Os preços do café começaram 2025 em alta, mantendo a tendência registrada no final do ano passado. Em janeiro, o valor médio pago ao produtor pela saca de 60 quilos de café arábica alcançou R$ 2.301,60, o maior patamar da série histórica do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq-USP, iniciada em setembro de 1997.

A elevação nos preços reflete a oferta restrita tanto no Brasil quanto no mercado global, além do alto volume de café já comercializado pelos produtores. Dados do Cepea mostram que a valorização do robusta foi ainda mais expressiva, com um aumento de 173% em 12 meses — no início de 2024, a mesma saca custava R$ 759. Já o arábica teve uma valorização de 145% no período, passando de R$ 1.009 para os atuais valores.

No fim de janeiro, o robusta era negociado a R$ 2.074 por saca, enquanto o arábica chegou a R$ 2.508, aproximando-se do recorde de R$ 2.550, registrado em fevereiro de 2024. A alta também tem impacto direto para o consumidor: segundo o IBGE, o preço do café torrado e moído subiu 39,6% nos últimos 12 meses, encerrando 2024 a R$ 48,90 por quilo e ultrapassando R$ 50 no início deste ano.

Para o pesquisador Renato Garcia Ribeiro, do Cepea, a valorização do café tem sido impulsionada por diversos fatores. O consumo global segue elevado, enquanto os dois maiores produtores mundiais — Brasil e Vietnã — enfrentam safras menores. Além disso, os estoques estão reduzidos, o que pressiona ainda mais os preços. O impacto do câmbio também é significativo: a valorização do dólar frente ao real torna o café brasileiro mais competitivo no mercado internacional, mas eleva os custos internos.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta uma produção de 51,8 milhões de sacas em 2025, o que representa uma queda de 4,4% em relação à safra anterior. A colheita do arábica começa em maio, e a recuperação da produção deve ser lenta, já que a cafeicultura é uma cultura de ciclo longo: uma nova planta leva de 28 a 30 meses para começar a produzir.

O cenário climático também preocupa. Segundo Antônio de Salvo, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg), a seca severa que atingiu o Vietnã entre 2022 e 2023 reduziu drasticamente a produção do país, impactando a oferta global. No Brasil, as condições climáticas foram irregulares: algumas regiões produtoras, como o sul de Minas Gerais, enfrentaram chuvas abaixo da média, enquanto outras, como Guaxupé, receberam volumes acima do esperado.

As exportações brasileiras, apesar da queda em dezembro, fecharam 2024 com um recorde de 50,4 milhões de sacas exportadas, um crescimento de 29% em relação ao ano anterior. O Brasil segue como maior produtor mundial, responsável por 60 milhões de sacas anuais40 milhões de arábica e 20 milhões de robusta. O Vietnã, segundo maior produtor, colhe cerca de 30 milhões de sacas, sendo quase toda a produção de robusta. A Colômbia, terceiro maior produtor, registra 12 milhões de sacas anuais.

Com a demanda aquecida e a oferta reduzida, a expectativa do setor é de que os preços permaneçam elevados nos próximos dois a três anos, sem sinais de alívio no curto prazo.

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Last Update: 08/02/2025