“Ao mesmo tempo que eu acho que devemos ser intransigentes na defesa e no orgulho de carregar os valores que temos, eu acho que a gente tem que ser profundamente e radicalmente generosos com aqueles que não estão na mesma página que a gente (…) Autocrítica é uma coisa que vale a pena fazer, é olhar e pensar “o quanto eu to disputando mesmo ou só demarcando a minha razão?”. Gente, eu não quero ter razão, eu quero mudar o mundo.
Manuella Dávila, na atividade “Como enfrentar o fascismo?” ocorrida na arena da FAFICH
Vivemos tempos difíceis no mundo e no Brasil. O segundo mandato de Trump nos EUA está sendo muito mais reacionário que o primeiro, com perseguição política às universidades, ações autoritárias contra a população Trans e imigrantes, ataques profundos ao meio ambiente, perseguição política e xenofóbica às universidades. Essas não são medidas isoladas, mas fazem parte de um projeto fascista para o mundo, de extermínio daquilo e de todos que não se enquadram na sociedade que a extrema-direita quer produzir a partir de um enfrentamento direto contra a esquerda, as mulheres, as LGBTI+, a negritude, aos povos indígenas, ao sul global. O genocidio que vemos hoje na Palestina é o mais profundo exemplo desse projeto fascista: milhares de pessoas e crianças mortas para promover uma “limpeza étnica” e invadir um território.
No Brasil, não é diferente, mesmo tendo sido derrotados nas eleições de 2022, o bolsonarismo segue se organizando e mobilizando base social em torno de seu projeto. Basta ver que, logo após o ato dos movimentos sociais com a pauta Sem Anistia no dia 30 de março em São Paulo ter reunido mais de 10 mil pessoas (maior ato que já fizemos no ano), a extrema-direita, uma semana depois, reuniu 50 mil pessoas reivindicando anistia para os golpistas. Em Belo Horizonte temos uma câmara de vereadores tomada por fascistas, que só esse ano já aprovaram proibir mulheres trans de competir em eventos esportivos na cidade, dia de incentivo à contracepção natural e uso da bíblia nas escolas. O governador Zema, que venceu com mais de 60% no primeiro turno nas últimas eleições e é um dos governadores com maior popularidade do país, se aliou completamente a Bolsonaro, está entregando nosso estado para as mineradoras e quer vender as universidades estaduais.
Eles querem voltar ao poder através das eleições em 2026, e não podemos nos enganar, caso consigam, assim como Trump, irão intensificar um projeto fascista no Brasil.
Saber onde pisamos para fazer semear luta
Alguns setores da esquerda tendem a subestimar as forças da extrema-direita para justificar sua política. Tanto aqueles que acham que estamos em uma condição super favorável, logo, basta nossa vontade de lutar, que tudo irá se resolver. Quanto aqueles que acham que não é preciso disputar ideologicamente a sociedade e basta continuarmos em uma governabilidade buscando acordos com o centrão.
Nós achamos que reconhecer a gravidade do momento que vivemos, isto é, reconhecer que a extrema-direita está ganhando na disputa da sociedade e que a esquerda de conjunto está com dificuldade de conseguir mobilizar, se faz necessário para pensarmos quais nossas tarefas e por onde deve passar nosso projeto. Nesse sentido, não temos dúvida que a tarefa da esquerda é focar em ganhar a maioria da sociedade para nossas pautas, acumular forças e buscar construir processos de organização popular e mobilização social que efetivamente possam produzir mudanças progressivas na nossa realidade concreta.
A proposta unificada de todos os principais movimentos sociais do país, de realização de um plebiscito popular que está buscando desde já, através de uma campanha pela taxação das grandes fortunas e pelo fim da escala 6×1, fazer avançar a consciência da sociedade e jogar a contradição de ser contra essas pautas para a extrema-direita, culminando em uma ampla coleta de votos em setembro, será fundamental nesse sentido. Ganhar a sociedade passa por apresentarmos pautas que conversem com a realidade cotidiana dos trabalhadores, com diálogo e paciência, demonstrando que é a esquerda que pode apresentar uma verdadeira saída para transformação das nossas vidas.
