Abigail Disney, neta de Roy O. Disney – Foto: Reprodução

Abigail Disney, neta de Roy O. Disney, irmão de Walt e um dos fundadores da gigante americana, concedeu uma entrevista à Folha em que compartilhou sua trajetória na filantropia, seu engajamento na luta contra a desigualdade e a defesa da taxação dos super-ricos. Na conversa, ela também comentou sobre a situação do Brasil, apontado como um dos países mais desiguais do mundo, apesar de sua abundância de recursos. Questionada sobre o papel da elite econômica brasileira, afirmou: “Precisamos pensar diferente sobre a forma como os ricos participam da sociedade.”

A sra. virá ao Brasil para um congresso sobre investimento social privado. Qual é sua visão sobre filantropia? Que mensagem quer passar?

Sou uma pessoa que sempre esteve ciente da desigualdade contida no simples fato de eu existir —ou seja, de que a minha existência como alguém com tantas vantagens e recursos é uma prova da injustiça que há no mundo. Isso sempre me incomodou, consumiu meu cérebro e meu coração.

A filantropia foi minha maneira de ser mais feliz com a minha vida. Tudo o que fiz no mundo da filantropia me deu tanta alegria e me trouxe tanto significado que não sei como viveria sem isso. Então, tentarei dizer às pessoas que são como eu que, se elas se sentem incompletas, a peça que falta para se sentirem completas é alcançar outras pessoas, compartilhar suas riquezas com elas e permitir-se ser ensinadas por elas.

O Brasil é um dos países com maior nível de desigualdade no mundo, mas, apesar disso, não temos uma cultura de doação forte. Qual deveria ser o papel da elite econômica em um país como o nosso?

Compartilhar não deveria ser uma escolha para a elite econômica. Quando falo em aumentar impostos sobre os ricos, ouço muitos argumentos de que a filantropia resolverá todos os problemas. A filantropia pode mostrar o caminho, pode convidar as pessoas a participar, pode mudar as coisas de formas muito importantes, mas infelizmente não pode resolver os problemas profundos em países altamente desiguais, como os EUA ou o Brasil.

Roy O. Disney, cofundador da Disney e irmão de Walt Disney, ao lado da neta Abigail Disney em foto de infância – Foto: Reprodução

Precisamos pensar diferente sobre a forma como os ricos participam da sociedade. Precisamos parar de idolatrar os ricos. Precisamos parar de pensar que eles sabem mais e parar de acreditar neles quando dizem que sabem mais.

Eu vivi o suficiente para ver meu país mudar de forma fundamental. Os EUA já foram um lugar muito menos injusto economicamente, mas as desigualdades foram crescendo até se tornar parecido com o Brasil.

Costumava haver um contraste entre nós, mas agora estamos muito próximos e temos muitos dos mesmos problemas: uma elite muito poderosa tomando decisões sobre o governo, sobre as estruturas tributárias e outras estruturas econômicas —e, na América, de forma muito egoísta. Estamos vivendo, nos EUA, um pesadelo que vem sendo construído lentamente há 50 anos. Tem sido como um gigante rolando morro abaixo, destruindo tudo no caminho.

Acho que brasileiros e americanos temos muito o que conversar sobre como desfazer essa estrutura, como unir as pessoas e usar os recursos que estão alinhados com essa visão para descentralizar poder, propagar conhecimento e fazer essas mudanças.

No Brasil, a Câmara dos Deputados rejeitou a inclusão de um imposto sobre fortunas acima de R$ 10 milhões na reforma tributária. Por que esse tipo de medida enfrenta resistência?

Existe um sistema de crenças enraizado de que os ricos devem ser muito ricos. Os EUA difundiram essa crença pelo mundo, que está conectada com o pensamento neoliberal propagado a partir dos anos 1970. Isso inclui a ilusão de que qualquer indivíduo de classe média pode enriquecer se trabalhar duro o bastante e fizer tudo de acordo com as regras.

Escrevi muitos artigos de opinião em jornais defendendo o imposto sobre herança. As mensagens mais raivosas que recebo são de pessoas que não se qualificariam para esse imposto, que não têm dinheiro suficiente para pagá-lo nem nunca terão. Acho incrível isso, mas é que existe essa ideia de que, “se eu algum dia tiver esse dinheiro, não pagarei essa taxa”.

Fomos levados a acreditar que todo imposto é ruim, que é um dinheiro que é tomado de você, que o governo não é confiável para gerir esse dinheiro. Mas é um valor que você paga para a sociedade que torna sua vida possível.(…)

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Last Update: 05/05/2025