Em artigo publicado em 26 de junho de 2025, em seu Substack, Arnaud Bertrand critica as posições de John Mearsheimer sobre a China.
Bertrand identifica uma inconsistência na abordagem de Mearsheimer, que critica a expansão da OTAN por provocar a Rússia e causar a guerra na Ucrânia, mas defende ações similares na Ásia para “conter” a China.
Mearsheimer justifica essa posição através de sua teoria do “realismo ofensivo”. Ele argumenta que a China é um competidor par dos EUA e uma ameaça à hegemonia regional asiática, enquanto a Rússia seria uma potência fraca que não representa ameaça real à dominação europeia.
Para ele, os EUA devem focar seus esforços de contenção em rivais genuínos, evitando provocações desnecessárias a estados mais fracos.
Bertrand contesta essa lógica através de quatro argumentos principais:
- Contradição Fundamental: Mearsheimer promove aquilo que condena. Ele critica o comportamento americano no cenário mundial – desde a expansão da OTAN até o apoio ao que chama de genocídio em Gaza – mas defende a maximização do poder americano contra a China. As posições chinesas sobre Ucrânia, Gaza e Irã estão alinhadas com as próprias críticas de Mearsheimer às políticas americanas.
- Falta de Realismo: Mearsheimer ignora que os EUA não estão contendo a China. Dados mostram que a marinha chinesa superou a americana em número de navios desde 2015, enquanto a frota americana permaneceu estagnada. No Sudeste Asiático, apenas as Filipinas mantêm maior alinhamento com os EUA do que com a China, e mesmo assim tem se movido em direção à China.
- Padrão de Previsões: As previsões mais precisas de Mearsheimer ocorrem quando os EUA fazem o oposto do que sua teoria recomenda – desperdiçam recursos em conflitos periféricos em vez de focar no rival principal. Por que esperar que os EUA sigam a lógica realista ofensiva com a China quando historicamente fazem o contrário?
- Pressuposições sobre a China: Mearsheimer assume que a China se comportará como potências ocidentais em ascensão, mas a evidência histórica sugere o contrário. Diferentemente dos EUA sob Theodore Roosevelt, que foram agressivamente expansionistas, a China evita intervenções militares e busca expansão econômica. Durante 1.800 dos últimos 2.000 anos, quando foi a maior potência regional, a China priorizou estabilidade e influência cultural sobre conquista territorial.
Bertrand conclui que as contradições de Mearsheimer revelam que os métodos tradicionais de manutenção da hegemonia – intervenção militar, diplomacia coercitiva – produzem retornos decrescentes.
A ascensão da China baseia-se em rejeitar esse modelo, construindo influência através de integração econômica e desenvolvimento institucional. O mundo que Mearsheimer parece preferir – onde grandes potências exercem contenção estratégica e evitam intervenções custosas – pode surgir não seguindo suas prescrições realistas ofensivas, mas em oposição a elas.
Leia a íntegra do artigo no substack do Bertrand.