Outro exemplo é o surgimento do MEL, Movimento Mulheres em Luta, que parte da ideia de que são as mulheres a linha de frente no enfrentamento à extrema-direita, e pretende organizá-las na política para fazer embates diretos e disputa ideológica na sociedade. Além de organizar uma rede de mulheres parlamentares para apresentar projetos de lei em todas as casas legislativas do Brasil, de forma articulada, assim como o bolsonarismo vem fazendo. O MEL teve seu primeiro encontro nacional de fundação em abril e terá um encontro estadual em Minas Gerais em agosto.
Governo Lula: entre o apoio e a crítica
A vitória de Lula em 2022 foi um freio para o projeto bolsonarista e, embora com uma diferença de apenas 2 milhões de votos, demonstrou que a maioria dos trabalhadores brasileiros ansiavam por mudanças populares. De lá para cá, ficaram evidentes as dificuldades para o governo: um congresso nacional reacionário dirigido pela direita, com um peso grande da extrema-direita e um mercado financeiro que sempre exige uma política orçamentária neoliberal, ligada aos interesses da Faria Lima.
Também temos o fato de que as condições de vitória se deram pela formação de uma Frente Ampla, que foi importante para vencer as eleições, mas traz profundas contradições a medida que o governo é formado também por setores de direita.
No entanto, a estratégia utilizada pelo governo acaba por aprofundar essas dificuldades e se demonstra completamente equivocada para o enfrentamento à extrema direita. Ao se pautar prioritariamente pelos setores de direita da Frente Ampla, pelas relações com o centrão e ceder às pressões da Faria Lima, o governo se descompromete com seu programa eleito em 2022 e deixa uma enorme abertura para o bolsonarismo disputar a sociedade. Ajustes fiscais, como o Arcabouço Fiscal, cortes em investimentos sociais, combinado ao fato de que o governo ainda não foi capaz de impor uma agenda política progressiva, com excessão da proposta de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até 5 mil reais por mês – que deve ser muito defendida por nós – são alguns dos fatores importantes que demonstram o erro de sua estratégia. Não estamos mais nos primeiros governos do PT, onde a política de governabilidade alicerçada em uma unidade com o centrão, era suficiente para a estratégia petista de manter a estabilidade política no país. Os tempos são outros! O fascismo cresce no mundo. É necessário enfrentá-lo de frente ou seremos derrotados.
Nesses marcos, vivemos uma situação contraditória, por um lado a oposição de extrema-direita ao governo é muito forte e é quem tem capacidade política de gerar instabilidade no país, por outro, a própria estratégia do governo tem limites para o enfrentamento à extrema-direita. Diante disso, qual é a resposta? Em primeiro lugar, rechaçamos qualquer linha política que se hierarquize por ser oposição ao governo. Políticas assim, neste momento, só servem para desgastar o governo frente ao bolsonarismo que é o único setor político da sociedade com condições de capitalizar esse enfraquecimento. Essa politica já foi testada em outros momentos da história recente do país, como na época do golpe contra Dilma e da Lava Jato, onde setores da esquerda, se hierarquizando abstratamente pela necessidade de superação do PT, tentaram se aproveitar da onda de direita, que pouco tempo depois resultou em Bolsonaro vencendo as eleições em 2018.
Portanto, o papel dos movimentos sociais deve ser o de independência, para politicamente defender as medidas progressivas de Lula, como a isenção do IR, e também defender o governo contra os ataques do bolsonarismo e qualquer tentativa de desestabilização. Mas independência também para criticar as medidas regressivas e exigir que o governo não pode se pautar pela pressão do centrão e do mercado financeiro. E, acima de tudo, o principal papel que os movimentos sociais podem cumprir no país hoje é o de fazer a disputa ideológica contra a extrema-direita, para que seja possível, nos marcos de uma mobilização antifascista, construir um novo projeto de esquerda, radical, que vá a fundo em um programa de transformações estruturais no Brasil.
O Movimento Estudantil pode mais! E é o que queremos!
Compreender a realidade que estamos imersos também passa por reconhecermos que tudo isso tem impacto direto na universidade, no movimento estudantil e na vida cotidiana dos estudantes. Não vivemos em uma bolha, como às vezes parte dos debates trazidos por setores do Movimento Estudantil faz parecer, pelo contrário, cada vez mais o que acontece entre nós no meio universitário tem a ver com o que vivemos fora dele. Estudantes que trabalham na exaustiva jornada 6×1; nossas famílias polarizadas pela disputa esquerda versus extrema-direita; cada vez menos uma universidade com vivência para além dos estudos, como as festas e atividades culturais; o individualismo e o empreendedorismo como resposta para nosso futuro; e mesmo as conquistas internas sempre são atacadas externamente, como o exemplo das Cotas Trans na Unicamp que, após aprovada, a universidade foi atacada, o que também pode ocorrer na UFMG.
