Depois de atravessar um duro período de isolamento, o Brasil hoje reconstrói sua inserção no sistema internacional, apostando no diálogo, na cooperação, na igualdade e na busca de soluções coletivas para desafios globais. Sob o comando do presidente Lula, retomamos nosso protagonismo no mundo.
Este ano, o país ocupa uma dupla posição de destaque: preside o BRICS, composto por 11 países-membros e 9 países-parceiros; e articula o diálogo climático e ambiental no contexto da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, a COP 30, a ser sediada em Belém, no Pará.
O presidente Lula reposicionou o Brasil no sentido de pactuar relações mutuamente benéficas. E, nesse sentido, a cooperação em CT&I é parte de uma política internacional que fortalece a soberania e os interesses nacionais e contribui para a superação de dependências históricas.
A liderança brasileira nesses dois fóruns emerge num cenário de profundas transformações geopolíticas, ambientais e tecnológicas. São tempos de inovações disruptivas, de inteligência artificial, de eventos extremos ambientais. A marcha do desenvolvimento socioeconômico é colocada em xeque mais uma vez, afetando a saúde e a segurança alimentar, com impacto evidente entre os mais pobres e excluídos. Vivemos um momento histórico e desafiador, em que está em jogo a própria sobrevivência do Planeta.
É nesse contexto que a ciência, a tecnologia e a inovação se renovam, como instrumentos capazes de garantir o nosso futuro, diante de duas visões distintas de mundo que, infelizmente, persistem em habitar as nossas relações internacionais: uma unilateral, baseada em autointeresses, excludente e limitante; e outra perspectiva mais ampla, universal, solidária e resolutiva. É essa última visão que partilhamos, considerando que apenas esforços conjuntos e no contexto do multilateralismo serão capazes de frear o curso veloz da destruição global.
Um dos importantes diferenciais da cooperação no BRICS é o seu pragmatismo, no sentido de que o diálogo apenas pode ser considerado frutífero e producente quando os consensos estabelecidos viram ações concretas em benefício comum de nossos povos. Nessa dimensão, foram várias as conquistas nos últimos anos.
A cooperação em ciência, tecnologia e inovação desse agrupamento abarca mais de uma dezena de grupos de trabalho temáticos e já viabilizou o lançamento de seis chamadas conjuntas para projetos de pesquisa e cooperação, envolvendo agências de financiamento dos países-membros. A agenda de CTI do BRICS possibilitou o planejamento e a implementação de missões e projetos conjuntos para os oceanos, ciência dos materiais e fotônica, energias renováveis, computação de alto desempenho, astronomia, biotecnologia e biomedicina.
Realizaremos, neste ano, em Brasília, a 10ª edição do Fórum de Jovens Cientistas do BRICS que, em conjunto com Prêmio Jovem Inovador, possibilita bases para um intercâmbio duradouro entre nossas comunidades científicas. Foram criadas ainda redes de infraestruturas de pesquisa; espaços para permitir a aproximação entre os principais atores dos ecossistemas de inovação; além de fóruns para avançarmos nas melhores práticas em transferência de tecnologia.
O BRICS é um espaço privilegiado de avanço científico e tecnológico, que evidencia transformações na ordem internacional. Conseguimos construir, nesse pacto do Sul Global, os pilares para uma sociedade que respeita as diferenças, coloca as questões de desenvolvimento no centro da agenda e se une para superar desafios, como as mudanças climáticas, a perda da biodiversidade, emergências em saúde, a fome e os impactos de tecnologias emergentes.
A expansão recente do BRICS reforça ainda mais o multilateralismo. A partir dos problemas e respostas dos países em desenvolvimento, o agrupamento fortalece o diálogo e a construção conjunta de soluções baseadas em ciência, tecnologia e inovação, tão fundamentais para alcançarmos um mundo sustentável, justo e inclusivo.
Luciana Santos é a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação