Em tempos de enxurrada de fake news, criadas em profusão e espalhadas em velocidade alucinante, é fundamental colocar os pingos nos is para mostrar, com dados irrefutáveis, o que é certo e o que é errado. É o famoso “contra fatos, não há argumentos”. Depois da crise do Pix, em que a mentira da cobrança gerou pânico generalizado nas famílias brasileiras, agora a bola da vez parece ser o preço dos alimentos. E, nesse caso, é deprimente ver a que ponto pode chegar a hipocrisia.
Virou um show de horrores: teve de governador comendo banana com casca a gente fazendo vídeo no mercado, cobrando redução de imposto, mas que, no Congresso, votou contra a isenção de produtos da cesta básica. Teve parlamentar usando boné pedindo “comida mais barata”, mas escondendo que a inflação de alimentos disparou 56,1% no governo anterior, contra 7,6% em 2023–2024. Também não podemos esquecer que houve queda do poder aquisitivo e zero reajuste real do salário mínimo nos quatro anos da gestão passada. Além disso, a maioria dos críticos nega as mudanças climáticas, responsáveis por enchentes e secas que reduzem a produtividade do campo.
E tem mais: boa parte da explicação para a recente alta dos preços de alimentos está em dois erros estratégicos das gestões anteriores: o abandono dos estoques reguladores, geridos pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), e a redução do financiamento da agricultura familiar. Esses foram os pilares das políticas públicas implantadas pelos governos Lula e Dilma Rousseff que tiraram o Brasil do mapa da fome, marco histórico anunciado pela ONU em 2014. A opção por deixar em segundo plano essas políticas resultou no óbvio: o retorno do País ao mapa da miséria.
Acabar novamente com a fome no Brasil é o objetivo central do governo Lula, uma gestão que acredita que não há soberania nacional com insegurança alimentar. Já avançamos muito em dois anos, mas o desafio permanece, pois sempre insisto que a reconstrução é mais lenta do que a destruição. Não é da noite para o dia que se consegue recompor estoques de alimentos. Essa política garante o abastecimento do mercado interno, evita a escassez de produtos e impede que questões externas ou climáticas gerem aumentos abruptos de preços. Ao mesmo tempo, garante ao pequeno produtor um valor mínimo que o protege em caso de oscilações de oferta e demanda.
Acontece que, ao contrário das bravatas espalhadas pela oposição, nosso governo segue atento aos desafios. A começar pela política econômica exitosa, que vem produzindo recorde atrás de recorde na geração de emprego (desemprego com mínima histórica de 6,1%), no aumento da renda da classe trabalhadora (10%) e na quantidade de pessoas ocupadas (110,6 milhões).
Isso significa que tem mais gente no mercado consumidor, o que provoca aumento da demanda por alimentos. Se não fossem os erros estratégicos que impactaram na oferta de produtos e, portanto, nos seus preços, não estaríamos vivendo hoje essa pressão inflacionária.
Felizmente, o retorno à normalidade já começou. A Conab está sendo reestruturada, após o desmonte que fechou 27 de seus 91 armazéns. Embora o governo anterior tenha deixado um mísero orçamento de 2 milhões de reais para a companhia, ainda em 2023 conseguimos mais 10 milhões. Em 2024, foram 15 milhões e, agora em 2025, serão 70 milhões.
O desmonte da Conab pelo governo anterior apostava na lógica de que o “mercado” deveria regular os preços e que a companhia deveria se transformar numa agência de dados a serviço do agronegócio. Agora, o governo Lula ofereceu crédito recorde para a agricultura familiar em 2024, com 76 bilhões de reais. O resultado é a expectativa de uma supersafra em 2025 (aumento de 9,4%), com expansão da área plantada e recuperação da produtividade, em especial de arroz, feijão e milho.
O Programa de Aquisição de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentação Escolar também foram resgatados e turbinados para garantir alimentos de qualidade para as famílias e para a merenda das crianças, além de estimular a produção local. Encontram-se ainda em estudo outras medidas, como o aumento eventual de imposto de importação de alguns produtos e um acordo com o setor de supermercados para uma redução pontual da margem de lucro. Além disso, a queda do dólar, que vai se acomodando em um patamar mais realista, também contribuirá para aliviar a pressão inflacionária.
Seja qual for o caminho, uma coisa é certa: não haverá nenhuma ação radical, como controle, tabelamento ou coisa parecida. É pelo diálogo, análise dos dados, fortalecimento de políticas públicas que já funcionaram e, principalmente, pela vontade política de garantir comida no prato das famílias a preço justo que conseguiremos superar este desafio. Vamos em frente. •
Publicado na edição n° 1350 de CartaCapital, em 26 de fevereiro de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Prato cheio de fake news’