Esse, para além do ainda presente impacto da pandemia em como vivemos a universidade, é um dos motivos pelo qual vemos a dificuldade em mobilizar o conjunto dos estudantes para as pautas políticas que são tão urgentes. A última grande luta protagonizada pelo Movimento Estudantil foi o Tsunami da Educação em 2019, parte dos estudantes de hoje nem viveram esse processo.
Acreditamos que a tarefa das organizações que atuam no Movimento Estudantil é, em primeiro lugar, ter a humildade para reconhecer que, antes de querermos ser donos da razão nas disputas políticas que fazemos uns contras os outros, precisamos ganhar os estudantes para acreditarem que é possível se mobilizar e conseguir conquistas. Sem isso, sem o conjunto dos estudantes engajados na política, não há ato organizado por poucos que será suficiente.
Esse é o papel que o Afronte! de norte a sul do país tem discutido como central para cumprirmos no próximo período. Queremos aproveitar as eleições do CONUNE, e o próprio congresso em si, para buscar ganhar os estudantes para aquilo que colocamos como as tarefas da nossa geração: o enfrentamento à extrema-direita e a necessidade de disputarmos ideologicamente a sociedade para um projeto de esquerda.
Pra isso, é fundamental apresentarmos políticas que dialoguem com os estudantes e não só com um setor do movimento. Ser a esquerda da esquerda da esquerda e uma oposição que mais critica do que propõem, não nos levará a lugar nenhum.
E é nesses marcos que entramos no debate sobre a União Nacional dos Estudantes (UNE) e o papel que ela pode cumprir. Historicamente, a UNE esteve na linha de frente de importantes lutas políticas no Brasil. Desde a campanha “O Petróleo é Nosso”, passando pela resistência à ditadura militar e pelo movimento das Diretas Já, a entidade sempre foi protagonista na defesa da democracia e dos direitos do povo. Mais recentemente, a UNE teve papel fundamental na resistência à extrema-direita. Organizou os grandes “Tsunamis da Educação”, esteve presente na campanha nacional “Fora Bolsonaro” e, nos últimos anos, tem atuado contra os ajustes fiscais do governo. Em unidade com as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, também foi parte ativa na construção dos atos por punição aos golpistas do 8 de janeiro reafirmando a bandeira “Sem Anistia”. Além disso, articulou o ME nas universidades privadas e conquistou o Marco Regulatório do EAD, corrigindo parte dos retrocessos que a pandemia e os tubarões da educação deixaram.
Ou seja, a UNE cumpriu um papel e deve continuar nesse caminho, de ser central na disputa política do país. Por isso, queremos fazer a fundo o debate de quais as tarefas que a entidade deve imprimir ao conjunto do movimento estudantil e como expressá-las na base de cada universidade.
Mas antes, é preciso resgatar um histórico. Anteriormente ao golpe contra a Dilma, se dividiam dentro da UNE duas políticas principais, de um lado aqueles que se hierarquizavam pela oposição aos governos do PT e do outro aqueles que defendiam o governo. Hoje, alguns anos depois, podemos constatar que a realidade mudou e a própria UNE, também. Quem protagoniza a oposição ao governo é a extrema-direita e a UNE, como nunca antes tinha feito, votou sua independência perante ao governo no CONUNE de 2023. Independência que se expressa nos posicionamentos da entidade frente às várias medidas regressivas do governo, em especial as econômicas que cortam verba da educação. Tendo respondido com agilidade e convocado mobilizações com o conjunto dos estudantes por todo o país para o 29M, dia de paralisação nacional contra o decreto 12448, por nenhum centavo a menos! recomposição orçamentária já!
Com uma realidade e uma UNE diferente é preciso ter a coragem de dizer que o que parte do movimento estudantil fazia antes, já não serve mais. E o que hoje pensamos que deve ser feito? Em primeiro lugar, reconhecer que nossos inimigos são grandes e estão a nossa frente, por isso, toda a unidade possível dentro do movimento estudantil se faz necessária para enfrentá-los.
