O preço do algodão caiu à medida que a crescente concorrência entre os maiores produtores do mundo aumenta a oferta, enquanto compradores preocupados com os custos buscam roupas feitas de tecidos mais baratos.
Os contratos futuros do algodão na ICE caíram abaixo de US$ 0,69 por libra neste mês, o menor nível desde outubro de 2020 e menos da metade do pico de 10 anos atingido em maio de 2022.
Os preços foram arrastados para baixo por um forte aumento na produção no Brasil, que recentemente ultrapassou os EUA como o maior exportador de algodão do mundo. O país sul-americano exportou 12,4 milhões de fardos na temporada de colheita de 2023-24, em comparação com 11,8 milhões que saíram dos EUA, de acordo com estimativas do Departamento de Agricultura dos EUA. A Austrália, o terceiro maior exportador do mundo, embarcou 5,8 milhões de fardos.
“Com o Brasil expandindo sua produção, no futuro temos que nos preocupar com a concorrência deles”, disse o Dr. Jody Campiche, vice-presidente de economia e análise de políticas do National Cotton Council of America.
O Brasil aumentou constantemente sua área de algodão na última década, atingindo 1,87 milhões de hectares plantados para a temporada 2023-2024, de acordo com estimativas do USDA, um aumento de 13 por cento em relação ao ano anterior. Os preços baixos do milho — que vêm caindo nos últimos dois anos — levaram os agricultores do estado de Mato Grosso, no Brasil, a plantar algodão em vez de uma segunda safra de milho, de acordo com um relatório do Departamento de Agricultura dos EUA.
“Não temos incentivos ou subsídios, fato que nos pressiona a produzir cada vez mais por hectare”, disse Carlos Alberto Moresco, que administra três fazendas no estado brasileiro de Goiás com uma variedade de culturas, incluindo soja, milho, trigo, tomate, sorgo e algodão.
“O Brasil tem o algodão mais barato do mundo. Produzimos quase 2 toneladas de pluma [algodão processado] por hectare, o que não se ouve falar em nenhum outro lugar”, acrescentou.
A crescente produção do Brasil mais do que compensou o impacto de anos consecutivos de seca nos EUA, que reduziram a produção para 12,5 milhões de fardos em 2023, de 17,5 milhões dois anos antes. Em 2022, o país produziu sua menor colheita em uma década após meses de clima quente e seco forçarem os produtores do Texas, o maior estado produtor, a abandonar 6 milhões de acres de safra.
Embora os preços globais tenham disparado naquele ano, eles caíram desde então, mesmo com a queda da produção nos EUA. Enquanto isso, a demanda global por algodão caiu desde a pandemia do coronavírus, pois a desaceleração econômica e o forte aumento nas taxas de juros pressionaram os consumidores.
Nos últimos anos, os consumidores têm optado cada vez mais por poliéster e outros tecidos artificiais à base de petróleo, que são mais baratos e rápidos de produzir do que o algodão, mas têm um impacto ambiental muito maior.
Alguns no mercado também culpam os fundos de hedge controlados por computador que tentam lucrar se apegando às tendências de mercado, sejam elas de alta ou de baixa, alegando que as vendas desses gestores quantitativos contribuíram para a queda dos preços. “Acredito que uma quantidade absurda de atividade aqui pode ser atribuída aos fundos”, disse Herman Kohlmeyer, corretor de algodão da Michael J Nugent em Nova Orleans.
Diante de preços baixos, altos custos de produção resultantes do aumento dos preços de fertilizantes e outros fatores, e aumento da competição, os fazendeiros americanos estão lutando, embora muitos ainda estejam plantando algodão. “Não há dúvida de que este será um ano infeliz para eles”, disse Kohlmeyer.
China e Índia são os maiores produtores de algodão do mundo, mas a maior parte de sua produção vai para compradores nacionais. As colheitas de algodão do Brasil cresceram significativamente nas últimas duas décadas, refletindo sua emergência como uma potência agrícola. A nação latino-americana é a maior exportadora de soja, suco de laranja, açúcar e café; e no ano passado ultrapassou os EUA como maior exportador de milho, embora não se espere que mantenha o título.
Os ativistas levantaram preocupações sobre o impacto ambiental e social do cultivo de algodão no Brasil. Mas Alexandre Schenkel, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), defendeu o histórico do setor em sustentabilidade. “Hoje, os produtores no Brasil não desmatam para plantar algodão. Há um esforço grande para usar áreas abertas que já foram usadas para outras culturas ou pecuária”, disse ele.
A produção dos EUA foi o fator de oscilação para os preços, Schenkel acrescentou, prevendo que os agricultores americanos teriam melhores resultados na próxima colheita. Os preços também podem ser afetados por colheitas ruins em produtores importantes como Austrália, China, Índia ou Paquistão.
É improvável que os preços se recuperem tão cedo, de acordo com Campiche. Os níveis de colheita nos EUA estavam a caminho de retornar aos níveis de 2021 este ano, enquanto o Brasil e a Austrália também devem produzir grandes safras, disse ela. “Até que tenhamos a demanda mundial por algodão de volta, não teremos os preços subindo novamente”, disse Campiche. “Se vamos ver uma demanda maior por algodão no futuro, vai se resumir a: os consumidores decidirão que querem pagar mais por produtos sustentáveis?”