Por uma camisa da cor do Brasil
por Petronio Portella Filho
Discordo dos que defendem a camisa amarela da seleção em nome da tradição. Para início de conversa, a bandeira do Brasil não é só amarela. Ela tem quatro cores: verde, amarelo, azul e branco. A cor predominante é o verde.
O verde simboliza as florestas e a flora brasileira. A cor foi herdada da outrora respeitável casa real de Bragança — hoje uma seita retrógrada e fascista.
O amarelo vem em seguida, cor herdada da casa real de Habsburgo. Simboliza nosso ouro e nossa riqueza. Ocorre, no entanto, que não somos um país rico. A pouca riqueza que temos é um termômetro da nossa desigualdade. Segundo o relatório 2024 da Oxfam, o 1% mais rico detém 63% da riqueza nacional.
Para piorar, a camisa amarela se tornou o uniforme dos golpistas que depredaram as sedes dos Três Poderes. O fato é que a camisa amarela deixou de simbolizar a união nacional através do esporte. Ela hoje simboliza a polarização política e o desprezo pela Democracia.
Vamos às outras cores. O azul da nossa bandeira simboliza o céu e os rios. O branco simboliza a paz. Gosto das duas cores e do que elas simbolizam. Mas o azul já foi apropriado por rivais importantes como Itália, França, Uruguai e Argentina. Entre as cores da bandeira, prefiro o branco, que poderia ser a camisa número 2 da seleção brasileira.
A cor da camisa número 1 da seleção não precisa ser uma das cores da bandeira nacional. As principais seleções de futebol do mundo não usam no uniforme uma cor da respectiva bandeira.
A bandeira da Itália é verde, branca e vermelha — mas a seleção tetracampeã usa a famosa camisa azul, a Azurra.
A Alemanha, outra tetracampeã, tem bandeira preto, vermelho e amarelo, mas usa camisa branca — em um belo uniforme alvinegro.
A Holanda tem bandeira nas cores vermelho, branco e azul, mas usa a famosa camiseta laranja.
A tradicional “celeste” do Uruguai não foi tirada da bandeira nacional, que não tem azul celeste. Quem tem azul celeste na bandeira é a Argentina. Seria a camiseta celeste do Uruguai uma homenagem à bandeira da arquirrival Argentina? Claro que não!
Meu voto é para que a camisa da seleção brasileira seja vermelha, como a madeira do pau-brasil. Ou como a arara vermelha, ave nativa presente em nossas florestas e matas. A arara vermelha é mais bonita do que o canário belga, nosso atual mascote.
O vermelho é também a cor do sangue, do coração e da paixão do torcedor. O inigualável Nelson Rodrigues mostrou em suas crônicas que o mais importante no futebol é a paixão.
O vermelho é a cor da resistência ao fascismo em vários países, inclusive aqui no Brasil.
Na copa de 2026, a camisa da seleção deveria ser vermelha como o nome do nosso país. A palavra Brasil veio de brasa e ela batizou uma madeira vermelho-brasa que só existe no solo brasileiro.
Petronio Portella Filho é economista formado na UnB, com mestrado na Universidade de Minnesota e doutorado na Unicamp. Consultor concursado do Senado Federal, é autor dos livros A Moratória Soberana, Os Sapatos do Espantalho e Mentiras que Contam Sobre a Economia Brasileira.
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