No entanto, movimentos que compõem a antiga oposição de esquerda, negam a unidade e respondem que na UNE existe hoje um “setor imobilista”. Achamos curiosa essa afirmação, visto que, nos últimos principais processos de mobilização, a UNE esteve a favor e presente, é linha de frente na luta por “Sem Anistia para os golpistas” e na construção do plebiscito popular, inclusive tendo feito uma ação em Brasília exigindo a taxação das grandes fortunas para investir em educação. Na verdade, são esses mesmos movimentos que falam de um “setor imobilista” que não construíram com força os atos do dia 30 pelo “Sem Anistia” e estão fora da construção do plebiscito, todas ações unitárias entre os movimentos sociais. Portanto, o debate de quem está mais na luta ou não, não parece ser a real resposta para negar a unidade. Nos parece que o tema central é “qual tipo e o conteúdo das lutas a se fazerem?”.
Nesse sentido, entendemos que existe uma diferença política de fundo. Mesmo a realidade tendo mudado, a UNE votado sua independência frente ao governo Lula, e quem capitaliza o enfraquecimento do governo ser o bolsonarismo, esses setores continuam defendendo uma política de oposição ao governo Lula dentro da UNE, que concretamente é defender que a entidade se hierarquize pela luta contra o governo e não contra a extrema-direita. Nós do Afronte! não compactuamos com essa ideia.
Por isso, achamos que o mais produtivo é debater quais são as pautas centrais que a entidade deve tocar no próximo período. Queremos usar do processo da tiragem de delegados para debater isso e durante o CONUNE, chamar a unidade de todos aqueles que concordem com essas pautas, buscando fortalecer as nossas lutas. Aqui, colocamos algumas ideias iniciais:
- A luta contra a extrema-direita é a luta da nossa geração. Essa deve ser a prioridade da UNE;
- A estratégia utilizada pelo governo Lula é equivocada para o enfrentamento ao bolsonarismo. A extrema-direita só será derrotada com luta ideológica e mobilização social. Por isso a UNE deve reafirmar sua independência frente ao governo e ter uma estratégia de mobilização do Movimento Estudantil;
- Temos ferramentas centrais nessa disputa: construção do Plebiscito Popular pela taxação das grandes fortunas e pelo fim da jornada 6×1; luta pelas Cotas Trans; Nenhum centavo a menos! Recomposição orçamentária já!; etc. No entanto, ainda precisamos conectar essas tarefas à base do Movimento Estudantil, por isso a principal ação da entidade, e isso significa dos movimentos que a constroem, deve ser de ir para a base das universidades construir todos esses processos em conjunto com os estudantes.
O Movimento Estudantil da UFMG merece mais! E nossa história prova!
No último período vivemos um episódio lastimável na história do Movimento Estudantil da UFMG. A tentativa de superfaturar uma nota fiscal em 2000 reais pelo Movimento Correnteza implodiu a gestão do DCE. Como já elaboramos detalhadamente em outros documentos, nosso compromisso nesse processo foi apostar no Conselho de Entidades de Base como espaço de controle social para responsabilizar quem tenta fazer mal uso do patrimônio estudantil. Além disso, elegemos um Conselho Fiscal para apurar as contas da entidade, que já emitiu parecer favorável da lisura e transparência nas finanças do DCE. Mas não é disso que queremos tratar com centralidade neste texto.
Construímos com muita dedicação e cuidado as entidades estudantis porque são ferramentas de transformar a realidade que vivemos. Porque quando construímos com democracia, transparência e criatividade política, cada estudante passa a se ver nesse espaço e a partir das questões do cotidiano, passa a se reconhecer como parte do movimento estudantil. Certamente, há muito o que avançar, nisso queremos nos debruçar nesse processo eleitoral.
Nos últimos anos, a atuação do Afronte! no DCE da UFMG, em unidade com os CAs, DAs, Coletivos e Grêmios conquistou importantes vitórias. Pela primeira vez em décadas, a representação estudantil passou a votar nos espaços deliberativos da UFMG. E pela primeira vez em 10 anos, o DCE da UFMG se tornou uma entidade regularizada.
Fomos articuladores da luta vitoriosa pelas bancas de heteroidentificação e pelo avanço nas cotas para professores. O DCE que teve sua primeira Coordenadora Geral trans da história e a primeira diretoria indígena, está prestes a conquistar mais!
Durante a pandemia, articulamos um movimento estudantil na UFMG referência para o país, reunimos permanentemente com os CAs e DAs e conquistamos muitos direitos na construção das alterações acadêmicas emergenciais e na reconstrução das políticas de permanência.
