Precisamos falar sobre o papel dos EUA no genocídio Palestino
por Samuel Penteado Urban
Os interesses dos EUA na região tem buscado redesenhar o mapa do Oriente Médio como forma de manter e ampliar sua hegemonia, o que tem proporcionado o genocídio do povo Palestino.
Pouco se fala do papel dos Estados Unidos no genocídio Palestino, mesmo que não nos faltem exemplos de como a política externa estadunidense tem promovido conflitos, golpes e genocídios pelo mundo, que só são possíveis por meio de uma política externa de caráter imperialista.
Na verdade, os Estados Unidos só chegaram a ser a principal potência mundial por causa das suas práticas imperialistas, da mesma forma que a Europa só se enriqueceu por meio da pilhagem realizada nos continentes Americano, Africano e Asiático. No entanto, devido às crises do capitalismo e dos efeitos reversos da globalização, os EUA vêm perdendo o papel de principal potência mundial, o que tem ampliado os problemas internos do país.
E em resposta a essa perda de hegemonia, os interesses estadunidenses perpassam pela necessidade de redesenhar o Oriente Médio, que se dá pela questão do comércio de armas e pelo controle das reservas de petróleo, mas também como forma de confrontar a ascensão chinesa. Ascensão essa que é econômica e social, mas é, também, pelo aumento do poderio militar e pela aproximação da China com o Oriente Médio, além de sua já consolidada influência no sudeste asiático.
Acerca da questão bélico-militar, destaca-se a relação entre EUA e Israel, que perpassa pela comercialização de armamentos, bem como pelo apoio financeiro estadunidense para o desenvolvimento bélico-militar de Israel. A exemplo disso, tem-se o anúncio recente do secretário de defesa dos EUA, Peter Brian Hegseth, afirmando que em 2025, o orçamento para esse setor poderá ultrapassar mais de 1 trilhão de dólares.
Em relação ao apoio financeiro, além dos EUA serem o maior fornecedor de armas para Israel, entre os anos de 1946 e 2024, os Estados Unidos foram responsáveis pelos 228 bilhões de dólares que financiaram o desenvolvimento e a produção armamentista em Israel, conforme apresentado em relatório do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri). E isso tornou o estado de Israel o maior receptor da assistência militar dos Estados Unidos em termos cumulativos.
Com isso, Israel garante seu poderio militar adquirindo artefatos e sistemas bélicos, com o intuito de se expandir territorialmente, impondo uma hegemonia regional as custas das atrocidades realizadas contra o povo Palestino. No caso dos Estados Unidos, eles lucram por meio da comercialização armamentista, mas mais do que isso, se postam militarmente na região, de forma direta, ou seja, por meio das suas bases militares, e indireta, por meio de seus representantes regionais, como é o caso de Israel.
Em relação ao controle do petróleo, não podemos esquecer que estamos nos referindo à principal matriz energética do mundo, pois ele é a base da produção industrial do mundo e de extrema importância para o desenvolvimento do poderio bélico e militar.
Nesse sentido, a disputa pela manutenção da hegemonia estadunidense, também tem relação com o petróleo, onde aproximadamente 50% das reservas de petróleo do planeta estão localizadas, incluindo aqui as consideráveis reservas de gás natural e petróleo existentes na Faixa de Gaza e Cisjordânia. A exemplo disso, conforme estimativa apresentada pela Agência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad), somente contabilizando o petróleo existente na Faixa de Gaza, a região possui 122 trilhões de pés cúbicos de gás natural e 1,7 bilhão de barris de petróleo.
Desta forma, seguindo a lógica do imperialismo estadunidense, o controle das reservas de petróleo é essencial para se combater a ascensão da China, pois como se sabe, o país asiático é o principal cliente de petróleo oriundo do Oriente Médio.
Somado a isso, tendo o Oriente Médio uma população que ultrapassa 1 bilhão de habitantes, para a lógica capitalista, esse quantitativo de pessoas é útil para se integrarem na divisão internacional do trabalho, bem como são elas as potenciais consumidoras que poderão manter a expansão do capital através do imperialismo estadunidense.
Portanto, os interesses dos EUA no Oriente Médio tem proporcionado o genocídio do povo Palestino. O interesse mais evidente é o da comercialização e apoio ao desenvolvimento e produção de armamentos. Mas precisamos entender que a questão armamentista tem íntima relação com as pretensões geopolíticas dos Estados Unidos no Oriente Médio, que se ligam a necessidade de controle das reservas de petróleo, para que a ascensão Chinesa seja inviabilizada e os EUA possam gozar da manutenção de seu poderio pelo mundo.
E assim, na busca por não perder a sua hegemonia, conforme publicação do Ministério da Saúde da Palestina, entre os dias 7 de outubro de 2023 e 17 de setembro de 2025, somente contabilizando as mortes de Palestinos na Faixa de Gaza, o número de mortos atingiu a marca de 65.062 pessoas. Em 13 de outubro de 2025, esse número havia subido para 67.869; e em 29 de novembro, esse número atingiu os 70.100 palestinos mortos, com destaque para as mais de 20 mil crianças e mais de 10 mil mulheres que foram mortas pelas forças armadas israelenses em Gaza, com apoio irrestrito da Casa Branca, em termos práticos.
Samuel Penteado Urban – Professor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) e Pesquisador Associado da Coordenadoria de Estudos da Ásia da Universidade Federal de Pernambuco (CEASIA/UFPE). Desde 2013, atua em cooperações internacionais pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil no continente Asiático.
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