida sua personagem, era uma cicloviajante e rodava o país com sua bicicleta, se apresentando por onde passava, quando teve sua trajetória interrompida. Ana Luiza foi vítima de estupro, morta e teve o corpo ocultado pelos assassinos. O caso, no entanto, tem sido investigado como latrocínio e a luta da família da artista é para que o crime seja tratado como feminicídio.
A classificação de um crime como feminicídio não é apenas uma questão semântica ou jurídica, trata-se de reconhecer a especificidade da violência de gênero e o contexto social em que ocorre.

No Brasil, desde 2015, uma lei alterou o Código Penal o reconhecendo como qualificadora de crimes de homicídio. Em outubro deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou uma nova lei que aumenta para até 40 anos a pena para casos do tipo.
Em muitos casos, como o de Ana Luiza, a violência de gênero é motivada por discriminação e desigualdade que afetam as mulheres, com um risco diferenciado às migrantes, que também sofrem com a xenofobia.
Odília Santos, artista pernambucana que veio receber a homenagem feita à Ana Luiza, destacou que a amiga foi assassinada por ser mulher, migrante. “Ana Luiza foi brutalmente vítima de feminicídio no Estado brasileiro. Ela não morreu por causa de um celular, ela morreu por que era mulher, migrante. Ana Luiza era uma artista que merece de verdade esse premiação e reconhecimento por seu trabalho”, disse.
A família de Ana Luiza lidera uma mobilização para que o crime seja tipificado como feminicídio pela Justiça brasileira, argumentando que a violência sofrida por Ana Luiza carrega traços de misoginia e xenofobia, considerando que era uma mulher e migrante venezuelana.
Sofia Silva, irmã de Ana Luiza, em carta lida por Odília na premiação, lembrou a trajetória da irmã, a luta da família e pediu que o legado de Ana Luiza tenha continuidade e a arte e a cultura cheguem ao Brasil profundo.
Além da artista circense, a edição de 2024 do Prêmio Paulo Gustavo também homenageou Antônio Carlos Bernardes Gomes (Mussum) – In Memoriam, representado pelo seu neto Pedro Mussum Neto; Ziraldo – In Memoriam, representado pela viúva Márcia Martins Alves; Nathalia Ponto Cruz; e Paulo Vieira.
