A decisão do senador Flávio Bolsonaro (PL) de entrar na corrida presidencial atrapalha uma eventual candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos). O tamanho do presidente Lula (PT) nas pesquisas permite que a oposição tenha somente um concorrente competitivo. Para o PT e integrantes do governo, é preferível enfrentar o governador de São Paulo, apesar de este sair-se melhor do que o filho do ex-presidente em certos levantamentos e ter potencial para angariar mais apoios.
Tarcísio candidato contra Lula “abre a possibilidade de o PT ganhar o estado de São Paulo em uma coligação”, diz Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário. Uma coligação que poderia ser encabeçada pelo petista Fernando Haddad, ministro da Fazenda, ou pelo pessebista Geraldo Alckmin, vice de Lula.
“Por isso o Tarcísio vai raciocinar até o último momento se vai se licenciar do governo e arriscar o que hoje é a fortaleza deles”, prossegue Teixeira. Por “fortaleza”, entenda-se o maior eleitorado do País.
O Diretório Nacional do PT reuniu-se depois de Flávio declarar-se presidenciável e analisou o quadro político. O documento divulgado após o encontro não cita o senador, mas menciona Tarcísio. Este é descrito como “principal interlocutor do projeto neoliberal e privatista, transformando São Paulo em laboratório da redução radical do papel do Estado, da entrega de bens públicos e do enfrentamento ideológico ao governo federal”.
“O Tarcísio faz questão de se caracterizar como o herdeiro da ultradireita”, afirma Edinho Silva, o comandante petista.
Segundo uma autoridade do Palácio do Planalto, o governador encaixa-se melhor nos planos de Lula e do PT para a futura campanha. Por estes planos, o presidente será o candidato do povão contra os poderosos e a elite.
Em entrevista recente a CartaCapital, o secretário-geral da Presidência, Guilherme Boulos, deu uma declaração que ajuda a entender esse cenário. “O candidato da direita e do sistema será Tarcísio de Freitas, é o candidato da Faria Lima, dos bancos, das fintechs, das bets, do bolsonarismo”.
De acordo com outro ministro, caso Tarcísio concorra, “não vai ter um empresário sequer apoiando o presidente”.
A alta do dólar e a queda da bolsa no dia que Flávio anunciou que concorrerá expuseram os sentimentos do mercado financeiro e do PIB: frustração com a dificuldade criada para fazer vingar uma chapa com Tarcísio à frente.
“O Flávio colocou a candidatura dele porque impede uma unidade da direita”, diz Paulo Teixeira. “E, ao impedir essa unidade, ele exige em contrapartida a anistia do pai. Se houvesse anistia, o candidato seria o Jair Bolsonaro.”
Em uma reunião três dias depois de Flávio entrar no páreo, os chefes do PL, Valdemar Costa Neto, do PP, Ciro Nogueira, e do União Brasil, Antonio Rueda, combinaram: apoiariam a votação de uma lei de redução de pena para golpistas. A lei foi de fato aprovada pelos deputados e seguiu para o Senado.
Após o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), anunciar a votação, ministros petistas conversaram e, com base em informações de bastidor do Congresso, convenceram-se de que se ensaia um acordo na oposição para que Tarcísio seja o candidato e Flávio, o vice.