Por R$ 600, moradores da periferia são atraídos por ‘venda de íris’; governo proíbe

Movimento em ponto de cadastramento da íris em Cidade Líder, no extremo da Zona Leste de São Paulo, na penúltima semana de dezembro de 2024. Foto: Victor Hugo Silva/g1

Um projeto chamado World, que propunha a coleta da íris de voluntários como uma espécie de “impressão digital” mais avançada, atraiu muita atenção em São Paulo nos últimos meses. Isso ocorreu, principalmente, porque a iniciativa oferecia cerca de R$ 600 em criptomoedas aos participantes, valor que despertou o interesse de moradores de diversos bairros de renda mais baixa.

A expansão das atividades não demorou para chegar a regiões como Brasilândia, Cidade Dutra e Cidade Líder. “Fiquei sabendo pelos meus amigos, que divulgaram um aplicativo que estava dando dinheiro. Eu questionei: ‘De graça, assim?’ e confirmaram, ‘De graça’. Eu vim pelo dinheiro mesmo. Estou duro. Mas nada é de graça, né?”, disse Alex Rodrigo, de 38 anos, que se inscreveu em dezembro.

No entanto, no último dia 24, a Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD) determinou a suspensão do pagamento, alegando que a prática “pode interferir na livre manifestação de vontade dos indivíduos”. Segundo o órgão, esse risco se torna ainda maior quando se trata de pessoas em situação de vulnerabilidade financeira.

Desde que o projeto chegou às periferias, o número de registros disparou. Porém, muitas pessoas não compreendiam exatamente como seus dados seriam utilizados. “Eles exibem dois vídeos e colocam seu olho no aparelho que eu também não sei o que significa. Eu vou procurar entender, porque foi do nada [que eu vim escanear]. Até agora eu estou viajando”, afirmou Josinaldo Diniz, de 46 anos.

Especialistas em direito digital e tecnologia ouvidos pelo g1 questionam a transparência do projeto. Eles alertam que termos de uso complexos, aliados à falta de esclarecimentos efetivos, podem levar usuários a autorizarem o compartilhamento de dados sem entender as consequências. Para a ANPD, esse tipo de coleta pode ferir a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

A World, por sua vez, argumenta que as fotos são convertidas em códigos criptografados e fracionados, que seriam armazenados em diferentes servidores, afastando riscos de identificação. Entretanto, com a determinação da ANPD de proibir a remuneração, a iniciativa deve enfrentar desafios para manter suas operações e seguir expandindo para outras regiões do Brasil.

Conheça as redes sociais do DCM:

Facebook: https://www.facebook.com/diariodocentrodomundo

🟣Threads: https://www.threads.net/@dcm_on_line

Artigo Anterior

No Rio, exposição relembra os horrores da ditadura militar

Próximo Artigo

Secretário de Trump avisa que não EUA não apoiam independência de Taiwan

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter por e-mail para receber as últimas publicações diretamente na sua caixa de entrada.
Não enviaremos spam!