Há 10 anos o Bandejão da UFMG não aumenta para os estudantes e isso foi fruto de MUITA LUTA DO DCE! Barramos inúmeras tentativas da reitoria de aumentar o preço do Restaurante Universitário, protegendo a permanência estudantil em um contexto de graves ataques à educação pública. Graças a mobilização na Reitoria e atuação da representação estudantil, implodimos o Conselho Universitário que aprovaria o Código de Punição Estudantil, que ameaçava criminalizar o movimento estudantil e dava poderes de perseguição política à Reitoria.
Construímos os gigantescos Tsunamis da Educação contra os cortes de Bolsonaro, articulamos em unidade a Campanha Fora Bolsonaro em defesa da vida, da vacina e da educação. Fizemos vira voto e disputa ideológica, na universidade e na cidade, para eleger Lula contra o fascismo.
Além de ter construído com centralidade a greve de 2024, após seu fim, foi o DCE que conquistou a flexibilização das normas acadêmicas, para que nenhum estudante fosse prejudicado. Hoje em dia, o estudante que é desligado sabe que no DCE encontrará todo apoio, e assim temos revertido mais de 90% dos desligamentos.
Construímos uma linda calourada no CEU em 2022, provando que é possível organizar role com protagonismo da cultura periférica, com segurança, combate às opressões e redução de danos. Mesmo com nossa coordenadora geral sendo processada pela Reitoria, seguimos fortalecendo as festas e roles culturais nos campi, assim como nossa assessoria jurídica prontamente defendeu cada estudante processado por ocupar culturalmente a UFMG.
Recuperar um pedacinho dessa história e legado nos prova que a luta coletiva pode muito! Mas também nos traz a certeza que os tempos mudaram e o movimento estudantil também.
A quem interessa a despolitização e o uso de opressões no Movimento Estudantil?
Precisamos reconhecer que enfrentamos uma grave crise de pertencimento e de desconexão entre o Movimento Estudantil da UFMG e a maior parte dos estudantes. O esvaziamento das atividades, a baixa participação nos fóruns coletivos e a dificuldade de engajamento não podem ser ignorados. Isso é resultado dos efeitos da pandemia, do avanço do individualismo, da precarização da vida e dos sucessivos ataques à educação pública.
Mas, acima de tudo, não podemos deixar de fazer uma autocrítica, que todas as organizações políticas deveriam se sentir obrigadas a reconhecer: o ME se transformou, muitas vezes, numa disputa despolitizada e fratricida entre organizações, que se preocupam mais com os resultados eleitorais do que com o trabalho de base e com o diálogo real com a base estudantil. Além disso, há grupos que priorizam pautas que não dialogam com a realidade concreta da maioria dos estudantes, o que afasta ainda mais o ME da base.
Há, ainda, um fenômeno de maior gravidade. O elemento mais progressivo nas últimas décadas foi o avanço nas formas de organização, no debate público e na consciência da população diante das vitórias do movimento feminista, LGBTI+, negro, indígena, PCD. A extrema direita nos elegeu como inimigos porque percebeu a força dessas lutas para mudar a sociedade. A reação fascista fez retroceder na sociedade e nas universidades acúmulos fundamentais dos movimentos estudantis e sociais. Infelizmente, ao invés do movimento estudantil buscar se unificar contra esses retrocessos, há setores dentro do movimento, de esquerda, que se aproveitam perversamente desse cenário.
E fazem isso sem qualquer responsabilidade política: no último processo eleitoral do DA FAFICH O último lugar que os estudantes da FAFICH queriam passar nos dias de votação era perto da urna. A chapa do Correnteza e Juntos utilizou de métodos autoritários, assédio moral, práticas machistas e racistas para tumultuar a votação e, em especial, impedir os estudantes do noturno de votarem.
Quem aposta na destruição do Movimento Estudantil, na coação, na gritaria e na violência política para “vencer” uma eleição, não está construindo um ME mais democrático, está aprofundando sua crise e fragilidade. Se vale tudo — até assédio e opressão — para ganhar, quem perde são os estudantes e suas entidades de representação.
Qual Movimento Estudantil da UFMG queremos construir?
Queremos um Movimento Estudantil que siga sendo conduzido e construído por quem historicamente foi excluído da política: mulheres, pessoas negras, LGBTI+, pessoas com deficiência e das camadas populares. Que siga educando politicamente, como já fez, uma geração inteira que aprendeu que não se vaia mulheres negras em assembleias, que a voz das mulheres, das pessoas trans e das pessoas racializadas deve ser respeitada, porque foi eleita pelos estudantes.
Essa é a democracia real que acreditamos e que defendemos: aquela que se constroi no cotidiano, com trabalho de base, com formação política, com cultura, com convivência, com ética.
Queremos um DCE que seja instrumento de unidade do movimento estudantil, e não de fragmentação. Um DCE que tenha clareza de que nossa principal tarefa histórica, enquanto geração, é o combate à extrema direita, que segue organizada, com força social e institucional, e que ameaça tanto a universidade pública quanto as liberdades democráticas no Brasil.
Só com unidade, clareza política e capacidade de organização conseguiremos enfrentar esses desafios, disputar os rumos da UFMG e fazer do movimento estudantil uma força social potente, enraizada no cotidiano, mobilizadora e transformadora.
A UFMG pode mais! O Movimento Estudantil também!
Convidamos cada estudante da UFMG que se vê representade e quer dialogar com essas ideias a se somar nesse processo de construção por uma chapa de DCE e CONUNE que produza na prática a transformação que a nossa geração precisa:
Cotas Trans Já!
Junto da Coletiva Cintura Fina, o DCE — que teve desde a Gestão Esperançar (2021) sua primeira Coordenadora Geral Trans — pode conquistar esse ano COTAS TRANS NA UFMG. Os nossos passos vêm de longe e não param por aqui.
A proposta de Resolução que institui as Cotas Trans será pautada nesse semestre no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão e, depois, para o Conselho Universitário.
É hora de construir o calendário de mobilização que vai arrancar essa vitória fundamental para a UFMG, ampliando as condições de permanência das pessoas trans na universidade e enviando um recado claro à extrema-direita: O Movimento Estudantil tem lado — e é o das LGBTI+!
Recomposição orçamentária JÁ! Educação fora do arcabouço fiscal!
O governo federal voltou atrás e retirou a educação do Decreto 12.448, que fracionava o repasse federal para as universidades, além de ter anunciado uma recomposição orçamentária de R$700 milhões para as universidades e institutos federais.
No entanto, isso ainda é muito insuficiente frente ao déficit superior a R$2 Bilhões que ameaça a manutenção de atividades básicas nas instituições de ensino superior e as políticas de permanência estudantil. O arcabouço fiscal é uma política econômica que impede os investimentos necessários na educação, é urgente o governo rever essa política!
Seguimos lutando:
- Por mais recursos para assistência estudantil, permanência, pesquisa e extensão;
- Pela valorização da educação pública;
- Por um financiamento que assegure universidades e institutos federais fortes, gratuitos e de qualidade.
Segurança Alimentar JÁ!
- Nossa luta é por uma política de alimentação universitária digna e acessível:
- Funcionamento do bandejão aos fins de semana;
- Ampliação dos horários de atendimento no noturno;
- Cantinas populares e acessíveis para toda a comunidade acadêmica.
- Pela ampliação da gratuidade pros Níveis II e III da FUMP
- O Programa de Alimentação Saudável na Educação Superior precisa ser permanente, estruturado e com recursos próprios!
Por mais festas, rolês culturais e espaços de convivência!
Estamos quase conquistando a aprovação da Resolução que permite a realização de festas na UFMG, após alguns anos de perseguição política da reitoria com processos administrativos a quem ousa defender a alegria nos campi.
Quando as entidades estudantes organizam, o rolê é limpo, sem opressões, seguro, politizado e com redução de danos!
Busão 0800: transporte público gratuito para toda a população de BH!
Estamos na luta pelo avanço do projeto de lei Buzão 0800, de autoria da vereadora Iza Lourença, que propõe a gratuidade universal do transporte público em Belo Horizonte. Na UFMG, sabemos bem o quanto o alto custo da tarifa afasta estudantes da universidade e restringe o acesso a serviços, lazer e cultura. Por isso, essa luta também é nossa! Foi o movimento estudantil em BH que conquistou o meio passe estudantil, nunca fomos tão longe na luta por Tarifa Zero em BH!
Estudantes e técnicos também querem decidir: Paridade Já!
Atualmente na UFMG os professores, que são a menor categoria numérica, detém 70% dos votos para Reitoria e nos espaços de decisão. A eleição da Reitoria ta chegando e é hora da UFMG fazer como a UFRGS e aprovar paridade JÁ!